Senhor Presidente
Excelentíssima Senhora de Ricardo Lagos
Excelências
Minhas senhoras e meus senhoresConstitui para mim uma honra e um verdadeiro prazer receber Vossa Excelência nesta Visita de Estado a Portugal, a primeira do meu segundo mandato como Presidente da República.
Na pessoa de Vossa Excelência, vemos não apenas o Chefe de Estado de um país amigo, mas também uma figura de referência na luta pela restauração da democracia e das liberdades no Chile e um homem político que se soube impôr pela visão humanista, inteligência e determinação, conduzindo agora o seu país na via da consolidação democrática, do desenvolvimento económico e da justiça social. Tenho o privilégio de conhecê-lo, Senhor Presidente, de há muitos anos a esta parte. É pois, com toda a amizade e sinceridade que lhe presto esta merecida homenagem.
A visita de Vossa Excelência constitui um momento alto da aproximação entre os nossos dois países, fruto do intenso contacto a nível bilateral e multilateral que se tem verificado nos últimos anos, quer por ocasião das frequentes visitas entre membros dos respectivos Governo, quer nas cimeiras anuais da Ibero-América, locais privilegiados de debate e concertação, quer ainda no diálogo entre a União Europeia, o Grupo do Rio e o Mercosul.
Essa aproximação tem-se traduzido por uma crescente coincidência de pontos de vista, bem como pelo aprofundamento das relações bilaterais, patente na assinatura de diversos convénios, na expansão sustentada das nossas trocas comerciais e em alguns casos de investimento de empresas portuguesas, tornando o Chile um dos principais parceiros de Portugal na América Latina.
Estou certo que, no futuro, a convergência de valores que se verifica entre os nossos dois países, a inserção de ambos, sem reservas nem constrangimentos, na economia mundial, e a respectiva integração em organizações regionais desejosas de desenvolver e consolidar as suas relações são factores que continuarão a aproximá-los cada vez mais.
Quero, por isso, deixar aos empresários portugueses e chilenos uma palavra de estímulo e de confiança quanto às perspectivas de negócios entre os dois países. No plano comercial, dos investimentos, do turismo, temos muito a ganhar em nos conhecermos melhor e em explorarmos, para benefício mútuo, as afinidades naturais existentes entre os dois Estados da Península Ibérica e os países da América Latina.
Senhor Presidente
Como todos sabemos, o processo de globalização tem sido alvo de uma contestação crescente, por movimentos de índole muito variada. Eu próprio tenho chamado a atenção para alguns dos efeitos mais problemáticos da globalização, tais como a desigualdade crescente entre ricos e pobres e as agressões contra o ambiente. Mas não faz sentido condenar a globalização no seu todo, sem oferecer alternativas, nem é legítimo imputar-lhe todos os males do mundo.
A globalização é um processo histórico de longo curso em que a integração pela via do mercado tem sempre precedido a criação de regras que estruturem a comunidade internacional como uma comunidade de direito.
O desafio que está posto à comunidade internacional, neste inicio do século XXI é o de reforçar a sua capacidade de auto-governação, através de uma cooperação mais intensa e estruturada entre os Estados, de modo a assegurar um funcionamento correcto do mercado, promover maior equidade na distribuição de recursos e assegurar a gestão adequada de bens públicos, tais como o ambiente.
Quanto aos governos nacionais, compete-lhes gerir da melhor forma os factores de oportunidade e risco que a globalização comporta, de modo a aproveitarem plenamente os primeiros e se protegerem contra os segundos. Exemplos como o do Chile, ou o de Portugal, mostram que os impulsos da globalização, se correctamente canalizados, são factores positivos de desenvolvimento e liberdade. A progressiva abertura dos mercados, a expansão do comércio internacional, a liberdade de movimentos do capital, a difusão crescente dos valores da democracia, a expansão acelerada das tecnologias de informação e comunicação, representam oportunidades que os nossos dois países, tal como muitos outros, têm sabido aproveitar.
Baseado na sua experiência como membro da União Europeia, Portugal sempre defendeu a importancia dos processos de integração regional face à globalização, bem como a necessidade de forjar parcerias entre espaços regionais. Sei que Vossa Excelência partilha desta opinião. Quero por isso reiterar o interesse de Portugal no reforço das relações entre a União Europeia e a América Latina, que se deve traduzir na conclusão, tão rápida quanto possível, das negociações para a celebração de Acordos de Comércio Livre entre a União Europeia e o Chile e o Mercosul.
Quero ainda referir, com muito agrado, a participação do Chile na UNTAET. A forma como decorreram as recentes eleições para a Assembleia Constituinte em Timor constitui mais uma demonstração de civismo e maturidade por parte do povo timorense. Estou certo que Timor Leste continuará a saber merecer a ajuda da Comunidade Internacional, no seu processo de reconciliação e transição para a independência.
Senhor Presidente
Permita-me, antes de terminar, que preste sincera homenagem ao Chile, país que logrou sair reforçado das provações a que foi sujeito a partir dos anos setenta, possuindo hoje uma das economias mais sólidas e abertas da América Latina e uma democracia perfeitamente consolidada, que faz juz à forte e antiga tradição liberal de que os chilenos justamente se orgulham.
Peço, pois a todos os presentes que se juntem a mim num brinde à amizade entre Portugal e o Chile, à crescente prosperidade dos seus respectivos povos e à saúde e felicidade de Vossa Excelência e dos que lhe são próximos.