Discurso do Presidente da República por ocasião da Sessão Solene Comemorativa do 138º Aniversário da Fundação da Cruz Vermelha

Lisboa
11 de Fevereiro de 2003


Associo-me a todos vós na celebração do aniversário desta secular Instituição, consagrada pelos seus valores, pela sua vocação e pela sua acção. Em Portugal e no plano internacional, a Cruz Vermelha soube afirmar-se como força de paz e humanitarismo, que actua não só nas situações de guerra e de emergência, mas também como instituição de intervenção social, no sentido mais amplo e exigente. Aliás, na medida em que desenvolve esta intervenção, combate as causas dos conflitos, evita a guerra e promove a paz.

Alguns aspectos da filosofia e da prática da Cruz Vermelha Portuguesa merecem ser mais esclarecidos e difundidos, a fim de que a opinião pública conheça melhor os seus grandes princípios e objectivos. Louvo por isso o esforço que a sua Presidente, Sra. Dra. Maria de Jesus Barroso Soares, e os outros responsáveis vêm desenvolvendo de maneira assinalável: na verdade, para além de todo o trabalho diário exigido pela organização, funcionamento e actualização institucionais, vêm actuando eficazmente no melhor conhecimento e difusão da identidade e história da Instituição.

Convém recordar que a Cruz Vermelha realiza uma feliz cooperação do Estado com a sociedade civil e que, nos momentos graves, ela constituiu sempre, pela sua natureza, um sinal de esperança e solidariedade no meio dos conflitos e da violência. Podemos também afirmar que a abertura crescente e consistente da Cruz Vermelha aos domínios da acção social, da saúde, da formação, e a tantos outros, se integra perfeitamente na sua vocação fundadora, que é acima de tudo humanitária, assegurando a presença das suas capacidades específicas na sociedade civil a favor do desenvolvimento e da solução de problemas sociais. No fundo, a luta pela justiça social e pelo bem-estar das populações faz parte integrante da luta a favor da paz.

Não nos esqueçamos de que a Cruz Vermelha foi pioneira em vários aspectos da acção social (em sentido amplo). Realço apenas três: introduziu preocupações de natureza técnica; soube afirmar-se como instituição laica, aberta a todos os credos e plural; e desenvolveu uma cultura de voluntariado que, sem hostilizar a assistência tradicional, dela se distingue claramente.

Como é inevitável, houve imperfeições ao longo do seu percurso histórico. No entanto, a linha de rumo fundamental foi sempre mantida e aperfeiçoada. Assim, bem se justifica lembrar e homenagear, com a nossa gratidão, todas as pessoas que, no passado e no presente, deram vida a tão relevante Instituição. Cada um de vós que hoje a incorpora preserva essa herança e merece idêntica gratidão.

Olhando para o futuro, creio bem que se justifica intensificar as orientações mais marcantes dos últimos anos. Dentro delas, a expansão territorial dentro do país, a cooperação com os PALOP e a parceria com outras entidades – públicas particulares ou privadas – merecem alta prioridade e todo o estímulo. O mesmo se diga a respeito do aprofundamento e difusão do trabalho voluntário, bem como da formação em voluntariado.

Se a isto acrescentarmos a consciência permanente dos problemas sociais de maior gravidade e o compromisso na respectiva solução – sempre em parceria com outras entidades – fica à nossa frente a imagem parcelar do vastíssimo leque de desafios que se põem à Cruz Vermelha. A mesma consciência humanitária que intervém nas situações de guerra e calamidade sabe agir na sociedade, visando o desenvolvimento, a justiça, a solidariedade e a paz.

Parabéns por este aniversário e bom trabalho!