Discurso do Presidente da República por ocasião da Entrega do Prémio Camões a Maria Velho da Costa

Brasília
30 de Julho de 2002


É esta uma feliz ocasião para entregarmos o Prémio Camões a Maria Velho da Costa, pois nos permite pôr em renovada evidência a importância que queremos dar à língua portuguesa, ao seu ensino e à sua projecção internacional. A língua é o primeiro dos vínculos que liga os países que formam a CPLP. É a língua que nos une e nos constitui como comunidade de comunicação, de memória e de projecto. Devemos, para que esse projecto se concretize cada vez melhor e se amplie cada vez mais, ter uma política de língua ousada e moderna, que use as novas tecnologias e as novas formas de comunicação e informação. Essa política tem várias frentes de concretização: didáctica, editorial, diplomática, económica. Neste início do século XXI, uma língua é um instrumento poderoso para marcar uma posição no Mundo e dá aos que a falam um peso que é proporcional à capacidade de influência e de afirmação desse idioma. A nossa língua, pela quantidade de falantes e pela herança histórica e cultural que nela ecoa, é uma das grandes línguas do Mundo. Devemos assumi-la e projectá-la como tal.

O Prémio Camões simboliza a língua portuguesa e os que a renovam e recriam. Ao entregarmos este Prémio a Maria Velho da Costa, homenageamos uma grande escritora, cuja fidelidade à língua em que escreve foi sempre inseparável da sua reinvenção. A sua obra é, linguisticamente, das mais inventivas do nosso tempo. Herdeiras de uma tradição que reconhece expressamente o grande escritor brasileiro Guimarães Rosa como uma referência fundamental, nessa obra a nossa língua abre-se ao futuro, descobre novos sons, novos sentidos, novas transparências e novas opacidades, novas possibilidades, novos arrojos. Os grandes escritores, como aconteceu com o próprio Camões, têm o dom raro de ser fiéis ao que, na língua, é vivo e não ao que é “morto”.

Permitam-me uma nota pessoal: sou amigo de Maria Velho da Costa há muitas décadas. Sempre admirei a sua dignidade e a sua coragem cívica, a sua coerência, o seu talento, a sua generosidade feita de exigência e de um alto sentido ético. Ao distinguir uma grande escritora, este Prémio distingue também uma grande mulher e uma grande cidadã, que foi pioneira no combate pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Muitos parabéns, Maria Velho da Costa. A sua obra é motivo de orgulho para todos os que falam português.


Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso,

V. Exa. é um intelectual distintíssimo, um homem de cultura, para quem a política foi sempre acção e reflexão. É, para nós, uma honra tê-lo como anfitrião nesta cimeira e nesta cerimónia em que celebramos a língua portuguesa e reafirmamos a nossa responsabilidade de a expandir e prestigiar.