Discurso do Presidente da República por ocasião da Sessão Inaugural das II Jornadas de Inovação e da Feira da Ciência, Tecnologia e Inovação

Porto
07 de Novembro de 2001


Foi com muito gosto que aceitei o convite para estar presente nestas Jornadas, bem como para visitar a Feira da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Todos sabemos que a complexidade do tempo em que vivemos, bem como os problemas que continuamente nos põe, exigem mais informação, maior esclarecimento, mais comunicação, maior participação, mais consciência, maior compreensão.

O próprio destino das nossas democracias depende, em larga medida, disso mesmo.

Há que criar capacidade de entender o mundo; mas há que sistematicamente empreender a sua transformação na direcção do futuro, de um futuro construtivo, solidário, confiante e sustentável.

Não podemos aceitar que as inquietações, as dúvidas e as perplexidades do presente, levem à exploração de irracionalismos primários, de superstições grosseiras, de fanatismos agressivos.

Este mundo é o nosso e não há regressos ao passado. A ciência e a experimentação, a razão crítica e a circulação alargada de informação deram origem a uma nova fase da vida da humanidade que trouxe – e continua a trazer – mudanças radicais em todos os domínios.

Por este motivo, o que os países têm de mais precioso reside na sua capacidade de inventar, de descobrir, de realizar, de transformar.

A ciência está indissoluvelmente ligada à ideia de futuro; a inovação ao caminho que construímos para lá chegar, todos os dias.

Sabemos bem que a inovação resulta de um processo de confronto contínuo entre o esforço de mudança tecnológica e a capacidade de ajustamento social a essa mudança.

Esta capacidade de ajustamento é fortemente condicionada pelas mentalidades e pelos comportamentos estabelecidos.

Deste modo, o sucesso de uma economia baseada na inovação repousa na vontade de transformar a situação existente, de aderir a novos procedimentos, de valorizar a aprendizagem.

A aprendizagem não passa só por instituições e programas. Passa pelas perspectivas e aspirações das pessoas, dos cidadãos.

Mas só assim, aprendendo e aplicando o que aprendemos, veremos novos ciclos de transformação e de crescimento surgir à luz do dia.

Por este motivo, tomei a iniciativa de promover um Colóquio sobre "Sociedade, Tecnologia e Inovação Empresarial" em Fevereiro de 2000.

Desse Colóquio, que foi interessantíssimo, e do qual resultou a publicação de um livro rico de reflexões e de interrogações, ficou claro que o tema que aqui nos traz hoje não está esgotado.

Diria, mesmo, que as questões que então nos preocuparam, estão hoje mais vivas, são hoje ainda mais urgentes e preocupantes.

Na realidade, como é possível:

- Sem um grande apetite pela investigação científica, conviver com a tecnologia e a inovação?

- Sem uma grande articulação entre políticas e instituições, criar um espaço de entendimento quanto aos caminhos a trilhar em comum?

- Sem uma acrescida cooperação entre as empresas e as instituições do ensino superior, favorecer-se a modernidade das pessoas e das ideias?

- Sem um papel mais esclarecedor e estimulador por parte das instituições financeiras, conseguir-se uma partilha mais eficaz dos riscos envolvidos no processo inovador?

- Sem uma infra-estrutura técnica e tecnológica eficiente, capaz de operar em rede, garantir-se uma regulação competente e uma certificação de qualidade que aumentem a nossa competitividade internacional?

- Sem um sistema educativo que estimule claramente a experimentação, a inovação e a comunicação, ser capazes de formar cidadãos plenos e confiantes no Portugal do futuro?

Vendo aqui reunida uma plêiade de actores e instituições chave para o nosso futuro, do Governo aos empresários, das Universidades à comunidade científica, não posso deixar de vos solicitar, em nome do País, que os resultados a que chegarem mostrem claramente os passos
já dados e a dar nestas direcções, as colaborações feitas e a fazer, os prazos e os esforços envolvidos.

Se não formos capazes de o tornar nosso, o futuro nunca será atingido, ele nunca nos pertencerá. Será o futuro dos outros, sempre visto com desconfiança, sempre entendido como uma ameaça.

É que um país sem uma ideia para o futuro é como uma grande nau à deriva, ao sabor dos ventos, à mercê das tempestades.

Um país sem ambições de futuro enreda-se e compraz-se num presente mesquinho, avaro, egoísta, angustiado.

Temos o dever de transformar o presente. Tenho confiança nas capacidades e na determinação dos Portugueses.

Desejando o maior êxito para os trabalhos que hoje se iniciam, quero também transmitir-vos que serei exigente e rigoroso na avaliação das preocupações e das iniciativas que deste grande encontro resultarem.