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Discurso de SEXA PR por ocasião da Sessão de Abertura do Seminário "O Ensino Superior Politécnico e o Desenvolvimento do País"
Lisboa
É com muito prazer que participo neste seminário em que o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, numa atitude de abertura, se propõe ouvir autarcas e empresários. O ensino politécnico pode desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento social, económico e cultural do país e das suas regiões e acredito que os diálogos com a sociedade são decisivos.
Sabemos todos como a educação e a formação são sectores fundamentais para que se responda aos desafios que se colocam às nossas sociedades. Desafios que exigem maior conhecimento e preparação, mais cultura, maior capacidade de participação cívica e de intervenção para a resolução dos problemas sociais, maior capacidade de entender o mundo em que vivemos. Em toda a Europa vivem-se momentos de grande preocupação com o futuro. Permitam-me que relembre o Conselho Europeu de Lisboa, realizado em Março de 2000. O papel das instituições de ensino superior foi considerado central para a construção de uma Europa do conhecimento, mais competitiva. Em documento europeu recente, considera-se que o ensino superior detém sob vários pontos de vista a chave da economia e da sociedade do conhecimento por se encontrar na intercepção da investigação, da educação e da inovação. A fragilidade da situação portuguesa exige uma redobrada atenção. Temos de assumir a inovação como uma prioridade, como um desígnio nacional e como uma urgência. O país tem de ter uma política de inovação, sem a qual o desenvolvimento não é viável. Trata-se de uma área que tenho acompanhado com o maior interesse ao longo dos meus mandatos por acreditar que nela se encontra a chave do nosso futuro. Realizei muito recentemente uma jornada dedicadas à Inovação, visando assim dar a conhecer melhor o nosso país sobre este prisma e incentivar novos desenvolvimentos. Nas deslocações efectuadas, visitei projectos em curso que me fazem ter confiança nas capacidades dos portugueses. Nas escolas, nas empresas, e em diversas instituições especializadas encontrei espaços onde se ensina, se forma e qualifica, se investiga e procura desenvolver com sucesso novos produtos, serviços e tecnologias. Tenho seguido com interesse o esforço realizado pelo nosso país na formação avançada. O número de jovens cientistas portugueses já formados que poderão trabalhar no nosso país é encorajador. Há razões para acreditar que podemos vencer as nossas debilidades. Somos, é certo, um país pequeno e com poucas competências em áreas novas, mas fomos capazes de surpreender o mundo em vários momentos. Não há, por isso, nenhuma fatalidade histórica que nos condene a um irremediável atraso neste domínio. Para vencer este atraso é preciso unir esforços e aglutinar iniciativas. Patrocinei recentemente a criação da COTEC-Portugal que pretende agir como um catalisador e motivar para a inovação como instrumento fundamental do desenvolvimento do País, contribuindo assim para a sua maior coesão económica e social. É isso que continuamente tenho defendido, procurando alertar para a importância da inovação. Para além de uma actividade económica inovadora e de um tecido empresarial competitivo, o desenvolvimento regional significa também trabalho de formação e inovação em sectores como a protecção do património ambiental e paisagístico; a preservação de heranças culturais e símbolos de identidade colectiva; a reabilitação criteriosa do património edificado; a busca de qualidade de vida para as populações; o combate contra vulnerabilidades sociais e formas injustas de desigualdade social; a capacidade de integração dos que foram marginalizados. A cooperação das escolas com as autarquias é decisiva. Tenho consciência de que há ainda muito a pedir em termos de inovação às Universidades, aos Institutos Politécnicos, à classe empresarial e às autarquias. Mas é indispensável que os sistemas científico, tecnológico, empresarial e financeiro se articulem, fortalecendo o relacionamento entre a produção do conhecimento e o tecido económico, social e cultural. Temos por isso que vencer os inúmeros obstáculos que se colocam ao relacionamento entre estes sectores.
O tempo, hoje, é de balanço em matéria de ensino superior universitário e politécnico. Saúdo o debate que se tem desenvolvido um pouco por todo o país e do qual todos esperamos importantes resultados. Os desafios desta hora exigem das instituições o desempenho de novas missões, novas formas de governo e maior eficácia na avaliação dos resultados produzidos. A capacidade de abraçar novas missões exige porém o reconhecimento e valorização dos recursos que temos.
