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Conferência sobre Ordenamento do Território e Revisão dos PDM
Figueira da Foz
1. Oportunidade do debate sobre o território enquanto, recurso fundamental do País, num momento em que:
. é necessário interpretar correctamente as mudanças que estão a ocorrer no plano das dinâmicas populacionais e urbanas, sem o que o planeamento territorial e urbano não passa de um exercício formal e burocrático [e note-se, à volta deste tema já se geraram muitas ideias feitas, imprecisas e injustas, fazendo dos municípios bodes expiatórios para as insuficiências do País e de políticas nacionais]; . se torna indispensável, para um Estado pequeno e com fragilidades face à globalização, dispor de meios e estruturas territoriais que enfrentem eficazmente os novos desafios (como a atracção de investimento, a gestão de equipamentos públicos locais, o ambiente, as políticas de juventude e outras políticas sociais);
[Porque julgo oportuno este debate, que aliás sempre tenho incentivado, para ele na medida do possível também contribuindo, é que aqui estou. Agradeço o convite. Naturalmente não devo furtar-me a partilhar convosco as minhas preocupações nesta matéria tão sensível. As minhas preocupações e, porque não dizê-lo, a minha experiência.]
Com especial ênfase no tema da cidade e da vida urbana. A qualidade de vida urbana é, e será cada vez mais, uma das exigências prioritárias dos portugueses. Porque é cada vez maior a percentagem da população que vive em cidades e porque essa é uma das expectativas das classes médias. E porque a competitividade das actividades económicas depende também, e em medida crescente, da qualificação das cidades. Se tanto pugnei para que a elaboração da 1ª geração se processasse dentro de um enquadramento estratégico, devo agora, por maioria de razão, insistir neste ponto. É fundamental que os PDMs equacionem as potencialidades de desenvolvimento de cada concelho e apontem as opções e projectos estruturantes que as viabilizem. Importa que definam as redes de equipamentos que pretendem implementar e sejam rigorosos na identificação das áreas de preservação/valorização ambiental dos espaços urbanos e rurais. 2. O planeamento estratégico não são porém os PDMs que, por si sós, o garantem.
Ora aqui está exactamente uma ideia feita, um risco. De facto, seria um erro de perspectiva pensar que esse objectivo maior podia ser alcançado por obra e graça de um PDM, por mais cuidado posto na sua elaboração Uma estratégia municipal é o resultado de um trabalho contínuo de definição de prioridades e criação de oportunidades e parcerias, enquanto o PDM será sempre um instrumento estático, dada a sua natureza regulamentar ainda que incorpore dispositivos de flexibilização adequados.
Não seria realista pedir aos municípios em causa que elaborem "planos intermunicipais", que suporiam aprovações conjuntas para as quais as actuais instituições representativas não têm competências nem legitimidade decisória. Mas devemos esperar que os municípios encontrem formas exigentes de compatibilização inter-municipal, de carácter voluntário, que, através de estratégias para o conjunto estabelecidas em comum, corrijam tendências autistas que têm sido denunciadas em relação às práticas passadas, agravando as situações de desigualdade de condições e oportunidades de que, a médio prazo, sofrerá todo o conjunto.
É um desafio crucial. Porque põe à prova dois princípios: . o princípio da descentralização – transferindo atribuições, competências e recursos para entidades de base territorial; . o princípio da diferenciação – tratando de forma distinta situações territoriais também diferentes.
. uma escala geográfica de intervenção pública mais eficaz e mais ajustada ás necessidades específicas de cada comunidade;
Devo porém reconhecer que é preciso criar condições – elas efectivamente não o estão – para que este desafio crucial seja respondido com êxito. Condições políticas [efectivamente elas não dependem só da legislação].
Ora o ponto delicado do processo, actualmente em curso, de definição de novas unidades territoriais, é que se não pode deixar de exigir que ele seja conduzido com visão estratégica e liderança política consensual ao nível nacional. Se esta visão estratégica do território nacional não for garantida, diversos riscos se podem correr, diminuindo as capacidades nacionais ou as potencialidades locais, enfraquecendo em vez de fortalecer a acção pública nacional e local.
Formulei esse apelo solenemente perante a Assembleia da República no dia 25 de Abril. Faço-o hoje aqui, de novo. A coesão e competitividade dos territórios é um recurso nacional que não pode ser desbaratado. Não podemos tornar mais frágil o nosso território, deixando que nele se instalem configurações aberrantes, sem escala nem pertinência. Pelo contrário, precisamos de um território mais integrado, mais equitativo, com mais competências e portanto mais competitivo. Creio que todos concordarão comigo que esta oportunidade não pode ser desperdiçada. A definição de espaços jurídico-administrativos serve para potenciar os territórios enquanto espaços de acção e de interacção, não para os tolher ou diminuir.
Neste ponto temos que ser ambiciosos, colocar a fasquia mais alto, ser capazes de ir mais longe na concertação e, portanto, mais longe também tanto na formulação dos projectos como na reunião de capacidades operacionais. Temos, em suma, de fazer dos territórios entidades inteligentes, dinâmicas, eficientes.
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