Palavras de Acolhimento ao Conselho das Comunidades Portuguesas

Palácio de Belém
30 de Março de 2001



Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas
Senhores Deputados
Senhores Conselheiros das Comunidades Portuguesas

Quero, em primeiro lugar, dar-vos as boas vindas ao nosso país. É com grande prazer que vos recebemos aqui no Palácio de Belém, por ocasião desta segunda reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas.

A constituição deste Conselho, decidida em 1996 pela Assembleia da República, por unanimidade, correspondeu à necessidade de criar um orgão representativo das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, que desse voz às suas aspirações e servisse de elo de ligação entre elas e com Portugal. Ele representa mais uma prova do nosso real empenho na valorização e defesa dos interesses das comunidades portuguesas.

Como representantes eleitos das Comunidades portugueses no estrangeiro, cabem-vos importantes responsabilidades.

Como orgão consultivo junto do Estado português, compete-vos interpretar e exprimir, junto das autoridades portuguesas, os legítimos anseios e aspirações dos portugueses emigrados, contribuindo assim para que estas lhes possam corresponder de forma mais eficaz.

Nos países de acolhimento, cabe-vos um papel igualmente importante, no diálogo entre os portugueses e luso-descendentes e as respectivas autoridades e instituições, com vista à sua inserção harmoniosa e à valorização da sua contribuição cívica.

Sabemos que o processo de criação e a entrada em funcionamento deste Conselho não foi isento de dificuldades. Formulo, pois, votos sinceros de que esta vossa reunião constitua um momento de viragem, que permita dar um novo impulso à actividade deste Conselho.

Senhores Conselheiros

Sempre os portugueses souberam tornar-se benquistos nas sociedades em que foram acolhidos. Pela sua seriedade, pela sua capacidade de trabalho, pelo seu civismo. Mas só devagar e ainda com alguma timidez se têm vindo a afirmar, social e politicamente, nessas sociedades. Quero dirigir, por vosso intermédio, um apelo a todos os portugueses que vivem em países estrangeiros: organizem-se, participem na vida política e social das sociedades em que se integram, façam ouvir a vossa voz, para que o vosso contributo seja valorizado e reconhecido!

Uma participação cívica activa nas sociedades de acolhimento não significa, todavia, que os portuguesese luso-descendentes esqueçam as suas origens ou que se atenuem os laços que os vinculam à Pátria.

Portugal tem procurado cultivar esses laços, promovendo, na medida das nossas capacidades, o ensino do português, estimulando o conhecimento do país juntos dos luso descendentes da segunda geração, facultando-lhes o direito de participarem na vida política portuguesa.Assim, pela primeira vez este ano, os emigrantes portugueses no estrangeiro puderam votar nas eleições presidenciais. Sinto-me pessoalmente honrado por ser o primeiro Presidente da República portuguesa eleito com os votos dos nossos emigrantes.

O país de onde tantos portugueses partiram, em busca de um futuro mais promissor, é hoje outro: é um país democrático, prestigiado, aberto e tolerante, integrado na União Europeia, em pleno desenvolvimento, ele próprio destino de imigração. Temos, aliás, o dever de tratar esses imigrantes que nos procuram com a mesma humanidade com que gostamos de ver os portugueses tratados nos países que os acolhem.

Por outro lado, vemos hoje, por todo o mundo, portugueses e luso-descendentes das novas gerações que se afirmaram, pessoal e profissionalmente, gozando de elevado prestigio nas sociedades em que se integram, muitas delas extremamente exigentes e competitivas. A sociedade portuguesa precisa de conhecer e reconhecer melhor o talento, a criatividade, o dinamismo e o valor de que, cada vez mais, dão provas os portugueses emigrados e os seus descendentes. Será de benefício mútuo, para os que partiram como para os que ficaram, que os laços afectivos que naturalmente nos unem se traduzam num intercâmbio mais dinâmico de iniciativas em vários domínios, no mundo empresarial, universitário, científico, cultural e político. Espero que a vossa actividade possa, também, contribuir para este fim.

Meus amigos

No exercício das minhas funções, tenho convivido amplamente com as comunidades portuguesas no estrangeiro. Continuarei a fazê-lo intensamente neste mandato. Encaro com grande expectativa a próxima visita que farei brevemente ao Canadá, durante a qual contactarei a numerosa comunidade portuguesa naquele país. Guardo desses momentos de convívio algumas das memórias mais emocionantes da minha carreira política. Tem-me sido grato verificar que a distância não diminuiu — antes pelo contrário — o amor que têm por Portugal e o orgulho que sentem em ser portugueses. Quero assegurar-vos, pela minha parte, que Portugal não esquece os seus, estejam eles onde estiverem.

Que me seja permitido nesta ocasião, endereçar uma palavra especial de solidariedade à comunidade portuguesa na África do Sul. Seguimos de perto as suas preocupações, que compreendemos. Faço votos de que as actuais dificuldades possam ser ultrapassadas e que os portugueses que vivem e trabalham na África do Sul possam continuar a dar o seu contributo para a construção de uma sociedade multiracial e democrática naquele país.

Renovo as boas vindas a todos vós e peço que transmitam, da minha parte, aos nossos compatriotas uma palavra de carinho, de apreço e de reconhecimento pelo importante contributo que dão para prestigiar o nome de Portugal por esse mundo fora.