Cerimónia de Recepção ao Contingente Militar Regressado de Timor


07 de Setembro de 2000


Nos últimos cinco anos, a participação das Forças Armadas Portuguesas em missões internacionais, no quadro das Nações Unidas e da Aliança Atlântica, adquiriu uma projecção sem precedentes e abriu um capitulo tão inovador como notável na história moderna da instituição militar.

Na Bósnia-Hercegovina, a presença de um significativo contingente nacional na missão das Nações Unidas para a implementação dos acordos de paz marcou a primeira intervenção de Portugal num teatro de guerra na Europa desde a I Grande Guerra.

A decisão de participar na Ifor e em todas as subsequentes missões militares de resposta às situações de crise balcânicas, incluindo o Kosovo, ao lado dos nossos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte, foi crucial para consolidar a nossa posição internacional.

Nessas missões, os Portugueses revelaram uma nova confiança, restaurada com a democracia. Portugal demonstrou ser capaz de assumir, plenamente, as suas responsabilidades como membro da comunidade internacional e parte integrante da Aliança Atlântica, bem como o nosso empenho na construção de uma Europa unida pelos valores da liberdade. Nessas missões, os soldados dos três ramos das Forças Armadas fizeram prova de profissionalismo, competência e bravura, que as prestigiam como instituição nacional e honram o nome de Portugal.

Essa credibilidade acrescida foi crucial na resposta à crise timorense, quando, há um ano atrás, o desespero desencadeou uma onda bárbara de violência e destruição no Território, na sequência do referendum organizado pelas Nações Unidas, que garantiu o exercicio livre e democrático do direito de autodeterminação em Timor-Leste e a expressão, clara e inequivoca, do voto dos timorenses a favor da sua independência nacional.

Nessas circunstâncias dramáticas, ao lado dos Timorenses, Portugal pôde mobilizar os seus aliados ocidentais e os seus parceiros europeus e obter, num prazo sem precedentes, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas para pôr fim ao caos imposto pelas formações para-militares e pelas milicias, perante a passividade dos responsáveis pela segurança no Território.

Porque não era possivel negar em Timor-Leste os valores que tinham justificado a intervenção da comunidade internacional e dos aliados, incluindo Portugal, nas crises balcânicas, foi possivel restaurar a ordem no Território através do envio da uma missão militar internacional.

Naturalmente, Portugal esteve pronto para participar na Interfet desde a primeira hora, com uma força muito significativa, envolvendo todos os ramos militares. As circunstâncias impuseram que essa presença inicial fosse assegurada, de resto com grande mérito, apenas pela fragata Vasco da Gama. Posteriormente, com a formação da Untaet e da força de manutenção da paz, as forças armadas portuguesas puderam passar a assegurar uma intervenção essencial para a segurança de Timor-Leste e dos Timorenses.

Tive o privilégio de assistir, em Dili, à instalação do contingente nacional. Encontrei um comando experiente, tropas profissionais, soldados com elevada motivação. Parti certo de que saberiam cumprir a sua missão, dificil e arriscada, bem como representar Portugal e os Portugueses perante o martirizado povo irmão de Timor-Leste, numa fase critica da sua transição para a independência.

Nos meses seguintes, fui testemunha grata dos elogios, reiterados, designadamente, pelos mais altos responsáveis das Nações Unidas e por todos os dirigentes timorenses, às qualidades excepcionais do contingente nacional em Timor-Leste. Essas posições, registadas publicamente, constituem um contributo muito importante para a reputação internacional e regional de Portugal e, sobretudo, são penhor da nossa profunda solidariedade para com a nação timorense.

Um ano depois da consulta democrática em Timor-Leste e dos trágicos acontecimentos de Setembro, os Timorenses podem viver em paz e em liberdade, concentrados nas tarefas da reconstrução nacional, no caminho pacifico para a independência e a formação do Estado. Essa situação não seria possivel sem a intervenção de Portugal e sem a presença do seu contingente militar na força das Nações Unidas.

É pois de toda a justiça prestar aos soldados que agora regressam, cumprida a sua missão, com grande valor, dignidade e distinção, a homenagem de Portugal e dos Portugueses.