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Sessão Solene "20 anos", na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
Lisboa
É com muito prazer que participo nesta sessão comemorativa do 20º aniversário da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação felicitando-vos pelo importante trabalho que têm desenvolvido ao longo destes anos.
A Democracia trouxe a Portugal novas possibilidades de desenvolvimento do ensino da Psicologia e das Ciências da Educação, até então sem expressão significativa no nosso ensino público. Lembro-me do tempo em que eram receadas as consequências que o aprofundamento do estudo sobre o Homem e sobre as Instituições Educativas pudesse trazer ao regime. A criação das Faculdades de Psicologia e Ciências de Educação constituiu um marco importante no desenvolvimento das Ciências Humanas em Portugal. A Educação tem sido uma prioridade do meu mandato. Porque acredito que é uma base da democracia, essencial também ao desenvolvimento das pessoas e das sociedades. Tenho procurado, por isso, acompanhar de perto a evolução das situações educativas e conhecer os seus problemas. Permitam-me que partilhe convosco algumas das reflexões que tenho vindo a fazer ao longo dos últimos anos e que vos deixe alguns desafios. Conheço o vosso trabalho prestigiado nos campos da Psicologia e da Educação e sei que são uma escola que pode desempenhar um papel de relevo para o desenvolvimento educativo. Uma primeira reflexão diz respeito à expansão do acesso a todos os níveis de ensino verificada, desde o pré-escolar, aos ensinos básico, secundário e superior. Essa evolução tem sido particularmente sensível na educação pré-escolar e no terceiro ciclo do ensino básico, onde se registou, na última década, um aumento de frequência que ronda os 27%. No ensino superior o crescimento verificado foi igualmente muito elevado, não existindo paralelo nos outros países da OCDE. Esta nova possibilidade de acesso dos portugueses à educação foi, porventura, a maior transformação dos últimos tempos na nossa sociedade, que terá seguramente consequências ao nível do desenvolvimento educativo, socio-económico e cultural do nosso país. Graças a este crescimento os portugueses estão hoje mais habilitados para enfrentar o futuro como profissionais e como cidadãos. Foi-me grato verificar, igualmente, que a sociedade portuguesa atribui uma importância crescente à educação, encarada hoje como um investimento importante que interessa prosseguir. Apesar deste progresso, de que nos devemos orgulhar, sei que há ainda muito a fazer, quer para aumentar os níveis de escolarização de todos os portugueses quer para melhorar a qualidade dos processos educativos e o funcionamento das instituições. Nunca será demais lembrar a dívida da democracia para com as gerações que foram privadas do acesso à educação e à cultura. Uma segunda reflexão – em que tenho muitas vezes insistido - diz respeito à necessidade de melhorar as oportunidades de educação e formação ao longo da vida. Uma aprendizagem ao longo da vida iniciada na escolaridade básica, ponto de partida essencial para que cada um saiba e possa gerir o seu processo educativo. O mundo precisa de cidadãos mais conscientes dos riscos que corre hoje o nosso planeta, mais capazes de fazer opções em matéria da informação que consomem, mais preparados para assimilar a evolução do conhecimento científico e para contribuir, designadamente, para a prevenção das doenças. Todos sabemos que a informação que adquirimos na escola é rapidamente ultrapassada, sendo necessário adquirir competências de aprendizagem e, sobretudo, o gosto pelo trabalho e pelo conhecimento. Considero da maior importância organizar respostas formativas para os portugueses que foram vítimas de uma educação que excluía a maior parte das pessoas. E essas respostas têm de ser diferentes, exigindo uma compreensão psicológica destes novos públicos e das suas formas distintas de aprendizagem, sendo necessária uma atenção privilegiada às questões de orientação e desenvolvimento das carreiras. Para que cada pessoa tenha a possibilidade de direccionar o seu percurso formativo, é preciso desenvolver a oferta de oportunidades de aprendizagem, formais e não formais, e criar as condições para a participação em processos de formação, que respondam, em cada momento, às suas necessidades. Por outro lado, embora reconheça as dificuldades envolvidas, terão de se desenvolver meios e processos de reconhecimento de saberes e de competências que valorizem o esforço e as diferenças individuais. Tenho de admitir, com pesar, que tem sido difícil encontrar os projectos e os meios de acção adequados em matéria de educação e formação de adultos. O seu desenvolvimento tem de ser, a meu ver, objecto da maior atenção de todos exigindo um esforço de redefinição de políticas de coordenação intersectorial e da missão das instituições educativas, designadamente no que diz respeito à sua adaptação a novos públicos. Sei que a educação de adultos é um domínio em que a vossa Faculdade se tem destacado. Gostaria de vos pedir que continuem esse percurso, contribuindo para a melhoria de um sector tão importante para o desenvolvimento do país. Uma terceira reflexão diz respeito à inovação necessária no funcionamento das escolas de modo a prevenir os abandonos precoces e a exclusão escolar. A democratização do acesso à educação trouxe às instituições novas realidades, designadamente no que diz respeito à heterogeneidade cultural e social dos seus alunos e à necessidade de assumirem novas funções, visando a sua integração. Nos meus contactos com as escolas tenho sentido que esta é uma das principais dificuldades com que se defrontam os professores. Algumas das escolas que visitei encontraram processos para fazer face a esses problemas, nomeadamente através da organização de projectos de escola inovadores, de parcerias com entidades locais e do trabalho com as famílias. Ainda no início desta semana, tive a oportunidade de conhecer um projecto desenvolvido numa escola de ensino básico, em Vialonga, no qual existe um ambiente educativo notável e um grande envolvimento colectivo dos professores visando a integração escolar dos alunos.
