Jantar oferecido aos Chefes de Estado e de Governo participantes na VIII Cimeira Ibero-Americana

Porto
17 de Outubro de 1998


Em nome do Povo Português e em meu próprio nome, quero exprimir a Vossas Excelências e às Delegações que vos acompanham as mais cordiais saudações de boas vindas e sublinhar quanto nos honra e gratifica acolher-vos nesta bela cidade do Porto, capital europeia de cultura do ano 2001 e património da Humanidade, e agora orgulhosa e feliz anfitriã deste nosso encontro. Cidade que, pela sua longa história de coragem, patriotismo e amor à liberdade, ostenta o merecido titulo de " mui nobre, sempre leal e invicta" e que, com a sua vizinha Gaia, está na própria origem do nome de Portugal. Cidade onde, em 1394, nasceu o Infante D. Henrique, genial iniciador da gesta dos navegadores portugueses, verdadeiros precursores da visão global que hoje temos da Humanidade e do Mundo. Cidade laboriosa que, com entusiasmo e afinco, trabalhou na preparação da VIII Cimeira Ibero Americana, e que, estou certo, irá uma vez mais corroborar os seus nunca desmentidos pergaminhos de calor humano e de franca hospitalidade.
Excelências
1998 foi um ano fértil em acontecimentos carregados do mais profundo significado e simbolismo para o meu pais. Desde logo a Expo'98, integrada nas comemorações do V centenário de um momento alto da História Universal, a chegada de Vasco da Gama à Índia. Depois, a confirmação da entrada de Portugal na terceira fase da união Económica e Monetária que, com o lançamento do Euro, marcou o inicio de um novo ciclo do processo de construção europeia. De seguida, a realização, em Cabo Verde, da 2ª Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que veio definitivamente confirmar a vitalidade daquela instituição que congrega os sete Estados lusófonos em terras de África, da América e da Europa. E, finalmente, esta VIII Cimeira Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo que irá seguramente testemunhar o nosso colectivo empenho em fortalecermos cada vez mais a nossa Comunidade de mais de seiscentos milhões de seres humanos que se exprimem, pensam e sonham em castelhano e português.
Constituindo um acto político da mais alta relevância, as Cimeiras Ibero Americanas como que simbolizam o grande encontro que teve lugar há meio milénio entre os Povos, Culturas e Civilizações dos nossos dois continentes. Um encontro que, tanto nas suas luzes,, como nas suas sombras, moldou definitivamente a nossa identidade em ambos os lados do oceano que partilhamos. Com efeito, ao atravessar o Mar a partir desta sua jangada de pedra, os mareantes das duas matrizes ibéricas deram ao Homem uma nova visão de si próprio e do Universo que o rodeia, já que o Mar - como um dia escreveu José Saramago, Premio Nobel de Literatura de 1998 e hoje aqui connosco - é o próprio Universo perto de nós.
Quando amanhã, no cais da Ribeira, dermos o sinal de largada à regata transatlântica entre a cidade do Porto e a cidade do Recife, irá seguramente perpassar pelo nosso espírito a aventura daquele grande encontro e a perene afinidade dos laços históricos, culturais e Linguísticos que ligam os nossos Povos e Países.
Excelências
As Cimeiras Ibero Americanas - em boa hora institucionalizadas há sete anos em Guadalajara - foram progressivamente desenvolvendo uma rede de cooperação entre os nossos Estados, abrangendo sectores tão vitais como os da educação, da cultura, da saúde e da ciência, por essa forma assumindo-se como um cada vez mais activo Fórum. de debate e intercâmbio de ideias e experiências, no sentido do reforço da identidade e da solidariedade Ibero Americana.
Tive a honra e o privilégio de participar nas duas últimas Cimeiras de Santiago do Chile e da Ilha Margarita que analisaram questões tão relevantes para todos nós como a da governabilidade em democracia e a dimensão ética dos sistemas democráticos.
Também o tema sobre o qual nos iremos amanhã debruçar se reveste da maior importância e actualidade, já que, efectivamente, o irreversível fenómeno da globalização e os processos de integração regional constituem questões complementares com profundíssimos reflexos em todas as áreas das actividade política, social e económica dos nossos países.
Estou certo que todos nós, quer os veteranos destas cimeiras, quer aqueles que nela participam pela primeira vez -e permitam-me que aqui calorosamente saúde os Presidentes da Colômbia, da Costa Rica, do Equador, das Honduras e do Paraguai, assim como congratule afectuosamente o Presidente Fernando Henrique Cardoso pela sua recente reeleição para um novo mandato presidencial - todos nós, dizia eu, saberemos seguramente olhar de frente para o futuro, enfrentando solidariamente tanto os desafios, como as oportunidades a que somos convocados por este dobrar de século e de milénio. E vamos com certeza sair daqui reforçados com a Declaração do Porto, que representará uma forte e substantiva vontade, a partir desta plataforma ibero - latino - americana, de afirmarmos o nosso propósito de contribuir, à escala internacional, para o desenvolvimento sustentado, justo e solidário e por uma sociedade internacional de paz e de progresso.
Peço a todos que me acompanhem num brinde pelo êxito da VIII Cimeira Ibero, Americana, pela amizade e cooperação entre os nossos Povos e Países e pela cada vez maior projecção internacional e coesão interna da nossa Comunidade.