Discurso do Presidente da República por ocasião da Inauguração dos Novos Espaços da Cinemateca Portuguesa

Lisboa
10 de Janeiro de 2003


Além de um gesto institucional caloroso, a minha presença nesta inauguração dos novos espaços da Cinemateca Portuguesa constitui também um prazer pessoal, que sei partilhado por todos os que gostam de cinema.

Estas obras criaram melhores condições à actividade da nossa Cinemateca. Por isso, representam um grande benefício que devemos considerar um investimento no futuro. Felicito todos os que contribuíram para este bom resultado, saudando o meu velho amigo João Benard da Costa que, com o seu grande saber (infinito, diria eu) e a sua dedicação, tem feito desta casa um referência da nossa vida cultural, para todas as gerações.

Como já foi hoje observado, Portugal, onde uma Cinemateca Nacional foi criada nos finais dos anos 40, só em 1980 pôde contar com uma Cinemateca realmente digna desse nome, com sede e sala própria, autonomia administrativa e financeira.

Seja-me permitido um breve apontamento pessoal: para a minha geração, uma Cinemateca era qualquer coisa que existia no estrangeiro e na Europa livre e que não existia verdadeiramente entre nós, apesar do esforço solitário e tenaz do dr. Manuel Félix Ribeiro, a quem presto mais uma vez publica homenagem, saudando a Sua Mulher e Filho, aqui presentes.

A partir de 1980, passámos a ter, neste local, uma sala onde podemos ver as grandes obras da cinematografia nacional e internacional, compreendendo melhor a evolução da história e da arte do cinema, desde as suas origens até aos nossos dias.

De facto, uma Cinemateca não é apenas um espaço de exibição cinematográfica. É a instituição que tem por obrigação salvaguardar o património fílmico nacional e também o património cinematográfico internacional distribuído e exibido em Portugal. É também a instituição que deve contribuir para transmitir os valores culturais específicos que ao cinema estão associados, procurando a melhor forma de divulgar essa grande arte do imaginário.

Tenho dedicado, ao longo dos meus mandatos, uma particular atenção aos arquivos, na sua acepção mais lata, que inclui as filmotecas, videotecas e também as bibliotecas e mediatecas. Creio que na existência de arquivos preservados e a funcionar bem reside um dos fundamentos de uma defesa eficaz, e não apenas retórica, da nossa identidade cultural. No âmbito deste programa, visitei o Arquivo da Cinemateca (ANIM) e pude tomar bem consciência do verdadeiro tesouro que tem à sua guarda.

Se em 1995, com a criação do ANIM, foi possível passar a ter as condições para assegurar a defesa do património cinematográfico, hoje, com a profunda remodelação desta moradia, comprada pelo Estado em 1980, e com os novos espaços construídos, é possível pensar em ir mais além com novos projectos.

Quero cumprimentar muito especialmente o realizador Manoel de Oliveira, memória viva e grande figura do cinema português, que tanto tem enriquecido e prestigiado a nossa cultura. Renovo as minhas saudações a João Benard da Costa e a todos os que, diariamente, trabalham na Cinemateca, esforçando-se para servir o público da melhor maneira. Infelizmente, não tenho tempo para vir aqui as vezes em que o apetite se me desperta quando vejo a programação dos vossos ciclos de cinema, mas prometo que, a partir de hoje, vou fazer um esforço. Desejo-vos bom trabalho, agora em melhores condições e com uma renovada ambição.