Brinde do Presidente da República por ocasião do jantar oferecido em sua honra pelo Presidente da República da Bulgaria

Sófia
26 de Setembro de 2002


Senhor Presidente da República da Bulgária
Excelentíssima Senhora Purvanova
Minhas Senhoras e meus Senhores

Antes de mais, desejo agradecer a Vossa Excelência as amáveis palavras que me dirigiu bem como a tão cordial hospitalidade que tem sido dispensada a minha Mulher, à comitiva que me acompanha e a mim próprio desde o início desta Visita de Estado à República da Bulgária.

Foi com enorme prazer que aceitei o convite que Vossa Excelência me endereçou para efectuar esta Visita de Estado, a primeira que um Chefe de Estado estrangeiro efectua à Bulgária desde o início do seu mandato. É uma alta distinção concedida a Portugal, que muito me honra e que honra o país que represento. É também uma prova tangível das boas relações de cooperação e amizade que unem os nossos dois países. Mas é igualmente um gesto de inegável simbolismo, conferindo à presente visita um significado especial.

Esta visita de Estado deverá selar a vontade mútua de reforçar as relações bilaterais entre a Bulgária e Portugal, de aprofundar o nosso conhecimento recíproco e de antecipar uma cooperação sem precedentes que se insere naturalmente no quadro das estruturas euro-atlânticas que, no futuro, partilharemos.

Portugal e a Bulgária, apesar da distância que os separa, estão ligados por laços históricos antigos. Apresentam também um conjunto de afinidades e partilham valores comuns. Experimentaram ambos as tormentas da privação da liberdade imposta por um longo regime totalitário. Conheceram ambos o fim da ditadura, a transição para a democracia e a economia de mercado. Em Portugal, este processo foi relativamente célere e depois de um processo negocial complexo, aderimos à então Comunidade Económica Europeia. Estava-se em 1986. Na Bulgária, a transição tem sido marcada pelas dificuldades próprias das mutações radicais. Mas agora, a democracia estabilizou-se e as profundas reformas económicas empreendidas começam a dar frutos. A Bulgária prepara-se para integrar as estruturas euro-atlânticas. Tão longo o caminho percorrido num afinal tão curto espaço de tempo!

Portugal sempre foi um apoiante incondicional e firme do alargamento da União Europeia aos países da Europa Central e Oriental. Fizemo-lo e continuamos a fazê-lo, primeiro, por convicção, porque acreditamos numa Europa unida e aberta, uma comunidade de democracias, assente no Estado de Direito e na economia de mercado, porque acreditamos na Europa como comunidade de valores e de destino; depois, por coerência, porque reconhecemos, por experiência própria, a importância decisiva que a nossa própria adesão às então Comunidades Europeias teve para a consolidação da democracia, para o desenvolvimento e a modernização de Portugal.

Por isso, assumimos o alargamento como um dever, uma necessidade e uma oportunidade para a União. Dever de solidariedade para com as novas democracias. Necessidade resultante do processo de mundialização uma vez que só uma União alargada poderá impor-se como interlocutor válido, capaz de fazer valer os seus interesses e valores. Oportunidade irrecusável de paz, estabilidade, segurança, paz e prosperidade no continente europeu.

Só uma Europa reunificada, integrada economicamente e mais coesa do ponto de vista político, poderá afirmar-se no mundo com voz própria, movida por uma vontade e um desígnio comum. É necessária uma política externa e de segurança comum reforçada para que a Europa se consiga afirmar como um actor de peso na cena internacional. Basta olhar para a actualidade para ilustrar este propósito. A este respeito, não posso deixar de pensar no caso do Iraque que, estou certo, também a vós vos preocupa. Mas penso também no caso, feliz, do Protocolo de Quioto ou ainda no Tribunal Penal Internacional que considero de decisiva importância em prol de uma ordem internacional mais justa.

Pessoalmente, sou um europeísta convicto. Acredito num projecto de Europa unida, solidária e coesa, capaz de continuar a desenvolver um modelo de sociedade próprio e a aprofundar-se através de um sábio jogo de equilíbrios, conjugando sempre e de cada vez os elementos de diversidade e o propósito de unidade. Tenho, de resto, confiança que a próxima Conferência Intergovernamental, à qual me parece natural que a Bulgária seja estreitamente associada, renove o pacto europeu e conduza a uma verdadeira refundação da Europa.

A perspectiva de adesão da Bulgária às estruturas euro-atlânticas, propósito que Portugal subscreve e apoia, abre ao nosso relacionamento bilateral uma nova dimensão, conferindo-lhe uma maior profundidade e ambição.

Gostaria assim de sublinhar que, a nível político, existem todas as condições para encetar um processo de aproximação e de concertação acrescidas entre ambos os países, numa antecipação do que será a nossa futura parceria no seio das estruturas euro-atlânticas.

A Bulgária e Portugal possuem ambos uma identidade cultural forte, de que se orgulham e que pretendem manter e desenvolver. Este é um trunfo dos pequenos e médios países que, na Europa, detêm o ónus da preservação da sua diversidade cultural, sem a qual o projecto europeu poderá degenerar numa forma nova de totalitarismo. Partilharemos pois uma idêntica responsabilidade futura.

Este é um desafio, mas também uma oportunidade. Penso que, desde já, deveríamos apostar num melhor conhecimento mútuo das nossas respectivas culturas e na intensificação dos intercâmbios culturais entre Portugal e a Bulgária.

Também a nível do relacionamento económico bilateral, há um longo caminho a percorrer. A extensa delegação empresarial que me acompanha, representando os mais diversos sectores da vida económica, é uma prova tangível de que esse caminho tem um futuro promissor. Creio poder afirmar que existem agora condições para darmos um ímpeto decisivo às nossas relações comerciais, para criarmos parcerias e desenvolvermos os investimentos mútuos.

Senhor Presidente

Estamos num momento de viragem do relacionamento bilateral luso-búlgaro. Deve mover-nos uma ambição reforçada e um sentido de responsabilidade com uma dimensão vincadamente universalista. Há que rasgar novos horizontes de cooperação, aprofundar outras áreas de actuação e desenvolver parcerias inovadoras. Não tenho dúvidas de que tudo faremos para cumprir este destino.

Por último, é uma mensagem de amizade, de solidariedade e de confiança no futuro que quero transmitir aos meus amigos búlgaros.

Peço assim a todos os presentes que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais do Presidente da Bulgária e Senhora Purvanova, pela prosperidade do povo búlgaro e pelo aprofundamento das relações de amizade entre Portugal e a Bulgária, na perspectiva da construção de uma Europa cada vez mais unida e solidária e de um mundo mais humano.