Discurso de SEXA PR por ocasião do Banquete Oficial oferecido em sua honra pelo Presidente da República da Eslováquia, Rudolf Schster

Bratislava
01 de Julho de 2003


Senhor Presidente da República da Eslováquia
Excelentíssima Senhora Irena Schusterová
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Quero antes de mais exprimir os meus sinceros agradecimentos pelas suas palavras, que tanto me sensibilizam e honram o país que represento. Agradeço-lhe também, em nome de Minha Mulher, de todos os que me acompanham nesta visita e no meu próprio, a cordial hospitalidade e as atenções que nos têm sido dispensadas desde a nossa chegada a Bratislava.

É com profunda satisfação que me encontro nesta magnífica cidade, em visita de Estado à República da Eslováquia. São várias as razões deste contentamento. Antes de mais, trata-se da primeira visita de um Chefe de Estado Português desde que o povo eslovaco recuperou a liberdade e a democracia. Depois, Bratislava representa o término de um périplo pelas jovens democracias de leste que iniciei em 1996, quando a sua adesão à União Europeia era ainda uma meta longínqua e incerta. Por último, os resultados notáveis alcançados pela Eslováquia ao longo de um difícil processo de transição política, económica e social. E se a estas razões fosse permitido adicionar uma outra, de cariz mais pessoal, acrescentaria que é também a primeira vez que me encontro em Bratislava, cidade que desde já me cativou com o seu semblante acolhedor de parente remota, em que os ecos passados de uma história comum nos prendem e nos atiram decididamente para o futuro.


Senhor Presidente

Esta minha visita testemunha a determinação e o empenho de Portugal em desenvolver o relacionamento bilateral luso-eslovaco, em reforçar os laços de amizade entre os nossos dois povos e em aprofundar a cooperação com a República da Eslováquia nos mais diversos planos – político, cultural, económico e comercial.

Acompanha-me uma importante delegação composta por membros do Governo, deputados pertencentes aos quatro partidos políticos mais importantes com assento no nosso Parlamento, responsáveis da Administração Pública, representantes de importantes meios de comunicação social e uma expressiva delegação económica, a qual demonstra bem o nosso firme propósito de reforçar as nossas relações e desenvolver novas áreas de cooperação entre eslovacos e portugueses.

O momento não podia ser mais oportuno para relançar as relações entre os dois países e imprimir-lhes uma dinâmica voluntarista, forte e determinada: Portugal e a Eslováquia são agora Estados parceiros na NATO e na União Europeia. Pertencem à mesma comunidade, participam nos mesmo foros de diálogo e de concertação internacional, estão determinados com o mesmo empenho na unificação do continente europeu, na convicção de que os une um destino comum.

Ao nível das nossas relações bilaterais há que aproveitar o dinamismo criado pela integração da Eslováquia na União Europeia para explorar novas solidariedades e consolidar o nosso entendimento comum. Somos ambos Estados de dimensão média com interesses complementares que ganharemos em articular.

Portugal sempre apoiou sem reservas o alargamento. Por dever de solidariedade, porque a integração europeia nos proporcionou condições para consolidar a democracia, modernizar o país e garantir o progresso social e económico. Por uma percepção estratégica, porque a globalização não se compadece de sociedades isoladas e de economias fechadas. Mas, acima de tudo, por convicção, porque acreditamos numa Europa aberta, livre e unida.

Temos a fortuna de viver o momento histórico da unificação da Europa. A prossecução deste objectivo tem mobilizado os esforços de todos os europeus na última década, mas foi um movimento iniciado há cinquenta anos, quando a Europa agonizava ainda nos escombros da guerra. Graças à extraordinária visão política dos chamados "Pais Fundadores", que desde então guiou a construção europeia, formamos hoje uma comunidade de povos unidos em torno de um conjunto de valores e princípios que partilhamos.


Senhor Presidente

Ignorar as marcas que a história trágica da segunda metade do século XX infligiu aos povos da Europa central e de leste seria cometer um erro grosseiro. Mas comprometeríamos o futuro se ficássemos prisioneiros do passado. Os resultados do referendo relativo à adesão à União Europeia, recentemente aqui realizado, testemunham a maturidade do povo eslovaco e são um sinal inequívoco de que, a seu ver, o futuro é na Europa, ou não é.

Àqueles que receiam que a adesão à União Europeia atente contra a soberania e prejudique a identidade nacional, gostaria de lhes dizer que a integração europeia favoreceu nos portugueses um sentido moderno do exercício da soberania e renovou os ideais patrióticos, foi ocasião de reforço da identidade nacional, motivou um aumento da auto-estima e aumentou a projecção internacional do país. Como tenho por hábito lembrar, com a integração, os portugueses tornaram-se mais europeus, mas sentiram-se mais portugueses.

Para construir uma Europa forte, em que todos os europeus se reconheçam, dotada dos instrumentos políticos que lhe permitam desenvolver-se e afirmar-se no mundo, precisamos, justamente, de cidadãos europeus orgulhosos da sua identidade e história nacional – como se lê no Preâmbulo do projecto da futura Constituição Europeia -, determinados a “unirem-se na sua diversidade”, sem a qual o projecto europeu perderia, de resto, todo o sentido.

A concepção de Europa que perfilho é inseparável de uma identidade e de uma cidadania europeia, que não se opõem porém à cidadania e identidade nacionais, mas antes as complementam e amplificam. Sei que eslovacos e portugueses partilham a mesma visão da Europa, assente no princípio da igualdade entre os Estados, no respeito pela diversidade cultural e linguística, nos valores da liberdade, da igualdade de oportunidades, da solidariedade e da qualidade de vida. Estou confiante de que juntos saberemos contribuir para a adequada evolução do projecto de integração europeia, caminho indispensável de modernização, prosperidade e paz.

Peço a todos que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais do Presidente e da Senhora Irena Schusterová, pelo progresso crescente da República da Eslováquia e por uma Europa cada vez mais unida, coesa e solidária.