Sessão de Lançamento do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea

Lisboa
26 de Abril de 2001


O acto que nos reúne aqui hoje constitui um assinalável marco na História da Academia das Ciências, ao qual não poderia deixar de me associar.

É, naturalmente, um marco pela importância que o “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea” vai assumir, como referência e como instrumento de trabalho e de estudo para o mundo lusófono. É ainda um marco porque, ao fim de mais de dois séculos, esta obra vem honrar uma responsabilidade desta Academia.

Como sabemos, depois da primeira tentativa feita, em finais do século XVIII, para dar corpo a um Dicionário, a qual não passou da 1ª letra do alfabeto, outras se sucederam sem sucesso. O projecto do Dicionário da Academia tornou-se, assim, ele próprio, sinónimo de “Obras de Santa Engrácia”, expressão popularizada para designar o que nunca mais acaba. Foi, aliás, objecto de ironia da parte de alguns escritores, como Alexandre Herculano. Em boa hora se quebra agora o enguiço.

Com efeito, entendeu a Academia, há cerca de doze anos, relançar a iniciativa, definindo os princípios, critérios e objectivos da obra e entregando o projecto a uma competente equipa, sob a direcção do Professor Malaca Casteleiro. Por isso, felicito a Academia, na pessoa do seu actual Presidente, Professor José Toscano Rico, e os seus antecessores, Professores Pina Martins e Jacinto Nunes. Foi essa sábia decisão e o impulso dado que permitiu ter-se chegado a este dia.

É de inteira justiça assinalar o extraordinário espírito de equipa que aglutinou cerca de 40 especialistas, para a realização de uma tão arrojada e exigente tarefa, de cuja possibilidade de conclusão muitos descriam. Não quero, hoje, deixar de louvar publicamente todos aqueles que dedicada e persistentemente souberam levar a bom termo esta empresa. Expresso-lhes, em nome de Portugal o mais vivo reconhecimento.

A envergadura e complexidade da obra, posta em evidência nas intervenções precedentes, dão bem conta da magnitude do trabalho feito e do seu alcance. De facto, o Dicionário acolhe, actualiza e projecta o estado actual da investigação e dos nossos conhecimentos linguísticos, com recursos às novas tecnologias, numa perspectiva de futuro e de abertura a todo o universo lusófono. A concepção da obra atende ainda a uma futura actualização do Acordo Ortográfico, o que é da maior importância.

Sob a égide da Academia das Ciências, a equipa responsável construiu pacientemente a obra, integrando neologismos das mais variadas origens e as palavras do português actual, falado em Portugal, no Brasil, nos países africanos lusófonos, em Timor e noutras comunidades. Em muitos casos, arrisca soluções que sabe poderem vir a gerar polémica.

Saúdo o Dr. Fernando Guedes e a Editorial Verbo. Ao editar este Dicionário, a Verbo, que conta mais de 50 anos de intensa actividade, honra a sua prestigiada história. Quero também registar com muito agrado o apoio dado a tão importante iniciativa pela Fundação Calouste Gulbenkian, prestando assim esta prestigiada instituição, mais uma vez, um relevante serviço à cultura portuguesa.

Minhas Senhoras e Meus Senhores:


Tenho defendido a necessidade de uma política mais activa que projecte e afirme no mundo uma língua falada por 200 milhões de seres humanos, de tantos países em continentes diferentes.

Essa política deve ser feita em colaboração e parceria com esses países. Este dicionário mostra bem que o português é de todos os que o falam. Língua com um passado multissecular, mas também língua aberta ao futuro, língua viva e plural.

Estou certo de que este Dicionário pode ser um instrumento fundamental dessa política de língua. Se a língua é de todos, este Dicionário também é de todos.

A terminar, quero renovar o maior reconhecimento à Academia, ao Senhor Professor Malaca Casteleiro e à sua equipa, à Editorial Verbo. A obra que realizaram mostra que, quando há vontade, perseverança e clara orientação, se consegue chegar ao fim de um projecto com êxito. Esse é também um exemplo que dão.

Para assinalar o acontecimento e como forma de homenagear a equipa do dicionário e o seu responsável, entendi, em nome de Portugal, que é da maior justiça agraciar o Professor João Malaca Casteleiro com o Grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.