Sessão Entrega Prémio Virgilio Ferreira

Évora
01 de Março de 1999


Magnífico Reitor da Universidade de Évora
Senhor Pró-Reitor da Universidade de Évora e Presidente do Júri do Prémio Virgílio Ferreira
Senhora Presidente do Departamento de Linguística e Literaturas
Escritor Mia Couto
Minhas Senhoras e Meus Senhores
 
A Universidade de Évora, instituindo o Prémio Virgílio Ferreira, em homenagem a um dos grandes escritores deste século com uma profunda ligação a esta cidade, tem premiado autores de língua portuguesa, que se distinguiram, pelo conjunto das suas obras, no ensaio e na narrativa. Depois de distinguir Maria Velho da Costa e Maria Judite de Carvalho, assistimos este ano à sua atribuição, ao escritor moçambicano Mia Couto, autor de uma interessante obra reconhecida e já traduzida em diversas línguas, facto que tem particular significado, por se tratar de uma escolha de entre as propostas apresentadas por Universidades onde se realizam estudos de Literatura Portuguesa.

Com a instituição deste Prémio a Universidade de Évora acentua a sua ligação indissociável entre a educação, a ciência e a cultura, reforçando ainda as suas ligações ao Mundo Lusófono e às suas culturas, que se tem aqui traduzido no estudo das Literaturas Brasileira e Africana de expressão portuguesa e nas relações mantidas com Universidades brasileiras e com a Universidade Eduardo Mondlane, do Maputo.

Quero aproveitar esta ocasião para saudar a Universidade de Évora pela passagem do seu vigésimo quinto aniversário e felicitar-vos pelo vosso contributo para a renovação e expansão do ensino superior em Portugal.

É conhecido o meu interesse pela educação em Portugal. Este ano venho dedicando e vou continuar a dedicar especial atenção ao ensino superior. Tenho sublinhado a importância que atribuo ao alargamento e à democratização do acesso a este nível de ensino e a minha preocupação com a necessidade de pensar o modo de crescimento da rede de instituições públicas e privadas, as exigências da modernização e renovação pedagógicas.

Tenho seguido com interesse os desafios que constituem para o ensino superior o seu papel no domínio da educação ao longo da vida, bem como o contributo para o desenvolvimento cultural, económico e social das regiões. Por isso, quero manifestar o meu apreço pelo papel que as "Universidades Novas" tiveram na fixação da população jovem às suas regiões, com ganhos para o desenvolvimento, para o rejuvenescimento e para a animação cultural das cidades. Essa função da Universidade é particularmente visível em Évora.
 
 
Meus Amigos:
 
Felicito, com muita simpatia, Mia Couto que, desde 1983, nos vem dando uma notável obra que expressa a sociedade e cultura moçambicanas a sua realidade e os seus mitos. Essa obra tem contribuído muito para renovar a língua portuguesa e a literatura africana. O Prémio Vergílio Ferreira, que hoje lhe é atribuído, vem distinguir uma personalidade de grande destaque e projecção no universo da lusofonia.

A revitalização da língua portuguesa é feita por todos os povos que a falam, na diversidade tão enriquecedora das suas culturas, histórias, experiências. Com o Prémio hoje entregue, muito justamente, a Mia Couto a Universidade de Évora assinala também a renovação e criatividade da linguagem e da literatura deste autor, como bem foi evidenciado na alocução da Senhora Prof. Doutora Eunice Cabral.

A singularidade da sua obra, no panorama das formas literárias e artísticas do universo lusófono, terá de ser entendida numa pluralidade, onde co-existem tradições e culturas locais e inter-influências cosmopolitas.

Esta diversidade é vital no quadro da literatura de língua portuguesa, pois como Mia Couto tão bem expressou, num seu livro de estórias, cito: "A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça".