Discurso do Presidente da República por Ocasião da Sessão de Encerramento do Seminário "O Contributo dos Jovens Empresários para um Novo Impulso Político em Portugal"

Porto
04 de Outubro de 2001


Participei com todo o gosto nesta jornada dedicada ao tema “O contributo dos jovens empresários para um novo impulso político em Portugal”. Creio que foram aqui trazidas criticas e propostas de todo o interesse e espero que elas possam ser publicadas, pois constituem matéria de reflexão que importaria ter disponível.

Quero dizer-vos que muitas das preocupações que subjazem a esta iniciativa são também as minhas preocupações. No horizonte, vejo dificuldades e vulnerabilidades do nosso país, designadamente da sua economia, que a crise internacional, em muitos aspectos imprevisível, mas certamente prolongada, pode acentuar. Mas também vejo potencialidades humanas e culturais dos portugueses e acredito na solidez da Democracia. Como vós, espero que das suas instituições, saiam sempre, e sobretudo nos momentos difíceis, os sinais capazes de garantir a confiança e o impulso modernizador à economia e à sociedade. Como Presidente da República, são também esses sinais que procuro dar e estimular.

Duas palavras, nesta ocasião, meus amigos, uma dirigida à ANJE, e aos jovens empresários, e outra, de âmbito mais geral, sobre o desafio crucial da economia portuguesa.

Inicia-se hoje o ciclo comemorativo do 15º aniversário da Associação Nacional de Jovens Empresários.

Esta é decerto uma ocasião em que os seus membros não deixarão de olhar o caminho percorrido e, com o distanciamento possível, avaliar em que grau conseguiram os objectivos com que a Associação foi criada e de que modo eles foram sendo reformulados em resposta a uma realidade sempre em evolução.

Cada vez mais a transformação e modernização da economia, nas sociedades desenvolvidas, dependem do contributo e da iniciativa dos empresários. E, sobretudo em situações como a do nosso País, em que décadas de atrasos estruturais e de anestesia do espírito empreendedor criaram uma cultura com altos índices de aversão ao risco, todos os esforços e iniciativas que ajudem a difundir o espírito de empresa e o gosto pelo desafio criativo, o empreende dorismo, são passos em frente no caminho do progresso e bem-estar da sociedade.

Os jovens são naturalmente os principais agentes dessa mudança cultural que permita progredir mais depressa e obter níveis de vida mais próximos dos de outros países que, se no passado e para muitos eram realidades distantes e difusas, são hoje nossos parceiros e presenças quase familiares que a revolução das tecnologias de informação e comunicação tornaram instantâneas.

E se ser empresário será a vocação de alguns, muitas das características que se aproveitam e desenvolvem na formação de jovens empresários são igualmente relevantes na prossecução de muitas outras actividades com contributo relevante para o desenvolvimento económico e social do País.

Entretanto, e para apoiar e estimular a actividade empresarial, a política económica deve criar condições de enquadramento institucional e regulamentar adequadas, removendo os entraves desnecessários e propiciando serviços públicos eficientes. Mas, assim como o excesso de burocracia tem que ser combatido e os adequados instrumentos de apoio reclamados, também terão que ser os empresários a, ambicionando o sucesso legítimo, dispensar proteccionismos desnecessários e, enfrentando a concorrência, apostar forte na inovação tecnológica, traduzida em produtos e processos capazes de competirem com sucesso na economia global.

A economia portuguesa tem pela frente problemas complexos que não se resolvem no círculo vicioso da auto-desculpabilização dos empresários perante um Estado que não lhes resolve os problemas. Basta ver como, com o mesmo Estado e as mesmas políticas públicas, há empresas que progridem muito mais do que outras, em condições semelhantes, para concluir que a diferença está na visão, capacidade de organização e liderança dos empresários.

O Mundo mudou bastante na última década. As bases da competição entre economias alargaram-se e os mercados unificaram-se. Por isso há que combater mais do que nunca as ilusões dos mercados fechados, dos proteccionismos artificiais e da subsidio-dependência. Os empresários de sucesso são os que são capazes de enfrentar os desafios e de aproveitar as oportunidades que se lhes apresentam; os que estão abertos à inovação e reestruturação que aumentem a produtividade e a competitividade; os que se preocupam com as questões do ambiente e do desenvolvimento sustentável; e os que incorporam nos seus comportamentos a dimensão ética, dentro da empresa e na relação com a sociedade. Em suma, os que partilham uma cultura empresarial moderna.

Tudo isto não invalida o importante papel do Estado na regulação e no estímulo da actividade empresarial, assegurando políticas públicas adequadas ao bom funcionamento dos mercados, à educação e à formação, e simplificando e melhorando a burocracia.

Sobretudo no campo das micro e pequenas empresas, que são a esmagadora maioria das que os jovens empresários criam, há decerto mais e melhor a fazer no apoio à internacionalização, incluindo aqui a promoção de parcerias com empresas de outros mercados, e na criação de incentivos fiscais que permitam o desenvolvimento de massa crítica no capital-semente e no capital de risco, instrumentos tão importantes e tão pouco presentes na nossa economia.

Os problemas económicos actuais são complexos e os acontecimentos recentes não ajudam. Mas isto só deve aumentar a determinação com que os empresários, sobretudo os jovens empresários, e as suas associações, procuram soluções inovadoras e contribuem para uma economia mais próspera.

Minhas Senhoras e meus Senhores

Uma palavra, final, sobre a encruzilhada – porque duma encruzilhada se trata – da economia portuguesa. É a encruzilhada das escolhas, das medidas, algumas porventura difíceis, mas necessárias para preparar o futuro.

A economia portuguesa progrediu bastante nas ultimas décadas, especialmente desde a adesão à União Europeia. Mas a estrutura produtiva não é suficientemente sólida e eficiente para poder responder com tranquilidade e segurança aos desafios da competição global. Acresce que existem desequilíbrios macroeconómicos que não podem ser descurados e têm de ser corrigidos.

Para singrar na economia global, a economia portuguesa precisa de ser mais competitiva e mais produtiva. Os portugueses, individualmente e integrados nas organizações em que trabalham, empresas ou Estado, precisam de produzir mais e sobretudo melhor, para ter sucesso em economia aberta e num ambiente de concorrência generalizada.

A competitividade em valor não é o único mas é o mais importante factor de competitividade e tem uma importância acrescida desde que, no início de 1999, Portugal passou a partilhar a moeda única, o euro, e deixou de ter possibilidade de ganhar competitividade por via cambial.

Não ignoro que há condições que é preciso garantir para actuar de forma sustentada sobre a produtividade; desde a educação e formação à qualidade das instituições e das política públicas.

Por agora, quero apenas deixar, aqui, neste forum de jovens empresários, um apelo a todos os empresários portugueses. Um apelo que se dirige à sua capacidade de iniciativa e de assunção de riscos calculados, à sua capacidade de inovação de produtos e de processos de produção, e sobretudo de organização e de motivação dos trabalhadores. Estas capacidades são indispensáveis para que obtenhamos uma melhoria da produtividade das empresas. São precisos muitos mais empresários e gestores dinâmicos para adaptar e desenvolver as empresas portuguesas no quadro de uma economia global e cada vez mais baseada no conhecimento.

Aqui fica este apelo que é, em simultâneo, o meu voto de confiança.