Homenagem a Aristides de Sousa Mendes

Bordéus
10 de Maio de 2001


Homenagear a memória de Aristides de Sousa Mendes é querer que perdure a lembrança da sua actuação e que o seu exemplo seja uma referência viva para as gerações presentes e vindouras. Com a minha presença aqui, é Portugal que honra a sua memória, num gesto de tributo que tem valor de símbolo.

Um povo sem memória é um povo sem futuro, impossibilitado de aprender, comparar e escolher livremente padrões, valores e princípios de vida.

Aristides de Sousa Mendes foi um homem de bem que, em tempos de barbárie e de servidão cega, teve a lucidez e a coragem de manter intacta a sua liberdade de consciência, guiando-se unicamente pelo imperativo moral que a sua razão lhe ditava, ao arrepio de ordens que considerava iníquas.

A sua actuação correspondeu a uma decisão solitária em prol da humanidade, ditada pela urgência da situação, que salvou dezenas de milhar de vidas. Pagou caro os seus gestos, mas a história deu-lhe razão.

Esta homenagem que hoje lhe prestamos, no lugar que foi testemunho da sua liberdade de espírito e grande generosidade de coração, tem um sentido de reparação e é um gesto simbólico de justiça e de reconhecimento do Portugal livre e democrático.

Aristides de Sousa Mendes mostrou que a opressão e a ameaça não conseguem vencer a liberdade da consciência, o espírito esclarecido e a fé na humanidade.

Por isso, queremos manter vivo o seu exemplo, para que seja uma referência na Europa que estamos empenhados em fazer vingar, uma Europa pautada pelos valores da liberdade, da justiça e da tolerância.

Creio que não poderia haver melhor augúrio para este propósito do que a presença aqui de uma assistência tão variada, constituída por homens e mulheres de diferentes nacionalidades, confissões e ideários.

Muito obrigado a todos.