Cerimónia de Entrega do Prémio Bial

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Porto
10 de Abril de 2001


Gostaria que a minha presença nesta cerimónia fosse entendida, antes de mais, como sinal de reconhecimento público pela actividade das pessoas e instituições que, em Portugal, têm feito avançar o conhecimento científico, nos seus múltiplos domínios.

Nenhuma sociedade pode, hoje, progredir em sentido pleno, se não conseguir criar condições favoráveis ao desenvolvimento das ciências, se não for capaz de dar consistência institucional ao trabalho de disseminação do espírito científico entre as gerações mais jovens, se não souber reconhecer e estimular em permanência o trabalho metódico, rigoroso, crítico e auto-crítico que é apanágio dos cientistas.

Esta casa em que nos encontramos simboliza, por si, a capacidade do Portugal Democrático para se afirmar no plano da criação de conhecimento nos níveis de maior elaboração.

Criado há apenas 25 anos, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar é já uma referência importante – diria mesmo, incontornável – no panorama do ensino e da investigação científica do nosso País, tendo, além disso, contribuído como poucos para prestigiar a nossa comunidade científica junto dos centros de excelência consagrados internacionalmente.

Uma palavra de homenagem é devida a todos aqueles – investigadores, professores, funcionários não docentes e estudantes – que, neste breve quarto de século, fizeram de uma pequena célula de trabalho o embrião do que hoje é uma escola viva, inovadora e aberta à resolução dos problemas da comunidade.

Sei bem que, nesta história de um quarto de século, houve, como sempre há em casos semelhantes, personalidades especialmente influentes e marcantes. Têmo-las presentes no nosso reconhecimento.

Inauguramos hoje os bustos de Abel Salazar e Corino de Andrade, dois vultos grandes das Ciências Médicas e, simultaneamente, exemplos raros de probidade, lucidez e empenhamento cívico.

Estamos em Abril, mês propício a celebrar a Liberdade e a Democracia, e esta inauguração pode ser um pretexto para reafirmarmos com convicção acrescida quanto foi nefasto para o País ignorar ou perseguir, durante décadas, muitos daqueles que mais brilhantemente contribuíam para enriquecer o nosso património colectivo de saber e de cultura.

Abel Salazar e Corino de Andrade vão poder estar, a partir de hoje, mais próximos de todos os que, dia após dia, se devotam às causas do progresso científico. Regozijo-me com o facto e saúdo vivamente todos os que tomaram a iniciativa de assim homenagear tão ilustres personalidades.

Felizmente, os tempos já não são de desconfiança sistemática em relação aos que querem abrir novos caminhos de conhecimento e pugnam por sociedades mais justas. Não só temos hoje, em Portugal, condições para desenvolver em liberdade a pesquisa científica, como, por outro lado, se vai difundindo, entre os cidadãos, uma atitude favorável ao reconhecimento daqueles que se destacam nessa exigentíssima tarefa de tentar acrescentar algo de inovador ao edifício fascinante da Ciência.

Apraz-me registar, uma vez mais, que um grupo empresarial da indústria farmacêutica portuguesa, a Bial, assuma convictamente esta atitude incentivadora do trabalho de pesquisa científica na área da Saúde.

É sinal de que alguma retracção do sistema empresarial português em participar em actividades de I&D conhece, felizmente, notáveis excepções. Quero, por isso, render a minha homenagem aos responsáveis da empresa, e em particular ao senhor Dr. Luís Portela, nesta ocasião em que se procede à entrega do Prémio Bial.

Saúdo calorosamente todos os autores dos trabalhos a concurso e, naturalmente, aqueles que, na perspectiva do Júri, mais se distinguiram. Estou certo de que o prémio constitui um incentivo dado às novas gerações de investigadores para não esmorecerem perante as dificuldades que o trabalho científico coloca a quem dele faz um projecto de vida.

O Prémio deste ano mostra também, inequivocamente, o caminho percorrido no sentido da internacionalização da comunidade científica portuguesa.

Ao facto de o painel de avaliadores das obras concorrentes ser constituído por figuras de enorme prestígio na comunidade científica e na sociedade portuguesas, junta-se a circunstância de o Conselho de Reitores das Universidades portuguesas patrocinar a iniciativa da Bial. Esses são seguramente motivos adicionais para o grande prestígio deste prémio.

A todos os que, no passado e no presente, dão o seu contributo ao nosso desenvolvimento científico, e àqueles que tornaram possível e são a razão de ser da cerimónia de hoje, expresso o meu reconhecimento.

Bem hajam pela vossa acção em prol de um Portugal moderno, que faça da educação, da ciência e da cultura o mais sólido fundamento do seu futuro.