Inauguração das novas instalações da Faculdade de Engenharia do Porto

Faculdade de Engenharia do Porto
22 de Março de 2001


Creiam que é para mim motivo de grande júbilo estar na Faculdade de Engenharia do Porto e poder participar nesta cerimónia em que, a par da inauguração oficial das suas novas instalações, se comemora o Dia da Universidade.

Este belo espaço foi com certeza concebido com a preocupação de reforçar a coesão da comunidade académica que aqui trabalha, ao mesmo tempo que respeita as exigências específicas das suas diferentes áreas de actividade. Desejo que a minha presença contribua, ainda que modestamente, para afirmar esta comunidade e estimular todos os seus membros, dos vários departamentos, a continuar olhar o futuro com ambição e sentido estratégico.

Tenho muito apreço pelos cidadãos que, tantas vezes com abnegação, dedicam a sua vida profissional à causa do Serviço Público. Quase nunca sentem as luzes da ribalta sobre eles e habituam-se cedo a prescindir do calor dos aplausos. No entanto, são eles que, no meio das dificuldades, constróem o prestígio das instituições e que sedimentam conhecimentos, métodos de trabalho, éticas profissionais, transmitindo-os às gerações mais novas.

Durante muitas décadas, professores, funcionários e alunos, criaram, no velho edifício da Rua dos Bragas, uma Escola de Engenharia que deu ao País profissionais competentes e inovações tecnológicas com enorme impacto no nosso desenvolvimento. E deu também – não o esqueçamos – uma figura como Jorge de Sena, engenheiro, poeta, romancista, ensaísta, cidadão exemplar, um dos grandes portugueses do século XX.
À medida que a acção da Faculdade se concretizava, foi crescendo também, como sempre acontece em instituições genuinamente comprometidas com os ideais do Serviço Público, um património afectivo que, nem por ser imaterial, tem menos importância. Sei que esse património será acrescentado e enriquecido no novo espaço desta Escola. Todos ganharemos com isso! Tanto na "Velha" como na "Nova" Economia, o País enfrenta problemas muito sérios, cuja resolução depende crucialmente da intervenção de profissionais com formação avançada nos domínios da Engenharia.

A engenharia portuguesa terá de ser capaz de dar os contributos que dela se esperam para a construção de um Portugal moderno, aberto à inovação, participante activo no mundo do século XXI, um mundo onde as preocupações com o desenvolvimento tecnológico e a coesão social obrigam a que criemos, continuamente, novos conhecimentos que assegurem um desenvolvimento sustentado.

Minhas Senhoras e Meus Senhores:

Ao fazermos o balanço dos progressos no Sistema Científico e Tecnológico Nacional somos levados a ligar o que se fez com o significativo crescimento do financiamento público de que o mesmo beneficiou nas últimas décadas.

Ainda assim, consideram os especialistas que precisamos de ultrapassar duas das suas maiores debilidades estruturais: por um lado, a reduzida participação do sector empresarial no total do investimento em actividades de I&D; em segundo lugar, a ainda fraca densidade de interrelações e sinergias entre as suas quatro grandes componentes: instituições do ensino superior, organismos do Estado, instituições privadas sem fins lucrativos e empresas.

É justo, no entanto, reconhecer que a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto tem tentado contrariar estas tendências, enveredando, desde há muito, pelo desenvolvimento de projectos abertos, vocacionados para as redes de prestação de serviços e cooperação com outras entidades, como organismos do Estado e empresas.

É sabido que este esforço de ligação das instituições universitárias ao exterior não está isento de riscos, nomeadamente o de condicionar o investimento nas áreas de investigação fundamental, o qual, como se sabe, é um sustentáculo do desenvolvimento das Universidades e, por consequência, alicerce decisivo de uma sociedade.

A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto tem sabido contornar este risco, apostando na pesquisa científica de base. Esse é um dos trunfos com que enfrentará o futuro.

A qualidade da instituição universitária deve aferir-se ainda noutro plano: o da capacidade de transmitir aos seus alunos, com eficácia e rigor, um património de conhecimentos e de métodos de trabalho, que possa fazer deles profissionais competentes, criteriosos e com sentido inovador.

Esta é uma questão que merece toda a minha atenção. Tenho proposto às instituições uma reflexão sobre estratégias de ensino e sobre a necessária articulação entre o ensino secundário e superior, e, neste, entre graduação e pós-graduação. A verdade é que, sem algum aperfeiçoamento no estabelecimento de pontes entre estes graus e sem uma reflexão pedagógica que acompanhe em permanência a actividade docente universitária corre-se o risco de gerar elevados níveis de insucesso e abandono escolares.

Permito-me ainda observar quanto há a fazer em matéria de planeamento de acções de aprendizagem ao longo da vida, em particular na formação contínua de quadros técnicos.

Não ignoro que alguma desatenção às questões pedagógicas no Ensino Superior é causa da grande pressão exercida sobre os docentes em matéria de prosseguimento de carreiras ou de participação em actividades de extensão universitária, de que, por vezes, depende, aliás, a própria estabilidade financeira das escolas. Não deixo, mesmo assim, de lançar um apelo para que a dimensão pedagógica não seja descurada nas escolas universitárias. Dêmos-lhe, então, a importância que merece.

