Discurso do Presidente da República no banquete em honra do Presidente da República do Chile

Lisboa
10 de Setembro de 2001


Senhor Presidente
Excelentíssima Senhora de Ricardo Lagos
Excelências
Minhas senhoras e meus senhores

Constitui para mim uma honra e um verdadeiro prazer receber Vossa Excelência nesta Visita de Estado a Portugal, a primeira do meu segundo mandato como Presidente da República.

Na pessoa de Vossa Excelência, vemos não apenas o Chefe de Estado de um país amigo, mas também uma figura de referência na luta pela restauração da democracia e das liberdades no Chile e um homem político que se soube impôr pela visão humanista, inteligência e determinação, conduzindo agora o seu país na via da consolidação democrática, do desenvolvimento económico e da justiça social. Tenho o privilégio de conhecê-lo, Senhor Presidente, de há muitos anos a esta parte. É pois, com toda a amizade e sinceridade que lhe presto esta merecida homenagem.

A visita de Vossa Excelência constitui um momento alto da aproximação entre os nossos dois países, fruto do intenso contacto a nível bilateral e multilateral que se tem verificado nos últimos anos, quer por ocasião das frequentes visitas entre membros dos respectivos Governo, quer nas cimeiras anuais da Ibero-América, locais privilegiados de debate e concertação, quer ainda no diálogo entre a União Europeia, o Grupo do Rio e o Mercosul.
Essa aproximação tem-se traduzido por uma crescente coincidência de pontos de vista, bem como pelo aprofundamento das relações bilaterais, patente na assinatura de diversos convénios, na expansão sustentada das nossas trocas comerciais e em alguns casos de investimento de empresas portuguesas, tornando o Chile um dos principais parceiros de Portugal na América Latina.


Estou certo que, no futuro, a convergência de valores que se verifica entre os nossos dois países, a inserção de ambos, sem reservas nem constrangimentos, na economia mundial, e a respectiva integração em organizações regionais desejosas de desenvolver e consolidar as suas relações são factores que continuarão a aproximá-los cada vez mais.


Quero, por isso, deixar aos empresários portugueses e chilenos uma palavra de estímulo e de confiança quanto às perspectivas de negócios entre os dois países. No plano comercial, dos investimentos, do turismo, temos muito a ganhar em nos conhecermos melhor e em explorarmos, para benefício mútuo, as afinidades naturais existentes entre os dois Estados da Península Ibérica e os países da América Latina.


Senhor Presidente


Como todos sabemos, o processo de globalização tem sido alvo de uma contestação crescente, por movimentos de índole muito variada. Eu próprio tenho chamado a atenção para alguns dos efeitos mais problemáticos da globalização, tais como a desigualdade crescente entre ricos e pobres e as agressões contra o ambiente. Mas não faz sentido condenar a globalização no seu todo, sem oferecer alternativas, nem é legítimo imputar-lhe todos os males do mundo.
A globalização é um processo histórico de longo curso em que a integração pela via do mercado tem sempre precedido a criação de regras que estruturem a comunidade internacional como uma comunidade de direito.


O desafio que está posto à comunidade internacional, neste inicio do século XXI é o de reforçar a sua capacidade de auto-governação, através de uma cooperação mais intensa e estruturada entre os Estados, de modo a assegurar um funcionamento correcto do mercado, promover maior equidade na distribuição de recursos e assegurar a gestão adequada de bens públicos, tais como o ambiente.

Quanto aos governos nacionais, compete-lhes gerir da melhor forma os factores de oportunidade e risco que a globalização comporta, de modo a aproveitarem plenamente os primeiros e se protegerem contra os segundos. Exemplos como o do Chile, ou o de Portugal, mostram que os impulsos da globalização, se correctamente canalizados, são factores positivos de desenvolvimento e liberdade. A progressiva abertura dos mercados, a expansão do comércio internacional, a liberdade de movimentos do capital, a difusão crescente dos valores da democracia, a expansão acelerada das tecnologias de informação e comunicação, representam oportunidades que os nossos dois países, tal como muitos outros, têm sabido aproveitar.


Baseado na sua experiência como membro da União Europeia, Portugal sempre defendeu a importancia dos processos de integração regional face à globalização, bem como a necessidade de forjar parcerias entre espaços regionais. Sei que Vossa Excelência partilha desta opinião. Quero por isso reiterar o interesse de Portugal no reforço das relações entre a União Europeia e a América Latina, que se deve traduzir na conclusão, tão rápida quanto possível, das negociações para a celebração de Acordos de Comércio Livre entre a União Europeia e o Chile e o Mercosul.


Quero ainda referir, com muito agrado, a participação do Chile na UNTAET. A forma como decorreram as recentes eleições para a Assembleia Constituinte em Timor constitui mais uma demonstração de civismo e maturidade por parte do povo timorense. Estou certo que Timor Leste continuará a saber merecer a ajuda da Comunidade Internacional, no seu processo de reconciliação e transição para a independência.
Senhor Presidente


Permita-me, antes de terminar, que preste sincera homenagem ao Chile, país que logrou sair reforçado das provações a que foi sujeito a partir dos anos setenta, possuindo hoje uma das economias mais sólidas e abertas da América Latina e uma democracia perfeitamente consolidada, que faz juz à forte e antiga tradição liberal de que os chilenos justamente se orgulham.


Peço, pois a todos os presentes que se juntem a mim num brinde à amizade entre Portugal e o Chile, à crescente prosperidade dos seus respectivos povos e à saúde e felicidade de Vossa Excelência e dos que lhe são próximos.