Quero agradecer-lhe, antes de mais, Senhor Presidente da Câmara, esta tão simpática recepção que tanto honra Portugal e os portugueses.

É para mim um grato prazer encontrar-me nesta cidade, a que nos ligam laços tão antigos e profundos. Estar aqui é como voltar às origens da humanidade naquilo que ela tem de mais sagrado: a razão, o logos e a poesia. Mas é também um convite à reflexão sobre o nosso tempo porque à luz irrecusável do passado aqui tão presente os nossos pensamentos ganham contornos mais claros e precisos. Era provavelmente a esta clarividência que o oráculo de Delfos se referia.

Esta é uma ocasião para prestar homenagem aos atenienses, àqueles que inventaram a democracia e o conceito de cidadania, aos que meditaram sobre a justiça, a liberdade e a política, aos que dotaram Atenas de uma Constituição e aos que pugnaram, a seu modo, pela igualdade. Somos indiscutivelmente tributários destes ideais, que determinaram a marcha da história e que enformam a nossa civilização e cultura. A Europa nasceu aqui, não tenho dúvidas, nesta pátria de todas as revoluções.

É um feliz acaso que caiba à Grécia a honra e o privilégio de celebrar, neste lugar simbólico de Atenas, a reunificação iminente do continente europeu no âmbito da sua próxima Presidência da União Europeia. Que nos seja permitido ver nesta coincidência um sinal de bom augúrio para os destinos da Europa !

Nos tempos, que são os nossos, de grandes transformações e mudanças, encontramo-nos perante desafios que exigem de nós lucidez, coragem e determinação. Harmonizar tradição e modernidade, renovar sem ferir o sentido da história mas respondendo às necessidades do nosso tempo não são tarefas fáceis. Mas a pujança do nosso património cultural, a riqueza da nossa história colectiva dão-nos armas indefectíveis para fazermos destes desafios uma oportunidade de futuro.

Sem dúvida que muitos dos graves problemas com que as nossas sociedades se defrontam – desemprego, exclusão social e económica, criminalidade, corrupção, violência, intolerância – têm contornos marcadamente locais, cabendo assim às municipalidades o ónus de lhes dar solução, de procurar respostas adequadas que contribuam para a melhoria tanto da qualidade de vida dos cidadãos como do tecido urbano ou rural. Sei, pelas funções que anteriormente exerci, quão estimulantes são as responsabilidades que as municipalidades endossam e grata a constatação de resultados.

Atenas impressiona pelo seu dinamismo e pela sua vitalidade, pelo extraordinário reordenamento da paisagem urbana. Apesar de ser depositária de um património ancestral, Atenas soube abrir-se aos ventos da modernidade, tornando-se um caso singular, no concerto cada vez mais competitivo das metrópoles europeias. Sentimo-nos aqui, como se os antigos tivessem razão, próximos do centro do mundo.