Condecoração do Embaixador Raúl Morodo


08 de Janeiro de 1999


Permitam-me duas palavras apenas sobre o Embaixador Raúl Morodo, começando por evocar um conhecido ditado espanhol que diz "algo se pierde en el alma cuando un amigo se va". Sei que todos os presentes comungam deste sentimento e julgo que ele não resulta somente da admiração pelo desempenho do Embaixador que agora nos deixa.
   
Raúl Morodo é, de facto, um velho amigo, de todos os que aqui estão reunidos e de Portugal; uma personalidade notável que todos conhecemos de antigos combates democráticos comuns; um intelectual vivo, irrequieto e inquieto, um homem atento ao que se passa no mundo, que gosta de ouvir e de intervir, que procura encontrar respostas para as grandes questões que a todos preocupam.
   
Raúl Morodo é igualmente um profundo conhecedor da Cultura Portuguesa, que tem estudado e divulgado em alguns textos notáveis.
   
Como Embaixador de Espanha estas qualidades evidenciaram-se naturalmente, em muito contribuindo para que as relações entre os nossos países não só mantivessem a excelência que as tem caracterizado nos últimos anos, como se aprofundassem de forma constante e intensa.
   
Espanha e Portugal, hoje mais do que nunca, mantêm uma sólida relação de amizade e cooperação que se projecta nas mais variadas áreas e se estende à chamada sociedade civil. Aquilo que em nós é diferente deixou de nos ser indiferente, antes suscitando a vontade de conhecer, o afã de compreender e a mútua admiração.
   
No plano politico-diplomático, o tempo passado pelo Embaixador Morodo em Portugal foi marcado por uma assinável convergência de perspectivas entre ambos os países sobre as grandes questões europeias e mundiais, a que correspondeu igualmente um momento excelente nas relações bilaterais, de que foi exemplo a recente Cimeira do Algarve.
   
Ao longo dos anos que passou em Lisboa, Raúl Morodo revelou sempre uma notável facilidade para agir com acerto e invulgar sentido de Estado. Soube compreender bem Portugal e os portugueses, entender as nossas razões e as ponderar os diferentes interesses. Foi um grande Embaixador, que dignamente representou Espanha e Sua Majestade o Rei.
   
Como amigo não me surpreende que assim tenha sido, conhecendo como conheço as qualidades de Raúl Morodo. Como Presidente da República, cumpre-me aqui enaltecer o tão valioso contributo dado pelo Embaixador Morodo para as relações luso-espanholas; um contributo que não começou apenas no dia em que entregou as suas cartas credenciais e que certamente continuará a ser precioso no futuro.
   
É-me pois extremamente grato agraciar o Embaixador Raúl Morodo com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.