Discurso do Presidente da República por ocasião do almoço de encerramento do Seminário Económico Luso - Canadiano

Toronto
29 de Maio de 2001


Minhas Senhoras e Meus Senhores

No encerramento deste Seminário Económico Luso-Canadiano, quero começar por felicitar os organizadores e por saudar e agradecer a presença de todos os que aqui estão, muito especialmente os empresários canadianos que nos quiseram honrar com a sua participação neste encontro.

Um dos grandes objectivos da minha visita ao Canadá - como, de resto, de todas as visitas que efectuo ao estrangeiro - é promover o intercâmbio económico e comercial entre Portugal e o país visitado. Por isso me faço acompanhar do Senhor Ministro da Economia, do Presidente do ICEP e de uma importante delegação empresarial, representativa de vários sectores particularmente dinâmicos da economia portuguesa, designadamente, o sector financeiro, as telecomunicações, o “software”, os cabos, os moldes para a indústria dos plásticos, os têxteis, os vinhos e a cortiça.

Estou certo que, do importante programa de contactos e visitas que teremos neste país, resultarão um melhor conhecimento recíproco da potencialidade dos nossos dois mercados, bem como, certamente, alguns resultados concretos.

Portugal, do ponto de vista económico, é hoje um país moderno e muito mais desenvolvido do que quando entrou para a União Europeia, no início de 1986. Nos últimos 15 anos, o crescimento económico de Portugal foi superior ao da União Europeia e o nosso PIB per capita, em paridades de poder de compra, que na altura da adesão pouco ultrapassava metade do europeu, representa actualmente três quartos da média comunitária. A taxa de desemprego, que então se situava à volta dos 9% da população activa, está hoje em cerca de metade, o que equivale praticamente a uma situação de pleno emprego.

O défice orçamental, que então ultrapassava os 10% do PIB, está presentemente entre 1% e 2% do PIB. A taxa de inflação média anual, que então se aproximava dos 20%, está actualmente entre os 3% e os 4%.

Poderia continuar com outros indicadores, mas creio que os apontados são suficientes para evidenciar o progresso realizado. Quero apenas sublinhar que, para os bons resultados obtidos, contribuíram as políticas económicas e as reformas estruturais realizadas por sucessivos Governos, o bom trabalho feito pelas empresas e ainda um ambiente económico favorável, para o qual ajudou a adesão à União Europeia, em 1986, e a entrada na Zona Euro, no início de 1999.

A política económica, como mostram os referidos indicadores, foi capaz de corrigir desequilíbrios macroeconómicos sem sacrificar o crescimento da economia e possibilitou também o cumprimento de exigentes critérios de convergência nominal que permitiram a Portugal ser membro fundador da União Económica e Monetária e assim partilhar a moeda única europeia, cujas notas e moedas começarão a circular a partir de Janeiro de 2002 em todo o espaço Euro.No campo das reformas estruturais saliento os avultados investimentos na construção de modernas infra-estruturas, nomeadamente nos sectores rodoviário e das telecomunicações, bem como o investimento em educação e formação profissional para valorizar os recursos humanos e ainda um grande esforço de investimento em investigação e desenvolvimento e na difusão das tecnologias da informação e da comunicação nas escolas, na administração pública e nas empresas, essenciais para aumentar a produtividade e assim recuperar o atraso que separa Portugal da média comunitária.

Para além dos investimentos em capital físico e humano, os responsáveis pela política económica também realizaram um vasto programa de privatizações, que permitiu diminuir o peso do Estado e reforçar o papel da iniciativa privada na economia, e tomaram medidas que contribuíram para a modernização do sistema financeiro e do mercado do trabalho e para a liberalização do mercado dos bens e serviços.

A par da actuação dos responsáveis pela política económica, os empresários portugueses também fizeram um grande esforço de modernização e de internacionalização das suas empresas, apostando na inovação e no aumento da produtividade, na melhoria da qualidade e do design dos produtos, no reforço do marketing e dos serviços de apoio aos clientes e noutros factores de competitividade.

Igualmente importante e digno de registo e apreço foi também o contributo para o desenvolvimento da economia portuguesa dado pelos empresários estrangeiros que escolheram Portugal para país de acolhimento dos seus investimentos.

A internacionalização do investimento estrangeiro, como sabem, é uma via com dois sentidos e, nos últimos anos, os empresários portugueses também começaram a investir consideravelmente no exterior. Nos cinco anos entre 1996 e 2000, o investimento directo de Portugal concentrou-se, em particular, no Brasil onde atingiu o valor de cerca de 8 800 milhões de dólares americanos, o que coloca Portugal como terceiro investidor estrangeiro naquele país. No Canadá, em termos líquidos, foi apenas da ordem dos 21 milhões de dólares americanos, abrangendo sectores como os aglomerados de madeira, o software, o bancário e os vinhos.


