Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Boas - Vindas na Câmara Municipal de Praga

Praga - República Checa
10 de Julho de 2001


Senhor Presidente da Câmara,
Minhas Senhoras e meus Senhores,


Quero agradecer-lhe, antes de mais, Senhor Presidente da Câmara, esta tão simpática recepção que tanto honra Portugal e os portugueses.
Esta é uma ocasião para prestar homenagem à população de Praga e para testemunhar da minha admiração sincera pela forma como os seus habitantes têm sabido preservar o seu encanto.

Harmonizar tradição e modernidade, renovar sem ferir o sentido da história mas respondendo às necessidades do nosso tempo, gerir a vida quotidiana de uma cidade, transmitir aos seus habitantes práticas de civilidade urbana, satisfazer as suas exigências específicas e legítimas não são tarefas fáceis. Mas sei, pelas funções que anteriormente exerci, quão estimulante é o desafio que colocam às municipalidades e grata a constatação de resultados.

Sem dúvida que muitos dos graves problemas com que as nossas sociedades se defrontam – desemprego, exclusão social e económica, criminalidade, corrupção, violência, intolerância – têm contornos marcadamente local, cabendo assim às municipalidades a responsabilidade de lhes dar solução, de procurar respostas adequadas que contribuam para a melhoria tanto da qualidade de vida dos cidadãos como do tecido urbano ou rural.

Praga tem sabido corresponder com acerto às solicitações do presente, sem descurar, ao mesmo tempo, o seu extraordinário património cultural que a torna num caso singular, no concerto cada vez mais competitivo das metrópoles europeias.

Criação lenta e colectiva, marcada pela história e pela sobreposição de estilos, Praga encerra em filigrana uma cidade imaginária e romanesca, como que para fazer jus à vontade do Imperador Carlos IV, que imbuído de esoterismo, cosmologias e de sonhos alquímicos a mandou reconstruir à maneira de um espaço orientado pelas leis da astronomia, como uma espécie de grande calendário urbano, em que as direcções das ruas coincidem com a orientação dos solstícios.

Não podemos pensar em Praga sem desenrolar o fio da história, sem rever, recuando sempre mais na memória, os tempos da revolução de veludo, da democracia popular, do protectorado nazi, da primeira República, do império austro-húngaro, da arte déco, da arquitectura cubista, da Secessão copiada de Viena, dos estilos fim de século, do Rócócó, do Barroco, do Renascimento, do Gótico flamejante, e, por último, do longínquo Românico, por alturas da fundação.

O encanto e a magia de Praga devem-se à sobreposição de estilos e de épocas, mas também ao cruzamento de vidas e destinos, de gente anónima e de personagens ilustres que por aqui passaram, que aqui se encontraram e que, ainda hoje, nos interpelam e cujas obras fazem parte do nosso património cultural. Como não evocar Hasek, Rilke, Max Brod, Kundera, e naturalmente Kafka; como esquecer Mozart, Dvorak, Janacek, Smetana; como omitir Casanova e naturalmente Milena.

Praga, para além da justa fama literária e artística de que desfruta, continua a ser um polo cultural importante da Europa. A atestá-lo, os seus museus e galerias de arte, as suas salas de ópera, a sua excelente Filarmónica, o Festival de Música anual de Praga que goza de prestígio internacional.

Ao visitar Praga, temos o sentimento de mergulhar na grande tradição europeia e a alegria de saber que esta cidade, cuja liberdade foi durante décadas coarctada, pode hoje retomar o seu lugar como uma grande capital da cultura europeia.

Reitero-lhe os meus agradecimentos, Senhor Presidente da Câmara, a sua recepção tão calorosa e desejo-lhe, a si, aos seus colaboradores e a todos os habitantes de Praga, todos os sucessos.