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Discurso do Presidente da República por ocasião da Sessão Inaugural das II Jornadas de Inovação e da Feira da Ciência, Tecnologia e Inovação
Porto
Foi com muito gosto que aceitei o convite para estar presente nestas Jornadas, bem como para visitar a Feira da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Todos sabemos que a complexidade do tempo em que vivemos, bem como os problemas que continuamente nos põe, exigem mais informação, maior esclarecimento, mais comunicação, maior participação, mais consciência, maior compreensão. O próprio destino das nossas democracias depende, em larga medida, disso mesmo. Há que criar capacidade de entender o mundo; mas há que sistematicamente empreender a sua transformação na direcção do futuro, de um futuro construtivo, solidário, confiante e sustentável. Não podemos aceitar que as inquietações, as dúvidas e as perplexidades do presente, levem à exploração de irracionalismos primários, de superstições grosseiras, de fanatismos agressivos. Este mundo é o nosso e não há regressos ao passado. A ciência e a experimentação, a razão crítica e a circulação alargada de informação deram origem a uma nova fase da vida da humanidade que trouxe – e continua a trazer – mudanças radicais em todos os domínios. Por este motivo, o que os países têm de mais precioso reside na sua capacidade de inventar, de descobrir, de realizar, de transformar. A ciência está indissoluvelmente ligada à ideia de futuro; a inovação ao caminho que construímos para lá chegar, todos os dias. Sabemos bem que a inovação resulta de um processo de confronto contínuo entre o esforço de mudança tecnológica e a capacidade de ajustamento social a essa mudança. Esta capacidade de ajustamento é fortemente condicionada pelas mentalidades e pelos comportamentos estabelecidos. Deste modo, o sucesso de uma economia baseada na inovação repousa na vontade de transformar a situação existente, de aderir a novos procedimentos, de valorizar a aprendizagem. A aprendizagem não passa só por instituições e programas. Passa pelas perspectivas e aspirações das pessoas, dos cidadãos. Mas só assim, aprendendo e aplicando o que aprendemos, veremos novos ciclos de transformação e de crescimento surgir à luz do dia. Por este motivo, tomei a iniciativa de promover um Colóquio sobre "Sociedade, Tecnologia e Inovação Empresarial" em Fevereiro de 2000. Desse Colóquio, que foi interessantíssimo, e do qual resultou a publicação de um livro rico de reflexões e de interrogações, ficou claro que o tema que aqui nos traz hoje não está esgotado. Diria, mesmo, que as questões que então nos preocuparam, estão hoje mais vivas, são hoje ainda mais urgentes e preocupantes. Na realidade, como é possível: - Sem um grande apetite pela investigação científica, conviver com a tecnologia e a inovação? - Sem uma grande articulação entre políticas e instituições, criar um espaço de entendimento quanto aos caminhos a trilhar em comum? - Sem uma acrescida cooperação entre as empresas e as instituições do ensino superior, favorecer-se a modernidade das pessoas e das ideias? - Sem um papel mais esclarecedor e estimulador por parte das instituições financeiras, conseguir-se uma partilha mais eficaz dos riscos envolvidos no processo inovador? - Sem uma infra-estrutura técnica e tecnológica eficiente, capaz de operar em rede, garantir-se uma regulação competente e uma certificação de qualidade que aumentem a nossa competitividade internacional? - Sem um sistema educativo que estimule claramente a experimentação, a inovação e a comunicação, ser capazes de formar cidadãos plenos e confiantes no Portugal do futuro? Vendo aqui reunida uma plêiade de actores e instituições chave para o nosso futuro, do Governo aos empresários, das Universidades à comunidade científica, não posso deixar de vos solicitar, em nome do País, que os resultados a que chegarem mostrem claramente os passos
Se não formos capazes de o tornar nosso, o futuro nunca será atingido, ele nunca nos pertencerá. Será o futuro dos outros, sempre visto com desconfiança, sempre entendido como uma ameaça. É que um país sem uma ideia para o futuro é como uma grande nau à deriva, ao sabor dos ventos, à mercê das tempestades. Um país sem ambições de futuro enreda-se e compraz-se num presente mesquinho, avaro, egoísta, angustiado. Temos o dever de transformar o presente. Tenho confiança nas capacidades e na determinação dos Portugueses. Desejando o maior êxito para os trabalhos que hoje se iniciam, quero também transmitir-vos que serei exigente e rigoroso na avaliação das preocupações e das iniciativas que deste grande encontro resultarem. |