Sessão de Abertura do XVII Festival de Almada

Almada
04 de Julho de 2000


É hoje indiscutível a importância cultural e social do Teatro na criação de um imaginário do nosso tempo. Uma das provas assenta nesta realização do XVII Festival de Almada, em cuja sessão inaugural tenho o especial prazer de estar presente.

O facto deste festival ser organizado em parceria pela Companhia de Teatro de Almada e a Câmara Municipal de Almada, desde a sua primeira edição, é bem reveladora da sensibilidade deste município para com as artes performativas, das mais antigas às mais recentes, que aqui estão em destaque especial.

A possibilidade que é dada a todos de contactar e conhecer muito do Teatro que se vem fazendo em Portugal e no estrangeiro, através de diversos autores clássicos e contemporâneos, encenadores e Companhias Teatrais convidadas, vem conferir especial dimensão à vida cultural de Almada, que, ano após ano, vem acolhendo e aplaudindo esta realização.

Não posso, por isso, deixar de saudar vivamente a Companhia de Teatro de Almada, especialmente o seu director Joaquim Benite e toda a equipa deste festival, empresas e entidades que apoiam a sua realização. Sou amigo de Joaquim Benite há décadas e posso testemunhar o trabalho pioneiro que desenvolveu, a importância da sua acção cultural e cívica. Quero, neste momento, expressar-lhe o reconhecimento do País.

O impressionante programa do Festival de Almada 2000 oferece espectáculos da maior qualidade cénica de autores nacionais, da Europa, da África, da América Latina e do Oriente, que contam com a participação de grandes actores, mas também se complementa com espectáculos de música, dança, animação, encontros e acções de formação da maior importância.

Por isso, deixo uma palavra de grande apreço a todos os que colaboram neste grande acontecimento cultural que hoje se inicia e, sem dúvida, muito contribui para a afirmação da riqueza e do potencial cultural deste concelho.

Por último, quero referir-me também, como não podia deixar de ser, ao meu grande amigo Nuno Teotónio Pereira, que este ano se junta à galeria das personalidades que o Festival de Almada tem homenageado.

Habitualmente têm sido distinguidos actores, encenadores, críticos, professores e gente do teatro, mas, este ano, a escolha de um arquitecto é justíssima, pois o papel de Nuno Teotónio Pereira na criação e recriação do espaço teatral em Portugal é assinalável. Não só pelo seu prestígio como arquitecto, pelo seu exemplo de civismo, de lutador pela liberdade, pelas suas qualidades humanas, mas também pela dedicação que o teatro, em Portugal, sempre lhe mereceu. Foi ele uma das figuras que esteve há 30 anos na génese de um grupo de teatro, e do seu espaço, o “1º Acto-Grupo de Teatro”, que generosamente projectou e ajudou a construir.

Fico feliz por este gesto, sabendo que as gentes do Teatro em Portugal muito merecidamente o homenageiam, pois o teatro foi também um modo de combate contra as ditaduras e simultaneamente expressão da condição humana. Daqui vai um grande abraço para o meu amigo Nuno.

Nesta minha iniciativa sobre a “Condição Urbana”, quis estar aqui presente, pois o teatro tem e terá sempre um importante papel na vida da comunidade e na formação cultural das pessoas. Numa sociedade onde se manifestam, cada vez mais, diversidades e sensibilidades culturais originais, a que importa atender e entender, o teatro é um e dos mais importantes meios de expressão, de comunicação e de convivência que deve ser valorizado.

É este, creio, o propósito deste “Festival Almada 2000” ao qual desejo os maiores êxitos, ao mesmo tempo que saúdo o Teatro Meridional, que hoje nos oferece um espectáculo criado a partir da obra de um grande autor do nosso século, Italo Calvino.