Discurso de SEXA PR por ocasião da Cerimónia de Entrega do Grande Prémio do Romance e Novela da APE à Escritora Lídia Jorge

Tróia
26 de Julho de 2003


É com muito gosto que, mais uma vez, cumpro este já tradicional ritual de verão que é vir a Tróia entregar o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Começo por cumprimentar o Presidente da APE, o meu querido e velho amigo José Manuel Mendes, que com tanta dedicação tem servido a causa da dignificação da actividade literária e dos que a exercem. Quero saudar todos os escritores portugueses, estejam ou não aqui presentes, dizendo-lhes quanto admiro o seu labor e agradecendo-lhes o contributo que dão ao prestígio de Portugal e da nossa cultura.

Desejo ao fazer esta saudação, evocar a memória de Augusto Abelaira, grande escritor e meu saudoso amigo, que recebeu tão justamente este Grande Prémio em 1996 e que recentemente nos deixou. A sua lembrança permanecerá entre nós como um exemplo de integridade intelectual e do tão necessário exercício do espírito crítico. Quero ainda agradecer a todos os que tornaram possível este Grande Prémio e aos nossos anfitriões que com tanta simpatia nos acolhem aqui anualmente.


Minha Cara Lídia Jorge,

O Grande Prémio deste ano veio distinguir o seu livro "O Vento Assobiando nas Gruas". Fê-lo com inteira justiça. Embora eu saiba que os escritores não escrevem para receber prémios, é bom sabermos que o que nos dão é apreciado, reconhecido e agradecido. Um prémio literário no fundo é isso: o saldo de uma dívida de gratidão. De facto, Lídia Jorge tem-nos dado imenso. Desde o seu tão belo livro de estreia, o Dia dos Prodígios, até a este premiado, foi realizando uma obra marcada pela grande qualidade estética, pelo desejo de compreender o mundo e o tempo em que nos é dado viver, por uma concepção de cultura como herança que se avalia e acrescenta. Sou admirador de Lídia Jorge. Hoje, quero reafirmar-lhe, em nome de Portugal, a nossa profunda gratidão pelos seus livros, que tantas horas de prazer e de proveito nos têm dado, alargando o nosso conhecimento da vida. Lídia Jorge pertence a uma geração que tem renovado a literatura portuguesa. Muitas vezes fá-lo no feminino.

Sabendo embora que a literatura visa o universal, esta circunstância merece ser sublinhada, pois é sinal de que a sociedade portuguesa mudou muito nos últimos anos. É bom que continui a mudar no sentido da maior dignidade de todos, da igualdade de direitos e da liberdade, que é sempre o fermento do progresso em todas as suas formas.

Para isso, precisamos de investir mais na cultura, considerando-a não uma coisa acessória ou secundária, mas prioritária e fundamental. É nos tempos de crise que as grandes escolhas se fazem. Escolher a cultura, a educação e a ciência é escolher um Portugal com futuro e apostar na qualificação dos portugueses.

Agradeço muito a vossa hospitalidade e renovo as minhas felicitações à escritora premiada.