Discurso do Presidente da República por ocasião da distinção conferida pela Universidade Carlos III

Palácio de Belém
02 de Maio de 2002


Magnífico Reitor da Universidade Carlos III,
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Quero antes de mais, Magnífico Reitor e meu querido Amigo, agradecer-lhe as palavras que teve a amabilidade de me dirigir, que tanto me sensibilizam e que, sobretudo, honram o país que represento.

É com prazer redobrado que recebo a distinção que acaba de me ser conferida pela circunstância de o Reitor da Universidade Carlos III ser um amigo de longa data. Que me seja permitido, neste contexto, evocar a admiração pessoal e intelectual que nutro pelo Professor Gregorio Peces Barba. Não esqueço que foi ele um dos mais importantes obreiros da transição democrática espanhola e pai da Constituição de 1978 que constituiu, sem dúvida, um marco decisivo da institucionalização da democracia pluralista em Espanha, naqueles tempos difíceis de transição.

Esta cerimónia representa uma ocasião privilegiada para evocar a criação da Cátedra de Estudos Portugueses “Luís de Camões”, inaugurada em Outubro de 2000. E na distinção que acaba de me ser conferida, na qualidade de co-Presidente de Honra da Cátedra “Luís de Camões”, privilégio que partilho com Sua Majestade o Rei de Espanha, vejo um sinal inequívoco da importância e do valor que a Universidade Carlos III atribui ao desenvolvimento das relações luso-espanholas.

Iniciativas como a que a criação da Cátedra Luís de Camões simboliza representam um poderoso estímulo para a aproximação dos povos, para um melhor conhecimento mútuo e para o desenvolvimento de uma colaboração frutífera entre representantes da sociedade civil dos dois países.

As instituições universitárias sempre detiveram um papel preponderante para a difusão da ciência e da cultura, tendo o magisterium constituído um dos pilares em que se cimentou a unidade da Europa. Essa unidade, para a qual hoje procuramos novo rumo e sentido, foi obra dos intelectuais, homens de letras e de ciência, que, ao longo dos tempos, foram trocando ideias, avançando teorias e fazendo descobertas científicas por forma a cimentar a solidariedade entre os povos e melhorar as condições de vida das sociedades.

Estou convicto de que vivemos tempos de mudança e de desafios de grande exigência. São as próprias Universidades na sua função social e pedagógica, enquanto centro de transmissão de conhecimentos e de saberes, que têm de reagir aos reptos modernos deste tempo novo, assegurando uma formação mais adequada às necessidades da sociedade.

As Universidades devem ser polos de cultura e de ciência, centros de diálogo e comunicação entre os povos. Mas, mais do que nunca, são necessárias parcerias entre o mundo académico, da indústria e das empresas. Os intercâmbios universitários devem ser incentivados, há que multiplicar a criação de cátedras mistas e abertas a fórmulas inovadoras, com carácter flexível, que assentem no aproveitamento de sinergias e produzam um efeito multiplicador.

A Cátedra a que se chamou Luís de Camões, patrono de bom presságio, na pluralidade disciplinar de conteúdos por ela abrangidos, pretende ser um forum deste tipo novo. Apesar da sua ainda breve existência, constitui já um promissor polo de comunicação, conhecimento e encontro entre espanhóis e portugueses, contribuindo para criar uma dinâmica nova de cooperação no espaço ibérico, na consciência de uma identidade partilhada que a diversidade própria a cada um de nós alimenta e enriquece.