Minhas Senhoras e Meus Senhores

Para recuperar o atraso económico que nos separa da União Europeia e atenuar o desequilíbrio das contas externas, precisamos de investir mais e de exportar mais. A pequenez das actuais relações económicas entre Portugal e o Canadá contrasta com a grande dimensão da economia canadiana e do espaço económico aberto em que Portugal se insere, mostrando assim que existem numerosas oportunidades para aumentar o comércio, o turismo e o investimento entre os nossos países. Seria bom para todos que os empresários portugueses e canadianos desejosos de realizarem negócios entre si aproveitassem bem essas oportunidades.

No ano passado, as exportações de bens e serviços portugueses para o Canadá atingiram 370 milhões de dólares americanos, dos quais mais de 200 milhões imputáveis ao turismo, e o investimento directo do Canadá em Portugal foi de 180 milhões de dólares. São números que ficam muito aquém do potencial existente.

Quero, por isso, aproveitar esta oportunidade para convidar os empresários aqui presentes, portugueses e canadianos, - e também os emigrantes portugueses radicados no Canadá - a explorarem melhor as potencialidades dos nossos mercados, a promoverem as trocas entre os dois países, a formar, entre si, parcerias para, em conjunto, investirem em Portugal, no Canadá ou em terceiros países. Há certamente casos em que as empresas portuguesas e canadianas, trabalhando em associação, podem conseguir mais e melhor do que separadamente.

Aos empresários canadianos, especialmente aos que aqui estão, quero dizer que investir em Portugal é uma boa oportunidade para acederem ao vasto mercado europeu e assim criarem uma base de sustentação mais sólida para as vossas empresas.

Durante o seminário, o Senhor Ministro da Economia, os responsáveis pelo ICEP ou os empresários portugueses, por certo, já vos informaram que o Governo português, para aumentar a produtividade e a competitividade da economia portuguesa, aprovou muito recentemente um Programa Integrado de Apoio à Inovação. Uma das linhas de acção do programa para promover a iniciativa e a inovação empresarial é precisamente -- e cito -- "melhorar a inserção nas redes empresariais internacionais e a captação de investimento directo estrangeiro".

Entre as condições vantajosas que os investidores estrangeiros podem encontrar em Portugal destaco a existência: de uma boa rede de fornecedores e de clientes nacionais; de mão-de-obra qualificada que, com um pouco de formação profissional específica, atinge rápida e facilmente elevados níveis de produtividade, possibilitando custos de trabalho por unidade produzida muito competitivos; e, ainda, de incentivos fiscais e financeiros que comparam bem com os oferecidos pelos restantes países da União Europeia.

Estas e outras vantagens que vos terão sido apresentadas em pormenor possibilitam que os investimentos estrangeiros sejam bem sucedidos. Porém, a meu ver, a principal vantagem e a melhor garantia de sucesso que Portugal oferece aos investidores estrangeiros é a grande potencialidade de crescimento da economia portuguesa e a sua completa integração na União Europeia.

O facto de Portugal se encontrar num estádio de desenvolvimento um pouco mais atrasado do que a União Europeia e de beneficiar de ajudas comunitárias significa que tem possibilidade de crescer mais rapidamente do que os seus parceiros comunitários. Por outro lado, a realização do mercado único europeu em 1992 e a participação na moeda única europeia em 1999 transformaram o pequeno mercado português num vasto mercado europeu sem quaisquer riscos cambiais. Os empresários canadianos não podem pois olhar para Portugal como um mercado local de 10 milhões de habitantes, mas sim para o grande mercado da União Europeia, actualmente com cerca de 375 milhões de consumidores e que poderá atingir aproximadamente 480 milhões com o previsto alargamento a leste dentro de pouco anos. O aprofundamento das relações económicas entre os nossos países deve assim ser visto, e ganha maior importância, no quadro dos blocos regionais a que pertencem, a União Europeia e a North America Free Trade Area.


Minhas Senhoras e Meus Senhores

Para terminar, deixo o desafio e o convite para que os empresários canadianos aqui presentes ou outros visitem Portugal com iniciativas e projectos e avaliem in loco as vantagens da economia portuguesa para a localização dos vossos investimentos no exterior. E agora, antes de concluir e de vos convidar a provar alguns pratos da gastronomia portuguesa, peço a todos que me acompanhem num brinde ao desenvolvimento das relações económicas e comerciais luso-canadianas.

Muito obrigado pela vossa atenção.