Discurso do Presidente da República por ocasião da Inauguração da Exposição sobre Amadeo de Souza-Cardoso

Moscovo
27 de Outubro de 2001


É para nós um privilégio e um motivo de júbilo apresentarmos esta exposição no Museu Pushkin, instituição de grandes tradições e que possui uma das belas e relevantes colecções de arte do Mundo.

A exposição que trazemos ao convívio do público russo mostra algumas das mais importantes obras do grande pintor português Amadeo de Souza-Cardoso. Amadeo , como alguns artistas russos da sua época, esteve no centro dos movimentos de vanguarda que, no início do século XX, renovaram e redefiniram a arte. Em Paris, Amadeo participou na revolução estética, ética e cultural que aí se deu.

A sua morte prematura não impediu que nos deixasse uma obra vasta, inovadora, cheia de energia e vitalidade, que tem sido avaliada, em recentes exposições internacionais, como uma obra pioneira de grande envergadura.

Fico muito contente por, no decurso desta visita de Estado à Federação Russa, poder inaugurar na vossa companhia esta exposição. Na época de Amadeo, muito artistas russos deram um contributo fundamental à invenção de novas formas de ver o Mundo, a arte, a cultura, a tradição, a ruptura. Amadeo privou e foi amigo de alguns deles, em Paris. Não tenho dúvidas de que, neste Museu, Amadeo será apreciado no que a sua obra significa e representa na arte moderna.

Esta iniciativa marca ainda um intercâmbio entre um museu português e um museu russo: o Museu do Chiado, cujo director é o Comissário de Exposição, e o Museu Pushkin, que a acolhe com tanta simpatia.

Faço votos de que este intercâmbio prossiga. Gostaríamos de ver em Portugal algumas obras da excepcional colecção do Museu Pushkin e de outros museus russos. Agradeço a todos que, em Portugal e na Rússia, com o seu apoio, tornaram possível esta exposição.

O diálogo entre Portugal e a Rússia, países situados nos dois extremos da Europa, torna-se assim símbolo de uma identidade cultural europeia, feita de diversidade. O diálogo livre entre as nossas culturas prolonga o diálogo criador e a muitas vozes, que, no princípio do século XX, teve como protagonistas grandes artistas de vários países. Esse foi o tempo de Amadeo de Souza-Cardoso, Malevitch, Picasso, Lissitzky, Matisse, Kandinsky, Archipenko, Sonia Delaunay. Esse tempo, pelo seu extraordinário poder visionário e sentido de risco, continua presente no nosso tempo, a dizer-nos que, para construir o futuro, é preciso liberdade, abertura, ambição, ousadia e criatividade.