Discurso do Presidente da República por ocasião do banquete oferecido pelo Presidente da Tunísia, Zine el Abidine Bem Ali

Tunes
26 de Fevereiro de 2002


Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores

Em meu nome, em nome de minha mulher e de todos os que me acompanham nesta viagem à Tunísia, quero agradecer a Vossa Excelência a generosa hospitalidade e todas as gentilezas de que temos sido rodeados neste país amigo e acolhedor.

Esta visita, que retribui a efectuada por Vossa Excelência a Portugal em 2000, constitui um novo marco numa relação que tem sido, nos últimos anos, particularmente intensa e frutuosa. Temos sabido beneficiar das naturais afinidades entre a Tunísia e Portugal para construir uma relação sólida, multifacetada e mutuamente benéfica, baseada em laços de estima e confiança.

A minha presença aqui é sinal dessa estima e prova de confiança no futuro do vosso país e no potencial das nossas relações.

A Túnisia é um país estável, seguro e pacífico. É, de todos os países do Magrebe, aquele que tem beneficiado de mais altas taxas de crescimento económico. Na margem sul do Mediterrâneo, é um país pioneiro no desenvolvimento de uma relação madura com a União Europeia.

São estas qualidades que têm permitido à Tunísia captar o interesse dos investidores estrangeiros, entre os quais se contam um número cada vez mais expressivo de portugueses; afirmar-se como um destino privilegiado de turismo; ser reconhecida como um parceiro político de primeiro plano no âmbito do Magrebe.

Estou certo que a minha presença entre vós, acompanhado por uma expressiva delegação de homens de negócio, servirá para reforçar ainda mais os laços de amizade entre Portugal e a Tunísia e conferir um novo ímpeto à sua cooperação, não apenas no plano comercial e económico, mas também em outros sectores como, por exemplo, o turismo, a cultura, a ciência e as novas tecnologias.

Senhor Presidente

Vossa Excelência sabe que Portugal tem pugnado infatigavelmente pelo reforço das relações entre a União Europeia e os países da orla sul do Mediterrâneo, a quem estamos ligados por laços inquebráveis de história e de cultura.

Temos consciência de que o próximo alargamento da União Europeia suscita algumas apreensões entre os nossos parceiros mediterrânicos. Temem alguns que a prioridade que têm merecido como parceiros privilegiados da União Europeia seja afectada. Não creio que esses receios tenham fundamento.

A União Europeia está firmemente empenhada no desenvolvimento das relações com os países da orla sul do Mediterrâneo. É importante, contudo, evitar que tensões, como as que resultam do 11 de Setembro ou do conflito entre Israel e os palestinianos, contaminem ou prejudiquem as nossas relações, em particular com os países do Mediterrâneo Ocidental.

Temos de saber protegê-las de interferências provocadas por acontecimentos cujo controlo nos escapa. O Processo de Barcelona continua a ser o eixo principal das relações entre a União Europeia e o Mediterrâneo, mas devemos igualmente intensificar os nossos contactos noutros formatos mais restritos, como por exemplo o processo cinco mais cinco ou o Forum Mediterrânico, bem como no plano bilateral.

Sempre rejeitámos categoricamente a visão de quem quis fazer do 11 de Setembro e das suas sequelas um conflito entre civilizações. O fanatismo não é apanágio de nenhuma religião ou cultura. Sabemos que este nosso ponto de vista é inteiramente subscrito pela Tunísia que, desde a primeira hora, condenou, de forma clara e inequívoca a barbárie do 11 de Setembro.

Precisamos agora de reafirmar, através do exemplo, que a Europa e o mundo árabe tudo têm a ganhar intensificando a cooperação, desenvolvendo o conhecimento recíproco, apostando na consolidação dos laços seculares de amizade que os unem.

Temos de saber estabelecer um diálogo franco e tolerante, sem evitar os assuntos mais delicados e sensíveis. Não posso, por isso, deixar de fazer aqui uma referência aos acontecimentos no Médio-Oriente. Quero dizer-vos, em especial, que sinto uma revolta incontida perante a violência trocada entre israelitas e palestinianos. Independentemente das razões que a uns e outros assistem, deve resultar clara para todos que o caminho da violência é desastroso, não tem saída e só gera mais e mais sofrimento. Chegou o momento de dizer basta! É imperioso que cesse a violência e que seja relançado um processo de negociações políticas entre as partes.

Israel tem o direito de se defender contra a violência mas nunca obterá a paz se não abdicar de uma vez por todas da ocupação dos territórios palestinianos, se não desistir de humilhar a população martirizada de Gaza e da Cisjordânia, se não abdicar de processos de punição colectiva que não podemos deixar de condenar. Por seu lado, os palestinianos, têm o direito a constituirem um Estado independente, mas precisam de se dissociar claramente do terrorismo se quiserem obter o apoio inequívoco da comunidade internacional.

Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores

Neste momento crítico que atravessamos, temos de saber dar um exemplo de tolerância, de pluralismo, de moderação, de bom entendimento e transmitir às nossas populações um sinal de esperança no futuro.

Creio que o relacionamento entre Portugal e a Tunísia constitui, neste aspecto, um exemplo de equilíbrio e de dinamismo.

Permita-me, por conseguinte, Senhor Presidente que levante o meu copo à sua saúde e faça um brinde à crescente prosperidade da Tunísia e ao desenvolvimento dos laços de amizade e cooperação entre os nossos dois países.