Discurso do Presidente da República por ocasião da Recepção oferecida à Comunidade Portuguesa Residente no Reino Unido

Londres
12 de Fevereiro de 2002


A minha visita oficial ao Reino Unido, particularmente significativa no contexto da complexa situação internacional que atravessamos, não ficaria completa sem esta oportunidade de fraterno convívio com representantes da Comunidade Portuguesa radicada neste país, a que me ligam especiais laços de respeito e amizade.

Acompanham-se nesta visita o Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e Senhores Deputados dos principais partidos políticos portugueses, que comigo compartilham a alegria de estar entre vós.

Sei que muitos dos presentes residem longe do centro de Londres. Outros vieram do Sul da Inglaterra e das Ilhas do Canal. Outros ainda deslocaram-se do Norte de Inglaterra, do País de Gales, da Escócia e até da Irlanda do Norte. Por isso, em nome de minha Mulher e em meu nome pessoal, quero calorosamente agradecer a vossa presença aqui, porque sei quanto ela reflecte e manifesta o vosso carinho e amor por Portugal.

Ser emigrante não é fácil. Representa uma ruptura interior entre um antes e um depois, que tantas vezes tenho ouvido traduzir na expressão "tenho aqui o meu corpo, mas o meu coração está bem longe ! " Mas representa igualmente espírito de aventura e uma acrescida capacidade de adaptação a novos desafios, novos ambientes, novas línguas e culturas. Há um sentimento de pertença e de partilha português, há um ter Portugal no coração, que é independente de se ter apenas a nacionalidade portuguesa, ou de a acumular com outra.

Portugal não seria o que é sem os seus emigrantes. Os portugueses e luso-descendentes no Canadá, nos Estados Unidos da América, na Venezuela, no Brasil, na Austrália, na África Austral e na Europa, conferem ao nosso país uma dimensão e uma diversidade que de outro modo não teria.

A Constituição da República consagrou o reconhecimento dessa mais valia trazida pela diáspora portuguesa através da concessão do direito de voto nas eleições presidenciais a todos os emigrantes com capacidade eleitoral. Seria bom que todos os nossos compatriotas radicados no estrangeiro fizessem uso desse seu direito, participando futuramente de uma forma mais activa na vida política do seu próprio país.

Como primeiro Presidente da República eleito por todos os portugueses, quero afirmar que tenho todos os portugueses no coração e que Portugal não esquece os seus, estejam eles onde estiverem !

Mas também nos países de acolhimento importa que todos passem a exercer uma adequada participação política. Aqui no Reino Unido, como cidadãos portugueses e por consequência cidadãos da União Europeia, todos vós tendes o direito de votar e ser eleito para as Câmaras Municipais britânicas. Seria importante que esse direito fosse civicamente assumido por todos, tanto mais que em diversas autarquias londrinas a comunidade Portuguesa atinge já números com expressão política significativa.

Mas não é só nas autarquias ; é também necessário saber participar descomplexadamente na vida dos vossos bairros, nas instituições das vossas localidades, nos vossos locais de trabalho, nas escolas dos vossos filhos. Foi sempre a nossa capacidade de nos envolvermos com outras gentes que nos distinguiu de outros povos e nos deu mais força como país ! É preciso falar e ser-se ouvido, ter-se voz por forma a garantir uma adequada integração na sociedade envolvente, preservando simultaneamente a vossa própria identidade. Identidade que é o próprio cimento do nosso país e que a diáspora portuguesa mantém exemplarmente viva nas sete partidas do mundo.

Com a entrada de Portugal na então CEE e sobretudo com a entrada em vigor da livre circulação de pessoas e bens no espaço da União Europeia, a Comunidade Portuguesa no Reino Unido registou nos últimos anos um aumento muito substancial, ascendendo hoje a mais de 160 mil cidadãos .

Sei das dificuldades que este aumento do número dos nossos compatriotas radicados na Grã-Bretanha está a ocasionar junto das nossas estruturas consulares. Sei dos inevitáveis incómodos que esta situação origina para o público utente, das demoras de atendimento, das longas filas de espera. Estou seguro de que o Governo português envidará todos os esforços no sentido de encontrar rapidamente novas e mais adequadas instalações para o Consulado Geral e equacionará o reforço do número dos seus funcionários, por forma a garantir um atendimento condigno para todos os portugueses que careçam dos seus serviços.

Não quero terminar esta minha intervenção sem antes vos dirigir uma palavra de sincero apreço. Apreço pelas vossas inexcedíveis qualidades humanas. Qualidades que naturalmente suscitam a estima das sociedades de acolhimento e que vos transformam nos vossos locais de trabalho em autênticos embaixadores da nossa terra. Qualidades que sei serem reconhecidas nas mais diversas áreas profissionais, desde a os serviços, até às das mais complexas actividades artísticas, científicas, empresariais e financeiras.

Quero assim aproveitar esta oportunidade para vos desejar felicidades, para todos vós e para as vossas famílias e para, em nome de todos os portugueses, exprimir o nosso apreço por trazerem sempre acesa no vosso coração a chama do amor ao nosso país .

Gostaria ainda de vos transmitir, nestes tempos conturbados em que vivemos, uma mensagem de esperança e de confiança no futuro.

Peço a todos que me acompanhem num Viva Portugal!