Saio destas visitas profundamente reconhecido por um trabalho de grande dedicação e qualidade. Mas também com grande apreensão face às dramáticas situações vividas por muitas crianças e jovens. Tenho a consciência de que é urgente actuar, criando condições para que a mudança das escolas se processe de forma regular, não dependendo tanto de condições de militância e de meios extraordinários. Condições que têm conduzido ao desencanto que sobrevem, muitas vezes, a um grande investimento . Considero, e tenho-o dito em vários contextos, que hoje se pede demais à escola e que só com uma coordenação, por exemplo, de esforços de autarquias, pais, autoridades ligadas à saúde, à protecção de menores, poderemos prevenir, de forma mais eficaz, as situações de exclusão. A educação exige uma responsabilidade social assumida por todos. A gestão das escolas exige mudanças que devem ser apoiadas através de formação e avaliação. É preciso tornar possível uma maior responsabilidade pelos percursos escolares dos alunos, um maior apoio ao desenvolvimento das suas carreiras e mais qualidade nas aprendizagens. O contributo da Psicologia e das Ciências da Educação pode ser muito importante. Este é mais um desafio que deixo à vossa Faculdade, sabendo que também nestes domínios vêm desenvolvendo um trabalho significativo. Uma quarta reflexão diz respeito às consequências do importante e necessário crescimento do ensino superior. Parece haver unanimidade sobre a existência hoje de um número exagerado de cursos e instituições. Importa agora corrigir esta situação, reflectir sobre factores como a empregabilidade, a pertinência dos cursos e os elevados níveis de insucesso escolar existentes. É, igualmente, preciso organizar a rede de ensino superior, coordenando recursos e projectos existentes. Há que flexibilizar o relacionamento entre instituições encontrando formas inovadoras e criativas de articulação e cooperação designadamente entre universidades e institutos politécnicos. Não podemos fechar-nos nas nossas instituições e no nosso país. As nossas formações devem ser repensadas num contexto europeu, sendo necessário um trabalho em conjunto para a sua valorização e competitividade. É, igualmente, necessário encontrar novas respostas para os elevados índices de insucesso escolar. Nesse sentido, é importante repensar conteúdos, métodos de trabalho e processos organizativos. Há que enfrentar com rigor, mas também com inovação o acesso ao ensino superior de novos públicos. Estamos face a um novo problema do ensino superior que não pode ser ignorado e que exige um grande esforço dos seus docentes. Repensar a sua formação, critérios de acesso, progressão na carreira e mobilidade, parece-me hoje uma necessidade. Minhas senhoras e meus senhores A democratização das escolas portuguesas exige hoje, mais do que nunca, mudanças consistentes e apoiadas. Mudanças que integrem os esforços de muitos que se empenharam ao longo dos últimos anos em experiências com resultados positivos e úteis à melhoria da qualidade da educação. A avaliação e o conhecimento da experiência dos últimos anos deve, a meu ver, ser tida em conta. Mas, acima de tudo, é necessário conceber processos de apoio e de formação inicial e contínua de professores de todos os níveis de ensino. O apelo que vos deixo, ao terminar esta intervenção, é para que se concentrem e coordenem esforços neste domínio que considero decisivo. Muito obrigado pelo importante trabalho, científico e pedagógico, realizado por esta instituição. |