Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Entrega do Prémio Camões

Mosteiro dos Jerónimos
10 de Julho de 2003


A presença do Presidente da República Federativa do Brasil, que muito agradeço, nesta cerimónia, singela mas tão significativa, põe em evidência aquilo que o Prémio Camões é: símbolo de uma grande comunidade linguística que se estende por todos os continentes e a que correspondem culturas variadas e literaturas de uma imensa riqueza.

Ao atribuir este galardão a Rubem Fonseca, o Júri distingiu um grande escritor brasileiro, autor de uma obra singular pelo realismo feroz, pela inventiva verbal, pela imaginação narrativa, pela temática existencial, pelo humor inteligente e implacável. Por motivos de saúde, Rubem Fonseca não pode estar hoje entre nós. Mas é como se estivesse, na saudação calorosa que, em nome de Portugal, lhe dirijo, através de sua filha que o representa e que cumprimento cordialmente. Sei que o grande escritor deseja vir conhecer a terra dos seus antepassados. Enquanto esperamos por ele, desejamos-lhe o rápido restabelecimento da saúde e renovamos-lhe a nossa homenagem e o nosso reconhecimento pelo enriquecimento que tem trazido à língua portuguesa.

Símbolo da nossa língua, através dos escritores que a recriam e revigoram, o Prémio Camões deve ser um momento privilegiado para a sua afirmação. Pelo seu significado, alcance, horizonte e valor, trata-se de um prémio literário que pode ser considerado ao nível dos grandes prémios literários do mundo. Além do mais, um Prémio que já foi atribuído a Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto, José Craveirinha, Vergílio Ferreira, Raquel de Queirós, Jorge Amado, José Saramago, Eduardo Lourenço, Pepetela, António Cândido, Sophia de Mello Breyner, Autran Dourado, Eugénio de Andrade, Maria Velho da Costa e Rubem Fonseca, tem uma história ilustre e distinguiu autores e obras de mérito e renome universal.

Não há, pois, nenhuma razão para que o Prémio Camões não tenha uma projecção lusófona e internacional à altura do sua importância e do seu prestígio. Devemos juntar esforços para que tal aconteça. E estamos todos de acordo que a tal corresponda a concretização de uma política de afirmação do português, mais concertada e mais eficaz, de modo a que a nossa língua comum ocupe o lugar que, de direito, lhe cabe pela sua história e pela sua irradiação.

Renovando a minha saudação ao nosso homenageado deste ano, agradeço reiteradamente a presença do Presidente Lula da Silva e também dos representantes de todos os países que falam o português. Língua pelo mundo repartida, é nela que dizemos uns aos outros o afecto que nos une e a responsabilidade que assumimos e partilhamos de a afirmar no mundo uno e diverso do nosso tempo.