O futuro da Universidade irá, em grande medida, passar pela capacidade que tiver para dar resposta às mudanças sociais. Bom será, por isso, que não se adie o necessário trabalho de preparação exigido por este novo estádio de desenvolvimento da secular instituição.

O nosso sistema de ensino superior realizou, sem dúvida, missões fundamentais: expandiu-se, diversificou as ofertas apresentadas, recebeu novos públicos, modernizou-se, conforme lhe era pedido pelo processo de democratização da sociedade portuguesa. Enfrenta hoje novos desafios.

O primeiro é o da qualidade, que aliás tem de ser aferido por critérios e padrões internacionais. Competimos num exigente quadro internacional e não seria justo que nele os nossos diplomados com graus superiores se encontrassem em situação relativamente inferior. As escolas superiores portuguesas não podem, pois, limitar-se a concorrer entre si, terão de concorrer num âmbito mais alargado, de acordo com o seu domínio de especialização.

À qualidade, junta-se outro desafio – o da inovação. Nesse desafio, em que o ensino superior e a investigação científica se encontram mútua e conjuntamente implicados; o outro termo do binómio são as empresas. Sem inovação (científica, tecnológica e, consequentemente, empresarial), Portugal não alcançará, em termos de controlo dos factores de mudança próprios do mundo em que vivemos, uma posição competitiva fundamental. Precisamos, pois, da inovação para ganharmos o desafio da produtividade, tanto nas empresas como na administração pública.

Mas eu diria que há ainda um terceiro desafio, que é o da responsabilidade. Creio que esse desafio assume, hoje, novos aspectos. O mundo está mais perigoso, diz-se por vezes, e com razão. Temos de estar preparados para esse mundo mais inseguro. Temos de contar com dispositivos de produção e divulgação de conhecimento, de antecipação e de previsão, de controlo e de fiscalização em que confiemos. Todos os dias estamos perante ameaças de novos riscos.

Alguns deles são gerados pela própria actividade humana, quando agride equilíbrios naturais ou biológicos, quando recorre a soluções que podem ter consequências insuficientemente testadas.

O princípio da responsabilidade das instituições de formação e produção científica não pode deixar de atender a esta exigência de conhecimento rigoroso e de divulgação em tempo útil. O País precisa desse corpo próprio, qualificado e qualificador, de saber. Precisa de confiar em que as instituições de ensino superior sejam parte fundamental das nossas capacidades para garantir um presente e um futuro com mais segurança e tranquilidade.

Sabemos como a cultura científica apresenta, entre os portugueses, indicadores abaixo do que seria desejável. Temos que alterar este estado de coisas, com certeza. O facto de o ponto de partida ser pouco satisfatório torna os três desafios que enunciei – qualidade, inovação, responsabilidade – mais necessários ainda, mais urgentes.

Quero deixar aqui, nesta casa de tão nobres exemplos, esta mensagem fundamental. Aos novos e aos mais antigos engenheiros, digo: precisamos de vós. Creio que compreenderão o alcance deste apelo e não tenho dúvidas de que o saberão como até aqui, continuar a honrar.

Minhas Senhoras e Meus Senhores:

Não quero terminar a minha intervenção sem deixar de prestar algumas homenagens, que julgo inteiramente justas.

A primeira delas tem como destinatárias as equipas reitorais que acompanharam e apoiaram o nascimento das novas instalações da Faculdade e todos os trabalhadores que tornaram a construção possível.

Saúdo, em segundo lugar, os docentes, funcionários e estudantes da Faculdade, por terem sabido ultrapassar, com contenção e espírito de sacrifício, todas as dificuldades da transição e adaptação às novas instalações.

Uma palavra de homenagem é igualmente devida a todos os técnicos, incluindo obviamente a equipa de arquitectos, que tiveram e têm responsabilidades especiais na concepção e acompanhamento do edifício nesta fase inicial da sua vida. Peço que não esmoreçam no vosso entusiasmo e que contribuam activamente, em consonância com os responsáveis autárquicos (também eles parte empenhada na criação desta obra e agora no ordenamento à volta), para uma sua melhor integração, em termos urbanísticos e ambientais, no Pólo a que pertence.

Reservo as minhas últimas palavras de homenagem para aquele que é, sem dúvida, o grande dinamizador do projecto de renovação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Esse projecto tem nestas novas instalações a sua mais impressiva concretização, mas que vai muito para além dela.

Sou o primeiro a achar que empreendimentos desta envergadura só podem ser realizados por equipas pluridisciplinares, competentes e coesas. Mas também sei, que sem lideranças fortes, sem a generosidade – que, às vezes, parece não ter limites – de certas personalidades, há muitos projectos que não chegam a ser concretizados em tempo útil e com a qualidade requerida.

Pois bem: o homem-chave na concretização da obra tem rosto e nome consensualmente reconhecidos. É o Professor Marques dos Santos, a quem agradeço a dedicação, a tenacidade, a criatividade, o entusiasmo cívico. Como é um dos mais dedicados servidores da Causa Pública, tem prescindido de holofotes e do reconhecimento de plateias numerosas.

Hoje, porém, não fugirá aos nossos aplausos.

Muito obrigado.