Brinde de SEXA PR por ocasião do Banquete Oficial oferecido em honra do Presidente da Confederação da Suiça, Dr. Pascal Couchepin

Palácio Nacional da Ajuda
01 de Setembro de 2003


Senhor Presidente da Confederação Suíça
Excelentíssima Senhora de Pascal Couchepin
Excelências
Minhas Senhoras e meus Senhores

Representa uma honra e motivo de grande satisfação receber Vossa Excelência, Sua Excelentíssima Mulher e a comitiva que o acompanha nesta sua Visita de Estado a Portugal. Em nome dos Portugueses e no meu próprio, quero, apresentar-lhe, Senhor Presidente, calorosas saudações de boas-vindas e formular votos de uma agradável e profícua estada entre nós. Estou seguro de que esta visita contribuirá para aprofundar mais ainda o excelente relacionamento bilateral luso-suíço e para reforçar os laços de amizade que unem os nossos dois povos.

Guardo da visita de Estado que efectuei à Suíça, em Setembro de 1999, vivas recordações, apesar de os trágicos acontecimentos então ocorridos em Timor-Leste me terem levado a antecipar o regresso a Lisboa. Não esqueci, de resto, a compreensão manifestada pelas autoridades suíças perante tão gravosa situação bem como os gestos de repetida solidariedade que tiveram para com Portugal e o Povo timorense.


Senhor Presidente

Passaram desde então quatro anos, entrou-se no século XXI. A efeméride não foi apenas simbólica, mas corresponde também a uma alteração do curso da história. Com o virar do século, voltou-se uma página do nosso viver colectivo. O 11 de Setembro e a barbárie inominável que lhe está associada apanhou-nos desprevenidos, pondo a descoberto uma situação internacional conturbada e uma Comunidade Internacional pouco preparada para enfrentar os novos riscos e ameaças que caracterizam a nossa época.

Infelizmente, a condenação praticamente unânime dos atentados terroristas a que se assistiu, o extraordinário movimento de solidariedade de alcance quase universal então desencadeado e as medidas tomadas não parecem ter resultado num suficiente reforço da Comunidade Internacional nem numa sua reorganização, capaz de garantir mais paz, mais estabilidade ou mais justiça no mundo.
Ora, precisamos justamente, pelo menos é esta a minha convicção, de mais diálogo multilateral, mais concertação regional, mais cooperação e maior solidariedade. Precisamos de uma legalidade internacional reforçada, que nos permita agir de concerto e desenvolver as bases de uma governação mundial sustentável.

No nosso mundo globalizado, há cada vez menos lugar para posições isoladas ou para acções motivadas por propósitos puramente unilaterais. A globalização tornou claro que o Pacto Social, que Rousseau coloca no cerne da nossa organização social e política, será tanto mais preservado quanto os nossos Estados assegurarem uma participação activa e empenhada na vida internacional, nos diferentes fora que a constituem. Por isso, é-me particularmente grato saudar a recente adesão da Suíça às Nações Unidas, que recordo como um dos factos marcantes de 2002.


Senhor Presidente

Portugal e a Suíça, embora com uma história e opções que por vezes acentuaram a distância imposta pela geografia, são, no entanto, ambos países europeus, que partilham valores comuns e interesses conjuntos fortes, apresentando um grande potencial de complementaridade.

O passado remoto e a evolução recente consagram, aliás, os laços estreitos que nos unem. Somos povos que mutuamente se estimam e respeitam. Inúmeros foram os portugueses que encontraram na Suíça um porto de abrigo, quando em Portugal o regime deposto em 1974 lhes negava os direitos humanos elementares. A esmagadora maioria voltou com a Revolução dos Cravos e muitos são hoje personalidades marcantes da nossa vida política, intelectual ou artística. Alguns encontram-se aqui presentes, esta noite, em jeito de homenagem a uma história comum. Nos nossos dias, são ainda numerosos os compatriotas que rumam em direcção à Confederação, em busca de trabalho, uns com carácter sazonal, outros a título permanente. Sei que formam uma comunidade estimada e bem integrada. A vitalidade das nossas relações deve-lhes muito pois representam um dos grandes elos de ligação entre os nossos países.

A este respeito, não quero deixar de salientar o quanto a solidariedade que o Governo suíço manifestou para com as vítimas dos incêndios deste verão tocou os Portugueses, que viram neste gesto uma marca indelével da amizade que nos liga.

De resto, os nossos dois países estão hoje mais próximos do que no fim do século passado. A assinatura, em 2000, dos chamados Acordos bilaterais entre a Suíça e a União Europeia constitui, sem dúvida, um factor importante desta aproximação. Apraz-me salientar especialmente que, no âmbito da Livre Circulação de Pessoas, as disposições agora vigentes favorecem as condições de vida da extensa comunidade lusa residente na Suíça; ora melhorias desta natureza, trazendo uma maior qualidade de vida aos trabalhadores imigrantes, traduzem-se também em benefícios para o país de acolhimento e contribuem para o seu desenvolvimento.

Também no plano das relações económicas bilaterais se tem registado nos últimos anos um incremento das relações comerciais. Mas, podemos fazer melhor, assim como a nível dos investimentos directos recíprocos. Acredito que esta visita servirá outrossim para promover os contactos empresariais e para dar, de Portugal, uma imagem consentânea com a de um país moderno, com alguns sectores de excelência que poderão interessar os nossos parceiros suíços.


Senhor Presidente

Portugal, por clara e inequívoca opção política nacional, aderiu à União Europeia e tem participado na construção desta comunidade a título pleno e integral. A modernização, o desenvolvimento e a consolidação da democracia em Portugal escoraram-se em larga medida no processo de integração europeia. Pessoalmente, acredito que o espaço político, económico e social do futuro é europeu, ou não será.

Por conseguinte, entendo também que do sucesso da União Europeia derivará amplamente o sucesso de Portugal como Nação próspera, soberana e independente.

As opções políticas de um povo são tomadas em função da sua história, da visão que este forma do presente e do futuro que, num determinado momento, deseja para si. Correspondem a decisões livres, democráticas e soberanas que representam a vontade colectiva e, por isso, merecem o nosso respeito. Pela minha parte, entendo que a Suíça sempre ocupou um lugar ímpar na Europa, contribuindo para a sua unidade. Por isso, permito-me formular votos pessoais para que um dia a Confederação Suíça venha a participar plenamente na União Europeia, continuando a exercer esse papel insubstituível no seio desta comunidade de Estados e de Povos.

Não creio errar se disser que há muito mais a unir-nos do que a separar-nos. Quero crer que, se juntarmos os nossos esforços, conseguiremos delinear uma via de equilíbrio que crie as condições para que os nossos jovens de hoje sejam amanhã cidadãos do mundo, orgulhosos da Europa a que pertencem e empenhados na defesa dos valores universalistas da paz, da justiça e dos direitos humanos que constituem o âmago da nossa identidade.

Que melhor forma de transmitir este desejo de paz para o mundo e para as nossas sociedades, de reencontro dos nossos povos na partilha de uma cultura comum do que evocar os magníficos filmes sobre Lisboa do realizador suíço Alain Tanner ?

Termino reiterando as boas vindas a Vossa Excelência, saudações que, naturalmente, são extensivas a Sua Excelentíssima Mulher e à comitiva suíça. Peço a todos que me acompanhem num brinde pelas felicidades pessoais de Sua Excelência o Presidente da Confederação da Suíça e da Senhora de Pascal Couchepin, pela prosperidade da Suíça, pelo fortalecimento dos laços de cooperação e de fraternidade entre os nossos dois povos.