Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Apresentação do Portal Universia Portugal

Sintra
02 de Maio de 2002


É com muito prazer que participo nesta iniciativa destinada a promover a comunicação e o intercâmbio entre instituições do ensino superior no espaço Ibero-americano.

Gostaria de iniciar esta intervenção com uma palavra sobre a importância da Internet na modernização do ensino.

Quando a Internet surgiu, no final da década de 60, mais precisamente em 1969, não havia fora dos Estados Unidos da América nenhuma instituição, fosse ela universitária ou não, que permitisse aceder a essa infra-estrutura de comunicação.

Não tive a oportunidade de contactar com esta tecnologia nem como estudante do ensino superior, nem no exercício da minha actividade profissional. Falo-vos, pois, mais como observador atento dos efeitos da Internet do que como exímio conhecedor da sua utilização pessoal.

Tive a sorte de a minha chegada à Presidência da República ter coincidido com a difusão da Internet na sociedade portuguesa. Decidi então apostar nesta nova forma de comunicação, porque acredito que a democracia exige que se utilizem novos meios e novas práticas que favoreçam a comunicação entre os responsáveis políticos e os cidadãos.

Ainda será cedo para avaliar os efeitos desta tecnologia no espaço de comunicação entre eleitos e eleitores em geral. Contudo, posso dar um testemunho dizendo-vos que 10% do correio recebido no Palácio de Belém é oriundo de correio electrónico registado na nossa página na Internet.

O mundo mudou profundamente desde 1969 graças, entre outras coisas, à difusão e utilização das novas tecnologias.

Também em Portugal o incremento da utilização da Internet - em particular no ensino superior - foi muito significativo. Gostaria de deixar uma palavra de reconhecimento pelo esforço que foi realizado nesse sentido.

Contudo, Portugal apresenta, ainda, taxas de utilização da Internet que rondam os 30%, um valor baixo, quando comparado com o Norte da Europa e Estados Unidos da América, mas em igualdade de situação com a Espanha e ligeiramente acima de alguns dos países da América Latina que partilham connosco este projecto Universia.

Em Maio de 2002, sete anos após o surgir da World Wide Web, as Instituições do Ensino Superior, em Portugal como no resto do Mundo, já não debatem o interesse de se ligarem à Internet, mas sim a que velocidade o farão.

A Internet, que começou como uma ferramenta de comunicação entre uma elite de investigadores, tornou-se um poderoso recurso de aprendizagem e comunicação ao serviço da sociedade. O seu papel nas escolas é inestimável ao criar novos processos de acesso ao saber e à informação sobre as instituições.

O espaço da aprendizagem, e também da oferta de ensino, segue um padrão de crescente internacionalização, propiciado e ampliado pelas novas tecnologias de informação e comunicação.

Mas ao dirigir-me a vós não o faço apenas para constatar a mudança tecnológica ou pelo facto de o Portal Universia representar um interessante exemplo de ligação Ensino Superior-Empresa, que considero essencial ao desenvolvimento.

Faço-o, também, porque representa uma nova dimensão de algo que me é caro e que não deixo de salientar sempre que possível: a mobilidade e o aprofundamento da comunicação entre instituições do Ensino Superior.

Todos temos a aprender uns com os outros, procurar as nossas proximidades e conhecer a diversidade, potenciá-la em iniciativas. O vasto espaço ibero-americano linguístico, cultural e afectivo que partilhamos deve ser consolidado em benefício de todos, através designadamente de um melhor conhecimento, de valorização das semelhanças e das diferenças, do desenvolvimento de projectos comuns, nos planos cultural, científico, social e económico.

A mobilidade é um desafio que se impõe a nós todos: mobilidade entre instituições e entre países; mobilidade nos percursos culturais e profissionais dos cidadãos. Quero salientar uma vez mais a importância que atribuo aos projectos de mobilidade existentes na Europa. As experiências que proporcionam são da maior importância para o enriquecimento cultural e também para o desenvolvimento de atitudes de tolerância e respeito pelos outros. Uma mobilidade virtual, como a que nos junta aqui, não tendo as mesmas potencialidades do que a mobilidade física, constitui no entanto a meu ver um poderoso meio para alcançar aqueles objectivos.

Minhas senhoras e meus senhores

Num tempo de tantas transformações e num mundo cada vez mais competitivo, a aposta na educação é um desafio estratégico para qualquer país. Porque é através da educação e da formação que podemos caminhar no sentido do desenvolvimento, diminuir os processos de exclusão, dar voz às aspirações das pessoas, modernizar a economia e a sociedade, dar novas realizações às nossas culturas.

Essa aposta exige que se invista mais no acesso, mas também na qualidade da oferta educativa o que implica inovação nos processos de ensino e nos meios de aprendizagem. Acredito que o projecto que estamos a inaugurar poderá constituir um importante auxílio nesse sentido.

As redes de transmissão de conhecimento e intercâmbio entre instituições de ensino superior são há séculos uma realidade na Europa e, num passado mais recente, no espaço ibero-americano.

As instituições do Ensino Superior souberam aproveitar esse saber e tradição para inovar a mobilidade na Europa, designadamente através dos programas de intercâmbio Erasmus-Sócrates .

As universidades antecederam a difusão da Internet no papel central conferido às redes. E continuam a saber inovar expandindo esses processos através de alianças estratégicas com outras instituições, neste caso as financeiras, nomeadamente através da criação da rede Universia o que vai permitir a ligação das instituições em dois continentes e alguns milhões de alunos e professores.

As redes vivem da comunicação e da coerência dos objectivos dos seus intervenientes. Precisamos, portanto, não apenas de partilhar uma mesma tecnologia, neste caso a Internet, mas também de compreender e partilhar as línguas e culturas que fazem parte do património que une o espaço Ibero-americano.

Faço votos para que a rede empresarial que permitiu a adopção do português como língua oficial de uma instituição financeira, o Grupo Santander Central Hispano, seja um incentivo para a partilha cultural entre o espaço universitário Ibero-americano e para que no prazo de dois ou três anos possamos ver surgir novos resultados desta aproximação.

Embora estejamos aqui a assistir ao lançamento de um espaço mediado pela Internet, onde se procura estimular a cooperação entre Instituições, será importante que este espaço também ajude à criação de intercâmbios de estudantes e professores entre os nossos sistemas de ensino.

O lançamento do Portal Universia representa um feliz momento de cooperação entre as Instituições do Ensino Superior e as Empresas. É também um mundo em que se estabelecem condições essenciais à partilha linguística do Português e do Castelhano através da utilização das redes de comunicação propiciadas pela Internet.

Felicito, uma vez mais, as instituições participantes pelo trabalho desenvolvido e desejo-vos os maiores sucessos para este projecto.