Discurso do Presidente da República no Grande Oriente Lusitano

Lisboa
20 de Março de 2003


Aceitei, com muito interesse e gosto, o convite que me foi dirigido para visitar o Palácio Maçónico e conhecer melhor e mais de perto os princípios e realizações do Grémio Lusitano. Penso que a sociedade democrática em que vivemos – e que queremos cada dia mais forte e dinâmica – é uma sociedade essencialmente plural, que se revitaliza e revigora na cidadania. Um dos aspectos fundamentais da afirmação da cidadania é a existência de iniciativas e de associações de cidadãos, que se constituem livremente com base em afinidades de concepções e partilha de objectivos, praticando a tolerância e o convívio democrático.

O Grande Oriente Lusitano, cujos 200 anos de existência se estão a comemorar, é uma associação filosófica e filantrópica, depositária de um relevante património histórico, cultural e cívico. Como acontece com todas as instituições humanas, na sua história há luzes e sombras. Herdar uma tradição é recebê-la criticamente, actualizá-la, renová-la. Quero, hoje, aqui, salientar que no património desta Casa figura a fidelidade constante aos valores cívicos e republicanos da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, os quais foram consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. E figura também neste património moral uma corajosa participação dos seus membros na resistência à ditadura que oprimiu o nosso país durante meio século e que, logo entre os seus primeiros actos repressivos, decretou a ilegalização e a proibição da Maçonaria, decisão que mereceu, entre outros, um corajoso e indignado protesto do grande poeta Fernando Pessoa. Ao longo dos tempos, pertenceram ao Grande Oriente Lusitano grandes vultos da nossa História, que se notabilizaram em vários domínios do pensamento e da acção, e que muito contribuíram para o progresso das ideias e para o desenvolvimento da sociedade portuguesa. Esses portugueses merecem, independentemente das salutares divergências de opinião filosófica ou política, o testemunho do nosso reconhecimento.

Para uma instituição, existir é renovar-se e compreender o que cada tempo exige dela. Quero dizer-vos que aprecio muito o esforço de abertura que está a ser feito para tornar esta instituição mais conhecida e mais próxima das pessoas, embora mantendo-se fiel aos seus princípios e às suas regras.

Saúdo o Grão Mestre, o meu velho amigo António Arnaut, e os que, em representação de todos os vossos membros, me acolhem nesta Casa. Agradeço as palavras tão amáveis que me acabam de ser dirigidas. Partilho das vossas preocupações pela hora difícil que vivemos no Mundo e perfilho a inspiração humanista com que encarais a construção de um futuro melhor, mais justo para todos os seres humanos, mais pacífico. Numa palavra: mais humano.

Renovo os meus agradecimentos pela forma tão calorosa como esta instituição me recebe, nos recebe, hoje – e incito-vos a que ajudeis a fazer da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, não apenas uma trilogia de valores que a História consagrou como uma conquista fundamental na marcha da Humanidade, mas uma realidade vivida pelas nossas sociedades do século XXI.