A criação do ensino politécnico abriu novas possibilidades de expansão e democratização do acesso ao ensino superior. Parece-me justo sublinhar o esforço e exigência então colocados ao nível da construção e reconversão de espaços, da aquisição de equipamentos e da formação de um corpo docente próprio. Existe hoje um parque escolar de que nos devemos orgulhar, novas áreas de formação e mais oportunidades de estudo para os jovens portugueses. Graças a este enorme esforço do país temos hoje cerca de cem mil jovens a frequentar escolas politécnicas. É grato verificar hoje a fixação de jovens nas cidades do interior, bem como o real impacto na economia local e regional. O ensino politécnico trouxe igualmente contributos ao desenvolvimento educativo, cultural e artístico das populações em especial no interior. O ensino superior politécnico tem sido ainda um factor de combate à desigualdade do acesso das populações à cultura, à ciência e a tecnologia e também a única parte do sistema científico e tecnológico nacional a que várias regiões têm acesso.
São importantes os progressos alcançados. Seria inaceitável reduzir a capacidade instalada, porque ela é potenciadora da inovação, do desenvolvimento tecnológico e educativo e da criação artística e cultural. Porque, ao contrário do que muita vezes se diz, não temos diplomados a mais. É preciso, isso sim, desenvolver ainda mais a nossa capacidade de formação reconvertendo-a e encontrando novos caminhos quando tal for necessário. A diminuição do número de candidatos provenientes do ensino secundário não deverá levar à desinstalação das capacidades existentes, mas sim ao seu reaproveitamento, quer na formação e qualificação de adultos activos não certificados, quer na formação contínua e especialização de quadros, quer no desenvolvimento de plataformas cientificas, tecnológicas e artísticas de produção, transferência e multiplicação de inovações, indispensáveis às sociedades modernas. Mas o decréscimo do número de alunos exige um esforço de coordenação entre instituições de ensino superior racionalizando e tornando mais eficaz a gestão da formação inicial para permitir que sejam assumidas outras missões indispensáveis ao desenvolvimento do país.
Permitam-me que, ao terminar, vos proponha cinco desafios
É necessário exigir muito mais quer ao nível da definição de políticas e incentivos para o desenvolvimento da educação ao longo da vida, quer ao nível da organização das instituições e das práticas de formação. Há um esforço decisivo a pedir às instituições para que repensem métodos de ensino, organização pedagógica, formação e avaliação dos seus docentes. Em segundo lugar quero lançar um apelo às instituições de ensino superior politécnico e universitário para que estabeleçam entre si diálogos essenciais a uma melhor racionalização da oferta de formação inicial existente e ao desenvolvimento da investigação científica. O terceiro desafio diz respeito ao cumprimento da escolaridade obrigatória e à prevenção dos abandonos precoces da escolaridade e também à qualidade dos ensinos básico e secundário. Os níveis de abandono que temos são inaceitáveis num país europeu. Por outro lado os testes internacionais revelam graves dificuldades dos alunos portugueses na aprendizagem da matemática e da língua materna. Trata-se de uma situação que nos envergonha e que penaliza de modo muito grave os alunos. Seria importante que o Governo e as escolas de formação de professores estabelecessem contactos visando intervir para corrigir esta situação. É necessário intervir ao nível da formação contínua dos professores e de projectos de investigação e apoio à inovação. O quarto desafio que quero lançar, tanto aos senhores empresários e autarcas aqui presentes como aos Institutos Politécnicos, diz respeito ao reforço das interacções entre as escolas, as autarquias e as empresas fazendo surgir novos instrumentos de inovação indispensáveis ao desenvolvimento económico e cultural e de coesão social. Felicito-vos pela realização deste seminário, revelador da vontade de cooperação. É necessário reforçar algumas linhas de trabalho que tenho encontrado nas visitas que efectuei a Institutos Politécnicos, designadamente a ligação estratégica às autarquias; o apoio à inovação nas pequenas e médias empresas e outras instituições regionais, com especial relevância para o desenvolvimento de redes e aplicações informáticas e de comunicações, estudos de impacto ambiental, gestão e marketing. O quinto desafio diz respeito à necessidade de organizar a formação a pensar no espaço europeu de ensino superior e não exclusivamente numa perspectiva nacional. O processo de Bolonha, catalisador de reformas em vários países que a ele aderiram, deve ser também para nós um desafio traduzido em acções e metas concretas.
Quero deixar-vos uma palavra de estímulo para que prossigais este diálogo essencial entre instituições de ensino superior, autarquias e empresas que, estou certo, dará frutos muito positivos. Bom trabalho! |