Jantar em Honra de Sua Excelência o Presidente da República Federativa do Brasil

Palácio Nacional da Ajuda
08 de Março de 2000


Senhor Presidente da República Federativa do Brasil,
Senhora D. Ruth Cardoso,
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,


Em nome da Maria José e no meu próprio saúdo a presença de V.Exas em Portugal, neste momento histórico em que comemoramos os quinhentos anos de um encontro que se prolonga até hoje.


Este encontro marcou de forma indelével a história dos nossos dois países: a do Brasil que iniciou, desde então, a construção da sua identidade nacional; e a de Portugal que, desde o século XVI até à independência do Brasil, foi fortemente influenciada pela evolução desse vasto e riquíssimo território.

Trezentos anos de colonização e duzentos anos de independência, com todas as suas vicissitudes, construíram uma relação singular entre dois estados e os seus povos. Uma relação baseada num contacto nunca interrompido, em solidariedades e influências recíprocas que se prolongam até hoje.

Somos herdeiros da história que construiu, irreversivelmente, essa singular relação. Mas somos principal e exclusivamente responsáveis por construir no presente, e com valores modernos, a continuidade desse complexo processo histórico.


Honramos a história coincidindo na vontade política de, simbolicamente, pontuar as suas datas fundadoras com uma troca de visitas oficiais entre os dois Presidentes da República. Honramos o presente apostando num relacionamento que assenta numa vontade política bilateral, consciente e plenamente assumida, em torno de objectivos fundamentais.

Em primeiro lugar, promover um melhor conhecimento recíproco das histórias dos dois países, base essencial a uma compreensão profunda das marcas deixadas na identidade dos povos.

Em segundo lugar, apostar num conhecimento maior e mais objectivo do novo Portugal democrático e do novo Brasil democrático, dois países, hoje, profundamente diferentes do que eram há 20 anos atrás e cada vez mais integrados em quadros regionais próprios. O reforço das relações Estado a Estado e entre as respectivas sociedades civis depende do nosso empenho. É pelo que fizermos no presente que seremos avaliados.
E, no presente, compete-nos procurar as melhores condições para projectar e reforçar as importantíssimas relações culturais e económicas que hoje nos ligam.

Senhor Presidente

Há uma nova geração de trocas culturais e de investimentos entre Portugal e o Brasil que está a alterar significativa e positivamente a relação entre os dois países e o grau de conhecimento e relacionamento recíproco das suas sociedades civis.

É com entusiasmo, Senhor Presidente, que acompanhamos o dinamismo que, nos últimos anos, tem caracterizado o relacionamento económico entre os nossos dois países. O investimento português no Brasil, que hoje atinge valores há poucos anos impensáveis, constitui hoje prova inequívoca da confiança dos nossos empresários no comportamento da economia brasileira, marcando uma viragem significativa no panorama das relações luso-brasileiras.

Possuímos uma herança de inestimável valor, que o tempo só faz aumentar: refiro-me naturalmente à língua, esse elemento aglutinador e elo de ligação privilegiado.

Com base nesse valioso património comum, constituiu-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, cujas potencialidades permanecem ainda por explorar em toda a sua plenitude. Estamos certos que, no âmbito do seu próximo exercício do Secretariado Executivo, o Brasil saberá fortalecer e revitalizar esse espaço de eleição, conferindo-lhe uma nova dinâmica e alcance.

Acompanhamos com satisfação o envolvimento do Brasil na reconstrução de Timor Leste, a qual continua a constituir para nós uma prioridade. O Brasil tem um contributo da maior importância a dar para consolidar a componente lusófona daquele futuro Estado. O papel da CPLP, neste contexto, afigura-se-nos igualmente muito relevante.

Não poderia, ainda, deixar de me referir ao drama que, inesperadamente, se abateu sobre Moçambique, retardando o processo de desenvolvimento daquele país irmão. E não esqueço também Angola, formulando votos para que aquele grande país possa a breve trecho reencontrar o caminho da paz e do desenvolvimento.

A visita de Vossa Excelência tem lugar no momento em que Portugal ocupa, pela segunda vez, a Presidência da União Europeia. Como membros da União Europeia, não temos poupado esforços para promover a aproximação entre a Europa e a América Latina e forjar uma parceria estratégica entre os nossos dois continentes.

Quero aqui saudar os esforços do Brasil para criar e desenvolver formas de integração regional na América Latina que constituem, na nossa opinião, instrumentos da maior importância para promover o desenvolvimento sustentado e enfrentar as consequências da globalização.


Senhor Presidente,

Recebemo-lo hoje aqui, Senhor Presidente e caro amigo, não apenas como Chefe de Estado de um país irmão mas também como uma personalidade cujas altas qualidades humanas e intelectuais e impressionante obra política e académica, ao serviço de um ideário progressista, se impuseram ao respeito e à consideração de todos nós.

A personalidade de Vossa Excelência é garante de que estas comemorações do quinto centenário da histórica viagem de Cabral serão realizadas com um espírito empreendedor, de olhos voltados para o futuro, na certeza de que esta efeméride constituirá um incentivo para o desenvolvimento e inovação dos seculares laços que unem os nossos dois povos e Estados.

Peço a todos que me acompanhem num brinde :

Pelo bem estar e progresso do Brasil ;
Pela amizade que une brasileiros e portugueses ;
Pelo reforço e diversificação das relações entre os nossos dois países ;
Ao futuro !