Discurso do Presidente da República por ocasião da Sessão de Abertura do X Congresso dos Bussiness and Innovation Centers

Porto
04 de Outubro de 2001


Gostaria em primeiro lugar de agradecer o convite que me foi dirigido para presidir a esta sessão de abertura do X Congresso Europeu de BIC’s, desejando que o acerto na escolha da cidade do Porto, capital europeia de cultura neste ano de 2001, fique sublinhado pelos resultados que as vossas jornadas de trabalho venham a obter.

A preocupação que motiva este congresso – reflectir sobre os caminhos convergentes de economia e informação, de empresa e conhecimento – está hoje no centro dos grandes desígnios da modernidade europeia. Há razões para dizer que o tema ganhou uma nova actualidade, sobretudo numa altura em que a economia europeia regista um abrandamento no seu crescimento, em que acontecimentos recentes acrescentaram factores novos de incerteza e em que se assiste a uma revisão de alguns postulados formalizados em torno da chamada Nova Economia.

O objectivo estratégico para os próximos 10 anos traçado na Cimeira de Lisboa de Março de 2000 é muito ambicioso e só uma forte perseverança e uma adequada coordenação de políticas, aos níveis europeu, nacional, regional e local, poderão mantê-lo como uma meta. Pela sua própria natureza, essa meta estará aliás sempre em evolução e irá colocando novos desafios.

Uma economia baseada no conhecimento, dinâmica e competitiva, requer uma clara aposta na qualidade do factor humano. Este é sempre o factor decisivo no crescimento da produtividade de todos os recursos. Mas há uma mudança de atitude induzida por esta economia que implica também uma mudança de cultura do sistema de aprendizagem, e certamente também do seu modelo de gestão. Na nova dimensão do ensino, a participação em redes onde se adquirem competências ao longo da vida é crucial, para responder a um mercado de trabalho que muda rapidamente e exige novas funcionalidades.

Uma economia baseada no conhecimento incorporou a inovação como outro dos factores decisivos. Ela traduz-se na capacidade de aplicação de novos conhecimentos com o objectivo de produzir novos produtos e serviços.

Dispomos de inúmeros diagnósticos sobre o défice de inovação. Existem políticas e programas de apoio à inovação que o tentam colmatar. Mas é sabido que o principal desafio se coloca na capacidade de planear, isto é, de estimular a dinâmica empresarial enquanto capacidade de gerir e de antecipar soluções.

Os Centros de Inovação e Incubação Empresarial nasceram aliás como resposta a uma falha detectada nas taxas de aproveitamento e validação económica da inovação. A difusão do espírito empresarial adaptado ao novo modelo é, com efeito, uma condição essencial para a afirmação de uma economia baseada no conhecimento, sobretudo num mundo em que a informação e as comunicações que a suportam se tornaram uma das principais molas impulsionadoras da inovação.

Em vésperas de um marco decisivo no processo de construção de um espaço europeu mais integrado, com a circulação do euro, este é também porventura um momento apropriado para avaliar as novas oportunidades e exigências que se colocam às iniciativas empresariais baseadas na inovação – de tecnologia, de processo, de produto ou serviço, de mercado, de organização e gestão.

Porque se é certo que as micro e pequenas iniciativas empresariais que constituem hoje, cada vez mais, o segmento dinâmico da economia enfrentam dificuldades óbvias face aos acelerados processos de globalização e integração de mercados, não deixa de ser verdade que o caminho para a constituição de redes e para a cooperação está mais aberto do que nunca.

Mas todos deveremos compreender que, mais do que subsidiar situações que não sejam auto-sustentáveis, há que encarar as políticas e os programas como instrumentos habilitadores de um são espírito de iniciativa e risco, em estreita articulação com incentivos ao desenvolvimento de mecanismos financeiros que não penalizem o sucesso nem premeiem a ineficiência.

Minhas Senhoras e meus Senhores

Saber lidar com a mudança, nas empresas como nos serviços públicos, é uma exigência fundamental. A informação em que fizemos assentar a nossa Sociedade, por isso chamada de informação, é, por natureza, mutável, adaptável, reconfigurável. Por esse facto, novas oportunidades se abrem constantemente, mas só quem sabe lidar com essa possibilidade pode aproveitá-las.

Diria que mais do que nunca se exige que pensemos estrategicamente. As instituições, públicas ou privadas, tem que saber avaliar as situações, efectuar escolhas adequadas, prever evoluções, antecipar desenvolvimentos. Isto significa uma aposta decisiva na discussão de alternativas e na concepção, na gestão e no planeamento estratégico.

Por isso, o vosso trabalho, senhores congressistas, é tão importante. Apresento a todos os meus melhores votos de Bom trabalho!