Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Lançamento do "Dicionário Português-Chinês"

Palácio de Belém
16 de Novembro de 2001


Quando me foi presente a sugestão de realizar no Palácio de Belém esta cerimónia de apresentação do Dicionário de Português-Chinês, respondi afirmativamente e com o maior gosto, pois esta obra representa um marco fundamental nas relações entre a Europa e a China.

A edição que agora fica disponível é também uma justíssima homenagem aos protagonistas dessa irrepetível experiência humana da História Moderna, que é a entrada dos missionários jesuítas na Corte de Pequim, há precisamente 400 anos.

O Dicionário, como bem notou o Professor John Witek, que brilhantemente dirigiu esta edição, “corresponde a um dado momento da aprendizagem” do chinês de Matteo Ricci e Michel Ruggieri. Essa aprendizagem radicava na convicção de que era indispensável conhecer a língua, a cultura e a civilização com a qual se pretendia entrar em diálogo. Foi sobretudo a partir de então que se iniciaram os contactos intelectuais, científicos, artísticos e religiosos, cujas repercussões na Europa das Luzes e na China são conhecidas.

Assim, este Dicionário, como trabalho pioneiro, testemunha esse momento de abertura de relações entre a China e o Ocidente e mostra o papel de Portugal e dos portugueses estabelecidos em Macau nessa empresa.

Como é sabido, Macau, desde os primórdios, foi um entreposto de comércio, mas foi igualmente um importante pólo científico e cultural. Aí, existiu a primeira universidade ocidental no Extremo Oriente; por aí, se introduziu a imprensa de Guttenberg na China.

A partir de Macau preparou-se a estratégia de propagação do Cristianismo na China, mas, simultaneamente, procedeu-se à difusão das artes e das ciências ocidentais, permitindo também divulgar na Europa a cultura, os usos e os costumes chineses. Foi precisamente em Macau que, há 400 anos, começou a compilação do vocabulário Português-Chinês, que está na origem da presente edição, a qual põe em evidência o papel fulcral de Macau na história das relações de Portugal e da Europa com a China.

Neste momento, quero manifestar o nosso reconhecimento ao Professor John Witek, eminente sinólogo e historiador, a quem devemos o aturado trabalho de preparação da edição. Esse reconhecimento é extensivo a todos aqueles que com ele colaboraram nesta obra de grande erudição.

Para o Ricci Institute da Universidade de S. Francisco, dirigido por este sábio, desejo êxito nos seus projectos e faço votos para que frutifiquem as suas relações com as nossas instituições e investigadores.

Ao Instituto Português do Oriente e à sua directora, a Senhora Dra. Ana Paula Laborinho, e à Biblioteca Nacional, na pessoa do seu director, o Professor Carlos Reis, quero felicitá-los pela iniciativa. Saúdo também todas as entidades que apoiaram um projecto de tão grande envergadura.

Quero ainda cumprimentar o Embaixador João de Deus Ramos, diplomata e académico, estudioso das relações entre Portugal e a China, que teve o privilégio, em 1979, logo após o restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China, de ser o nosso embaixador em Pequim. Foi também um grande prazer ouvir a sua intervenção.

Como bem referiu, o alcance desta obra ultrapassou a sua função de simples lista de vocabulário e esteve na base de um intenso contacto e diálogo intercivilizacional. É isso que desejo sublinhar bem, pois encerra uma importante e profunda mensagem para os tempos que correm. Miguel Ruggieri e Matteo Ricci, missionários jesuítas, foram os protagonistas dessa experiência única, encetando uma nova época nas relações entre a China e o Ocidente. A lição de Ruggieri e Ricci mantém toda a actualidade para os desafios do presente.

Muitos parabéns pelo trabalho feito! Agradeço a todos a vossa presença. Hoje, aqui.