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Discurso do Presidente da República por Ocasião da Sessão de Encerramento do Seminário "O Contributo dos Jovens Empresários para um Novo Impulso Político em Portugal"
Porto
Participei com todo o gosto nesta jornada dedicada ao tema “O contributo dos jovens empresários para um novo impulso político em Portugal”. Creio que foram aqui trazidas criticas e propostas de todo o interesse e espero que elas possam ser publicadas, pois constituem matéria de reflexão que importaria ter disponível.
Quero dizer-vos que muitas das preocupações que subjazem a esta iniciativa são também as minhas preocupações. No horizonte, vejo dificuldades e vulnerabilidades do nosso país, designadamente da sua economia, que a crise internacional, em muitos aspectos imprevisível, mas certamente prolongada, pode acentuar. Mas também vejo potencialidades humanas e culturais dos portugueses e acredito na solidez da Democracia. Como vós, espero que das suas instituições, saiam sempre, e sobretudo nos momentos difíceis, os sinais capazes de garantir a confiança e o impulso modernizador à economia e à sociedade. Como Presidente da República, são também esses sinais que procuro dar e estimular. Duas palavras, nesta ocasião, meus amigos, uma dirigida à ANJE, e aos jovens empresários, e outra, de âmbito mais geral, sobre o desafio crucial da economia portuguesa. Inicia-se hoje o ciclo comemorativo do 15º aniversário da Associação Nacional de Jovens Empresários. Esta é decerto uma ocasião em que os seus membros não deixarão de olhar o caminho percorrido e, com o distanciamento possível, avaliar em que grau conseguiram os objectivos com que a Associação foi criada e de que modo eles foram sendo reformulados em resposta a uma realidade sempre em evolução. Cada vez mais a transformação e modernização da economia, nas sociedades desenvolvidas, dependem do contributo e da iniciativa dos empresários. E, sobretudo em situações como a do nosso País, em que décadas de atrasos estruturais e de anestesia do espírito empreendedor criaram uma cultura com altos índices de aversão ao risco, todos os esforços e iniciativas que ajudem a difundir o espírito de empresa e o gosto pelo desafio criativo, o empreende dorismo, são passos em frente no caminho do progresso e bem-estar da sociedade. Os jovens são naturalmente os principais agentes dessa mudança cultural que permita progredir mais depressa e obter níveis de vida mais próximos dos de outros países que, se no passado e para muitos eram realidades distantes e difusas, são hoje nossos parceiros e presenças quase familiares que a revolução das tecnologias de informação e comunicação tornaram instantâneas. E se ser empresário será a vocação de alguns, muitas das características que se aproveitam e desenvolvem na formação de jovens empresários são igualmente relevantes na prossecução de muitas outras actividades com contributo relevante para o desenvolvimento económico e social do País. Entretanto, e para apoiar e estimular a actividade empresarial, a política económica deve criar condições de enquadramento institucional e regulamentar adequadas, removendo os entraves desnecessários e propiciando serviços públicos eficientes. Mas, assim como o excesso de burocracia tem que ser combatido e os adequados instrumentos de apoio reclamados, também terão que ser os empresários a, ambicionando o sucesso legítimo, dispensar proteccionismos desnecessários e, enfrentando a concorrência, apostar forte na inovação tecnológica, traduzida em produtos e processos capazes de competirem com sucesso na economia global. A economia portuguesa tem pela frente problemas complexos que não se resolvem no círculo vicioso da auto-desculpabilização dos empresários perante um Estado que não lhes resolve os problemas. Basta ver como, com o mesmo Estado e as mesmas políticas públicas, há empresas que progridem muito mais do que outras, em condições semelhantes, para concluir que a diferença está na visão, capacidade de organização e liderança dos empresários. O Mundo mudou bastante na última década. As bases da competição entre economias alargaram-se e os mercados unificaram-se. Por isso há que combater mais do que nunca as ilusões dos mercados fechados, dos proteccionismos artificiais e da subsidio-dependência. Os empresários de sucesso são os que são capazes de enfrentar os desafios e de aproveitar as oportunidades que se lhes apresentam; os que estão abertos à inovação e reestruturação que aumentem a produtividade e a competitividade; os que se preocupam com as questões do ambiente e do desenvolvimento sustentável; e os que incorporam nos seus comportamentos a dimensão ética, dentro da empresa e na relação com a sociedade. Em suma, os que partilham uma cultura empresarial moderna. Tudo isto não invalida o importante papel do Estado na regulação e no estímulo da actividade empresarial, assegurando políticas públicas adequadas ao bom funcionamento dos mercados, à educação e à formação, e simplificando e melhorando a burocracia. Sobretudo no campo das micro e pequenas empresas, que são a esmagadora maioria das que os jovens empresários criam, há decerto mais e melhor a fazer no apoio à internacionalização, incluindo aqui a promoção de parcerias com empresas de outros mercados, e na criação de incentivos fiscais que permitam o desenvolvimento de massa crítica no capital-semente e no capital de risco, instrumentos tão importantes e tão pouco presentes na nossa economia. Os problemas económicos actuais são complexos e os acontecimentos recentes não ajudam. Mas isto só deve aumentar a determinação com que os empresários, sobretudo os jovens empresários, e as suas associações, procuram soluções inovadoras e contribuem para uma economia mais próspera. Minhas Senhoras e meus Senhores Uma palavra, final, sobre a encruzilhada – porque duma encruzilhada se trata – da economia portuguesa. É a encruzilhada das escolhas, das medidas, algumas porventura difíceis, mas necessárias para preparar o futuro. A economia portuguesa progrediu bastante nas ultimas décadas, especialmente desde a adesão à União Europeia. Mas a estrutura produtiva não é suficientemente sólida e eficiente para poder responder com tranquilidade e segurança aos desafios da competição global. Acresce que existem desequilíbrios macroeconómicos que não podem ser descurados e têm de ser corrigidos. Para singrar na economia global, a economia portuguesa precisa de ser mais competitiva e mais produtiva. Os portugueses, individualmente e integrados nas organizações em que trabalham, empresas ou Estado, precisam de produzir mais e sobretudo melhor, para ter sucesso em economia aberta e num ambiente de concorrência generalizada. A competitividade em valor não é o único mas é o mais importante factor de competitividade e tem uma importância acrescida desde que, no início de 1999, Portugal passou a partilhar a moeda única, o euro, e deixou de ter possibilidade de ganhar competitividade por via cambial. Não ignoro que há condições que é preciso garantir para actuar de forma sustentada sobre a produtividade; desde a educação e formação à qualidade das instituições e das política públicas. Por agora, quero apenas deixar, aqui, neste forum de jovens empresários, um apelo a todos os empresários portugueses. Um apelo que se dirige à sua capacidade de iniciativa e de assunção de riscos calculados, à sua capacidade de inovação de produtos e de processos de produção, e sobretudo de organização e de motivação dos trabalhadores. Estas capacidades são indispensáveis para que obtenhamos uma melhoria da produtividade das empresas. São precisos muitos mais empresários e gestores dinâmicos para adaptar e desenvolver as empresas portuguesas no quadro de uma economia global e cada vez mais baseada no conhecimento. Aqui fica este apelo que é, em simultâneo, o meu voto de confiança. |