Discurso de SEXA PR por ocasião do jantar em honra do Presidente da República de Cabo Verde, Comandante Pedro Pires

Palácio da Ajuda
23 de Abril de 2002


Senhor Presidente
Excelências
Caros Amigos

Constitui para mim um grato prazer receber em Portugal, na qualidade de Chefe de Estado, o Comandante Pedro Pires. O percurso político de Vossa Excelência, que tenho o privilégio de acompanhar há muitos anos, confunde-se com a história de Cabo Verde.

Na pessoa de Vossa Excelência, quero por isso homenagear não apenas o resistente, o político e o Estadista que consagrou a vida a servir o seu povo mas toda a nação cabo-verdiana, nossa irmã, que, ao longo de um quarto de século de independência, se afirmou como um exemplo de maturidade política, respeito pela democracia e boa governação.

Cabo Verde é um exemplo vivo de que o desenvolvimento não depende da abundância de riquezas naturais de que um país dispõe, mas sim da sua maturidade política, do talento e indústria das suas gentes, do rigor dos seus governantes, da capacidade da sua administração.

Não creio exagerar se disser que Portugal tem com Cabo Verde uma relação exemplar. No plano político, comercial e da cooperação , temos relações sólidas e frutuosas que se processam num clima de amizade sem mácula.

Na última década, Portugal foi sempre o principal parceiro de Cabo Verde na área da cooperação e Cabo Verde, per capita, o principal beneficiário da ajuda pública ao desenvolvimento de Portugal. A nossa cooperação abrange os mais variados campos e alcançou um grau notável de maturidade. Para além das áreas, tradicionais, da educação, da saúde e da administração pública, queria destacar a crescente importância da cooperação judiciária, o dinamismo da cooperação entre municípios e o volume apreciável da cooperação financeira.

Esta ultima desenvolve-se em especial no âmbito do Acordo de Cooperação Cambial, que equipara o valor do escudo cabo-verdiano ao do euro, deste modo fornecendo às empresas portuguesas e europeias um quadro de estabilidade monetária para as suas operações em Cabo Verde.

Os resultados estão à vista. No plano comercial, Cabo Verde é hoje o nosso segundo maior mercado em África, — em toda a África — , com uma importância para as nossas exportações equivalente à de alguns dos nossos parceiros da União Europeia. Trata-se de um resultado notável se considerarmos que o arquipélago tem uma população de menos de meio milhão de pessoas. Cabo Verde é também um dos mais importantes destinatários do investimento português no estrangeiro, sendo particularmente relevantes neste domínio os sectores da banca e da
construção civil, das telecomunicações e do turismo.

A paridade entre o escudo cabo-verdiano e o euro projecta as relações entre Cabo Verde e a União Europeia porventura para além do quadro conceptual do Acordo de Cotonou, que perspectiva como horizonte da cooperação a integração na economia mundial, no quadro de processos de integração regional. A fórmula para uma relação de parceria entre a União Europeia e Cabo Verde é uma questão que merece um estudo atento nos próximos anos.

Não posso terminar este breve enunciado do relacionamento entre os nossos dois países sem uma menção carinhosa da comunidade cabo-verdiana presente em Portugal. Ela sabe que é bem vinda e benquista no nosso país e que o seu contributo é prezado e valorizado.

Senhor Presidente

Teremos ocasião de nos encontrar de novo muito em breve nas celebrações da proclamação da independência de Timor-Leste e, de seguida, na cimeira da CPLP, em Brasília, na qual Timor-Leste deverá ser já participante pleno. Creio que a nossa Comunidade lusófona atravessa um bom momento, um momento de esperança e confiança no futuro, em feliz contraste, que me apraz salientar , com o clima de tensão existente na sociedade internacional.

A assinatura de um cessar fogo em Angola permite-nos encarar com renovada esperança o futuro daquele grande país. Não obstante ser pesada a herança de décadas de guerra, no plano humanitário e das infra-estruturas, Angola tem agora uma oportunidade histórica para, finalmente, se reconciliar consigo própria e usufruir do seu vasto potencial económico.

O português é uma língua em expansão, actualmente a sexta mais falada no mundo e a cultura lusófona tem-se vindo a afirmar em todos os domínios. A melancólica melodia das mornas é hoje uma referência internacional, tal como o fado ou Fernando Pessoa. Estou certo que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, sediado na Praia e cujo recente início de actividades saúdo, dará um importante contributo para a crescente afirmação internacional do português.

Olhemos, por isso, de frente o futuro, sem menosprezar as dificuldades do presente, mas com a confiança inabalável de que as saberemos vencer.

Senhor Presidente

Conto-me entre os muitos amigos de que Vossa Excelência dispõe em Portugal. A sua presença é, para todos nós, motivo de alegria. Alegria tanto maior quanto este reencontro não se alimenta apenas de memórias do passado, traz também novos projectos para o futuro. Queremos que esse futuro seja mais solidário, queremos ver reforçados os laços entre os nossos dois países e povos, queremos afirmar, com redobrada convicção, os valores da democracia, da justiça social e da igualdade entre todos os seres humanos. São esses os votos que quero hoje formular e aos quais peço a todos para se juntarem, erguendo o vosso copo à saúde do Presidente Pedro Pires e à profunda amizade entre Cabo Verde e Portugal.