Discurso de SEXA PR por ocasião do banquete oferecido em sua honra pelo Presidente da República Helénica, Senhor Konstantinos Stephanopoulos

Atenas
02 de Dezembro de 2002


Senhor Presidente da República
Excelências

Constitui para mim uma grande honra e um grande prazer efectuar esta visita à Grécia a convite de Vossa Excelência. É sempre com emoção e curiosidade que descobrimos de novo esta terra abençoada pelos deuses onde nasceu parte tão importante e ainda tão viva da nossa civilização e onde, ainda hoje, os gregos, com a sua força de carácter, a sua inteligência e a sua experiência milenar continuam a desenhar no mosaico cultural europeu uma imagem inconfundível.

Todos nós bebemos na cultura grega um ideal de beleza, a interpelação do pensamento filosófico, o sentido da tragédia e da comédia humana, as categorias da prática política, a matemática e a geometria. A Grécia foi fundadora da nossa cultura e da nossa história. Foi, em grande parte, com base no pensamento e na experiência da antiguidade clássica que se elaboraram os valores que são hoje nossos e que constituem a trave mestra da Europa, essa Europa onde hoje nos reencontramos irmanados num projecto de alcance histórico, a unidade europeia, que marcará no futuro uma etapa decisiva da evolução política do nosso continente.

A construção europeia é um projecto político de paz, de solidariedade, de aproximação entre os povos. A Grécia e Portugal, primeiro pelo reencontro quase simultâneo com a democracia, que nos abriu as portas da Europa, depois pela adesão às Comunidades Europeias, que consolidou a nossa opção, foram fazendo caminho lado a lado, fortalecendo as suas relações a todos os níveis. De tal modo que, podemos dizê-lo, nunca estivemos tão próximos como agora. Partilhamos a mesma moeda, o mesmo espaço político, os mesmos valores. Nunca as nossas relações culturais foram tão ricas, nunca foi tão activo o nosso comércio, nunca foram tão intensas as nossas relações políticas.

Desejo e espero que esse caminho prossiga e se desenvolva, tornando cada vez mais sólidos e mais ricos os laços de amizade e de cooperação que nos unem. É esse o sentido desta visita e é esse o voto que quero exprimir, em nome de Portugal e de todos aqueles que me acompanham, escritores, artistas, intelectuais — entre os quais dois grandes helenistas portugueses — empresários, membros do Parlamento e do Governo, uma embaixada diversa que pretende também mostrar-vos um pouco do Portugal moderno, da sua riqueza e diversidade.


Senhor Presidente
Excelências

Muito nos aproxima da Grécia. Somos dois países de tradição marítima e comercial, com uma forte diáspora, presente em grande parte do mundo. Estamos situados nas fronteiras da União Europeia e somos por isso particularmente sensíveis ao vasto mundo que a rodeia. Estamos empenhados num processo de desenvolvimento que visa recuperar décadas de atraso. Somos dois países com uma forte identidade nacional que apostam no progresso da construção europeia, na sua dupla vertente do alargamento e do aprofundamento.

Nascem assim espontaneamente as parcerias entre gregos e portugueses, seja no mundo dos negócios, das artes ou do desporto. Países com forte vocação turística, ambos estamos empenhados na organização, em 2004, de dois eventos de grande repercussão internacional, respectivamente os Jogos Olímpicos e o Campeonato Europeu de Futebol, que irão constituir ocasiões ímpares de projecção internacional dos nossos respectivos países.

Pertencer à União Europeia, integrar o espaço da moeda única, foi para a Grécia e para Portugal um poderoso factor de confiança e de desenvolvimento. A nossa experiência diz-nos que a adesão de dez novos Estados membros representará para as suas populações, tantas vezes mal tratadas pela história, um factor de segurança, de estabilidade e de progresso. O mesmo é válido do recente alargamento da Aliança Atlântica a sete novos Estados, que saudamos.

Progressivamente, queremos consolidar, em toda a Europa, incluindo nos Balcãs, na Rússia e noutros Estados sucessores da União Soviética, o Estado democrático, o respeito pelos direitos humanos, e uma economia de mercado servida por um aparelho de justiça eficaz. Esse objectivo está ao nosso alcance. Podemos assim transformar a Europa no polo mais importante de paz e de prosperidade mundial.

Uma palavra especial sobre a Turquia. Saudamos a posição esclarecida das autoridades gregas que, com grande visão, têm apostado na aproximação àquele país, designadamente apoiando o seu processo de adesão à União Europeia. Está ao nosso alcance um resultado histórico, que se pode consubstanciar na fixação de uma data para o início das negociações de adesão da Turquia à União Europeia no Conselho Europeu de Copenhague e, até lá, num acordo de princípio sob os auspícios das Nações Unidas para pôr fim à divisão de Chipre. Não deixemos escapar esta oportunidade, cuja concretização representaria um contributo decisivo para a estabilidade e o progresso de toda esta região e da Europa no seu conjunto.


Senhor Presidente
Excelências

Para que a União Europeia seja realidade viva para todos os seus povos, é necessário que estes se conheçam melhor, comparem experiências, aprendam uns com os outros, forjando assim relações de cada vez maior cumplicidade. Temos de fazer uma síntese criativa da tensão entre unidade e diversidade que permita simultaneamente aos nossos povos respirarem em liberdade e unirem os seus esforços num projecto comum. Essa síntese não nasce apenas da acção dos Governos, mas também da percepção de afinidades e interesses comuns pelas respectivas sociedades, que resulta das suas trocas humanas, culturais e económicas. São essas que, acima de tudo, pretendo com esta visita promover e encorajar, na certeza de que, entre gregos e portugueses, dois povos de temperamento aberto e caloroso, será fácil forjar laços de afecto e de bom entendimento

Por isso, agradeço reconhecido a Vossa Excelência, em meu nome e no de todos os que me acompanham, a oportunidade que me deu de efectuar esta visita e a hospitalidade carinhosa de que tenho sido rodeado. Permita-me, Senhor Presidente, caro Amigo, que levante o meu copo para formular um brinde à saúde de Vossa Excelência, à prosperidade do povo grego e à amizade crescente e duradoura entre os nossos dois países.