150 Anos da Incrível Almadense


28 de Novembro de 1998


Esta Sessão Solene que assinala os 150 anos da Incrível Almadense reveste-se de grande significado e dá-nos oportunidade de homenagear uma das mais antigas e ilustres colectividades do País, que, entre outras actividades, mantém, desde a sua fundação e sem interrupções, uma banda filarmónica activa e prestigiada.

Todos sabemos que a Sociedade Filarmónica Incrível Almadense não é apenas uma colectividade. Representa um valioso património cultural de Almada e uma referência fundamental na sua história.

Século e meio representa muito na vida de uma Sociedade Filarmónica que tem realizado uma obra invulgar de difusão cultural, sempre dentro dum espírito associativo e cívico. Com uma actividade intensa e múltipla, esta instituição tem fomentado a música, a leitura, o cinema, o teatro, a dança e a educação física.

A Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, nasceu uma década depois de, em 1838, ter sido promulgado, por inspiração de Almeida Garrett, um decreto que reformou o plano geral de instrução pública. Com esta medida incentiva-se o gosto e a valorização popular pela cultura, nomeadamente pela música tradicional e erudita, na sequência das vitórias liberais de 1820. A Incrível foi uma das primeiras Sociedades Populares Musicais que se criaram em Portugal.

Ao longo destes 150 anos vividos intensamente, de geração em geração, a Incrível Almadense tem sabido resistir a crises, a rivalidades, a períodos conturbados que a história nacional e local conheceu, graças a um conjunto de grandes figuras que marcaram esta casa.

O espírito democrático que esta Sociedade tem cultivado, procurando manter-se independente de poderes instituídos, custou, durante a ditadura, dissabores, perseguições e buscas. A Sociedade Filarmónica Incrível Almadense foi um local de resistência e de liberdade, mantendo o respeito por todos os associados, independentemente das suas opções religiosas e políticas.

Alguns dos seus dirigentes conheceram mesmo o Campo do Tarrafal, como foi o caso de José Correia Pires, que dirigiu e serviu esta casa, dando um grande contributo para a formação da consciência política dos Almadenses.

Termino saudando a direcção e os sócios desta Colectividade e todos os convidados presentes nesta sessão. Desejo que no futuro, como até agora, a Incrível encontre os novos caminhos do associativismo no século XXI, com espírito de abertura e ampliando a sua acção junto das camadas mais jovens, respondendo aos seus interesses, anseios e preocupações. É desse modo que o passado se honra e projecta no futuro, garantindo a evolução e a actualização permanente.

Numa sociedade em que tantas vezes parecem só imperar os interesses imediatos e o egoísmo, temos o dever de lutar para que as grandes causas altruístas e solidárias permaneçam activas e mobilizem as pessoas. As colectividades pelo seu enraizamento e tradições populares são lugares em que a dedicação à vida da comunidade se concretiza no dia-a-dia. Merecem, por isso, ser apoiadas e estimuladas.

Em homenagem à obra e à acção da Incrível Almadense e dos que, nesta Casa, resistiram e lutaram pela liberdade, decidi agraciar, em nome de Portugal, esta Sociedade com o Grau de Membro Honorário da Ordem da Liberdade. É esse um acto de justiça que cumpro com muito gosto.