Jantar oferecido às Mulheres Eleitas para a Presidência das Câmaras Municipais

Palácio da Bolsa, Porto
07 de Março de 1998


Creiam que é com muito gosto que aqui me reúno com este grupo de Mulheres Autarcas.
Sabem o respeito que nutro pelo trabalho dos eleitos locais.
E isso não apenas por ter sido um deles e por, nessa condição, ter conhecido de perto as dificuldades e incompreensões que, no quotidiano do trabalho autárquico, é preciso ultrapassar para resolver os problemas das populações.
A minha admiração resulta ainda de, recentemente, já como Presidente da República, ter tido o privilégio de contactar de perto as mais variadas e estimulantes manifestações do espírito de iniciativa, clarividência e sentido de serviço à Comunidade que, um pouco por todo o País, vão surgindo ao nível da acção autárquica.
A Democracia Portuguesa deve muito ao Poder Local, e só um grande desconhecimento das realidades concretas da sociedade portuguesa pode conduzir a juízos globalmente negativos a seu respeito.
O facto de hoje ter querido reunir o conjunto das mulheres portuguesas que ascenderam ao topo da hierarquia nas autarquias não pode desligar-se, como é obvio, da comemoração do Dia Mundial da Mulher que amanhã ocorre.
Dir-se-á que o gesto era desnecessário. Afinal, sendo cada vez mais inequívoco que o estatuto social das mulheres em Portugal tem vindo a sofrer mutações rápidas e profundas, não haveria nada de estranho ou particularmente relevante neste protagonismo político feminino.
Infelizmente, as coisas não são bem assim. Na verdade, apesar de as mulheres portuguesas terem alcançado metas tão importantes como a entrada nos mais variados sectores do mercado de trabalho e o acesso à escolarização básica média e superior - , a ponto de terem hoje os mais elevados índices de participação e de conclusão com sucesso na maioria dos cursos universitários - apesar de todos estes trunfos, dizia, continuam as mulheres a ser preteridas ou, pelo menos, objectivamente desincentivadas em domínios significativos da vida social.
Esta última afirmação ganha validade acrescida quando pensamos precisamente em sectores relacionados com a actividade política ou mesmo, tão só, com o exercício de funções de direcção na generalidade das organizações. Aí a intervenção das mulheres tem sido mais discreta, para não dizer francamente dificultada ou até discriminada, e a alteração de atitudes e práticas processa-se com manifesta lentidão.
São V. Ex.as notável excepção no panorama que acabo de descrever.
Tenho a certeza de que teve de ser grande o empenhamento pessoal, grandes também os sacrifícios familiares e muita a ousadia necessários à ascensão e ao desempenho dos cargos políticos que ocupam.
O País aprendeu muito com o vosso exemplo, em certa medida pioneiro.
A vossa experiência na condução da vida local enriquece-nos como cidadãos. E as autarquias que vos elegeram não deixarão de vos prestar, dia a dia, a merecida homenagem. Valorizarão a vossa capacidade de realização, mas também certamente a vossa capacidade de diálogo e a prioridade que saberão reconhecer aos temas sociais e cívicos mais delicados.
Também eu, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, que amanhã se celebra, vos presto homenagem, esperando sinceramente que a obra por vós realizada em prol da democracia participativa e do bem-estar das populações frutifique plenamente e venha a desenvolver-se no futuro em novas e sempre criativas formas de fazer política.