Discurso do Presidente da República por ocasião das comemorações do 20º aniversário do INESC

Oeiras
26 de Setembro de 2001


É com prazer que me associo às comemorações do 20º aniversário do INESC. Sem dúvida, estas duas décadas que decorreram desde a sua fundação foram anos de afirmação de inequívoca capacidade científica dos Portugueses, e de Portugal, nos domínios da investigação e das aplicações das novas tecnologias.

Cabe aqui registar o papel desempenhado pelo INESC desde o início da sua actividade, como pioneiro na formação de parcerias envolvendo a Universidade e o sector empresarial, como actor privilegiado da modernização em sectores de ponta, como participante empenhado na melhoria das competências científicas e técnicas de uma nova geração de cidadãos.

A modernização do país depende fortemente da percepção de que o papel social das instituições se alterou significativamente. A capacidade de adaptação à mudança é uma condição decisiva da modernização. Ninguém pode ignorar esta realidade. Nem o sistema político, nem as instituições.

Estas duas décadas foram, também, de uma intensa participação nas instituições e nos programas europeus. É-me grato reconhecer o papel que a comunidade científica portuguesa, e os investigadores e outros trabalhadores do INESC, desempenharam nesta autêntica conquista de um espaço legitimado de cooperação, garantido pela competência e pelo profissionalismo sempre demonstrados.

Sabemos, todos, que o futuro não está escrito em nenhum livro, nem armazenado numa base de dados. E que a sua dimensão é essencial para encarar o presente como o cruzamento de dois processos: o do passado, histórico, e o da mudança, conduzindo a múltiplas possibilidades.

As transformações por que passam as sociedades modernas são cada vez mais rápidas. Por este motivo, a inovação é crucial para o nosso País. A manutenção de processos ou formas de organização caducos e a recusa em experimentar e avaliar novos procedimentos paga-se muito caro nos dias de hoje. A defesa dos pequenos poderes é totalmente lesiva do interesse geral.

Temos que apelar a todas as iniciativas que estimulem um clima favorável à tecnologia e à inovação, que criem condições concretas para que a competitividade das organizações e a produtividade das actividades realizadas no nosso país se elevem. Condições que devem incentivar não só a inovação tecnológica, como a inovação na gestão, nas relações de trabalho e na criação institucional, como ainda criar novos modos de encarar questões e problemas.

É esta abordagem que é essencial para fomentar a esperança, que deve ser a base de uma República Moderna, acentuada pelas novas condições e pelas imprevisíveis consequências dos factos dramáticos que vivemos recentemente.

Já nos finais do século XIX, Antero de Quental apontava como causa principal da nossa decadência a repressão do espírito crítico, experimental, inovador e universalista. Hoje, mais do que nunca, temos de continuar a fazer de Portugal um país moderno, aberto à contemporaneidade, um país em que a educação, a ciência, a cultura e a cidadania sejam, de facto, consideradas como condições insubstituíveis de realização individual e colectiva.

A proximidade entre o cidadão e as novas tecnologias não pode ser posta em causa por uma visão restritiva da ligação entre a Universidade e a sociedade nem por custos de acesso a novas tecnologias que se tornem num novo factor de discriminação e exclusão. Reforçar a componente científica e tecnológica na cultura portuguesa contemporânea e democratizar o acesso às novas tecnologias constitui uma tarefa prioritária de modernização.

Quero salientar que, no acesso dos cidadãos à informação e à comunicação, é fundamental percepcionar que as barreiras não se centram apenas no nível económico, mas sobretudo no plano cultural e educacional. Assim, no que respeita ao número de mulheres e homens que utilizam as novas tecnologias, é crítica a sua capacidade de aceder aos conteúdos em línguas diferentes do português. Do mesmo modo, é essencial que o sistema educativo forme os utilizadores e produtores de informação na consciência das novas questões postas pelos novos media.

Para terminar, quero saudar todos quantos construíram e trabalharam para fazer da actividade centrada no INESC um marco, uma referência, no panorama das instituições que temos que criar com vista ao futuro que nos aguarda.

Neste esforço de racionalização do futuro não há cidadãos nem instituições dispensáveis. Não há conhecimento aplicável que não deva ser bem aplicado. Nem gerações ociosas desesperando na busca de uma terra prometida. Certamente que todo o conhecimento especializado deve ser partilhado com os mais novos. Só um processo de formação contínuo levará por seu turno a novos percursos e a novos patamares de desempenho colectivo.