Discurso de SEXA PR por ocasião da conclusão do Projecto de Restauro do Claustro dos Jerónimos

Mosteiro dos Jerónimos
06 de Março de 2002


A feliz ocasião que hoje nos reúne aqui assume especial significado por múltiplas razões. Desde logo, porque o Mosteiro dos Jerónimos é um dos mais emblemáticos edifícios da arquitectura portuguesa. Aliás, as comemorações dos 500 anos do lançamento da sua primeira pedra, que decorreram com invulgar brilho o ano passado, puseram em relevo o significado do monumento e a sua importância ímpar na História e na cultura portuguesas. Testemunho belíssimo das nossas Descobertas e um dos símbolos maiores da nossa identidade, os Jerónimos são ainda uma jóia do Património Mundial, motivo de orgulho para todos os portugueses.

Este monumento, que possui uma grande carga simbólica, tem também um valor patrimonial único, que deve ser posto em evidência. A recuperação do seu claustro, restituindo-lhe a beleza original, era um imperativo que, assim, em boa hora se cumpre.

Os Claustros do Mosteiro de Santa Maria de Belém são inseparáveis do humanismo português e do apogeu da era dos Descobrimentos, com o seu reflexo nas artes. O restauro agora concluído culmina um trabalho que vem desde 1990 e que incluiu um conjunto de intervenções altamente especializadas no Altar Mor, no Portal Sul, nos vitrais, no cadeiral. O objectivo foi conservar o património, devolvendo o esplendor e a beleza a esta jóia do estilo Manuelino.

Não podemos esquecer que, ao longo dos séculos, o monumento foi objecto de diversos usos e intervenções, umas que, sem dúvida, o qualificaram; outras, porém, que se revelaram impróprias e inadequadas, mesmo quando feitas com boas intenções. A visão que hoje temos da defesa do património é, felizmente, muito mais rigorosa e exigente.

As vicissitudes por que passou o monumento constituiram matéria de reflexão sobre os critérios das intervenções e a introdução de novas técnicas e de novos usos. Por isso, ganhámos a convicção de que os princípios da interdisciplinaridade no planeamento dos restauros só poderão traduzir-se em melhores intervenções e num uso mais racional e eficaz dos investimentos realizados.

Apraz-me muito registar que o restauro dos claustros agora concluído foi fruto de uma colaboração entre o Ministério da Cultura e a sociedade civil, que se traduziu numa parceria com o World Monuments Fund, que co-financiou o restauro, reunindo um valioso grupo de mecenas e agregando a este projecto um conjunto de técnicos altamente qualificados. Este exemplo de colaboração entre o Estado e os mecenas, entre entidades públicas e privadas, deve ser aplaudido e encorajado. O resultado a que aqui se chegou e a obra feita falam por si e devem constituir um estímulo para prosseguirmos. Agradeço muito aos mecenas a disponibilidade e o precioso apoio que deram.

Nesta ocasião, quero saudar o gestor do projecto, o Senhor Arq. Vasco Moreira Rato, e toda a equipa científica e técnica que realizou esta obra com a máxima dedicação e empenhamento. A todos bem hajam.

Saúdo também o Dr. Paulo Lowden Marques, Presidente do World Monuments Fund-Portugal, impulsionador, desde a primeira hora, do restauro do claustro, o IPPAR, na pessoa do seu Presidente, e a Directora do Mosteiro dos Jerónimos.

A todos felicito pelas provas que deram de entrega, determinação, dinamismo, colaboração e espírito de equipa. Por se tratar de um monumento fundamental da nossa identidade nacional e um símbolo de renome universal, o esforço feito não poderia ter sido mais bem empregue. A preservação dos grandes símbolos nacionais e a revitalização do seu significado para o presente é um valioso contributo para nos tornarmos mais coesos e solidários como comunidade, mais ambiciosos e mais exigentes na preparação do futuro.