Nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1924.
Pais: João Lopes Soares (ministro das Colónias
- 1925; proprietário do Colégio Moderno); Elisa Nobre Baptista.
Cônjuge: Maria de Jesus Barroso.
Formação: Colégio Moderno, 1935-1942; Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 1942-1951 (licenciatura em Histórico-Filosóficas);
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 1952-1957 (licenciatura em Direito).
CARREIRA
Profissão: advogado (desde 1957).
Cargos:Direcção Académica das Juventudes Comunistas de Lisboa
(1944-45);presidente do MUD juvenil (Movimento de Unidade Democrática) (1945-1948);
secretário do general Norton de Matos (1949);Comissão Central de Apoio a
Humberto Delgado (1958);ASP (Acção Socialista portuguesa) (1964-1973);
cabeça de lista da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática)-Lisboa
(1969);professor nas Universidades de Vincennes e Rennes (1970-1974);Secretário-geral do PS
(Partido Socialista) (1973-1985); vice-presidente da Internacional Socialista (1974-1985);
ministro dos Negócios Estrangeiros (I-II Governos Provisórios);
ministro sem pasta (III-IV Governos Provisório, 1974-1975);
primeiro-ministro (I e II Governos Constitucionais, 1976-1978 e IX Governo
Constitucional, 1983-1985);presidente da Fundação Mário Soares e conselheiro
de Estado (1996).
ELEIÇÕES E PERÍODO PRESIDENCIAL
A 26.1.1986 na 1.ª volta das eleições presidenciais
Mário Soares obtém 25,43% (1 443 683 votos), face aos 46,31%
(2 629 597 votos) de Freitas do Amaral, 20,88% (1 185 867 votos) de Salgado
Zenha e 7,38% (418 961 votos) de Lurdes Pintassilgo. Mário
Soares é eleito (51,18% - 3 010 756 votos) à 2.ª volta
a 16.2.1986, derrotando Freitas do Amaral (48,82% - 2 872 064 votos).
Foi reeleito a 13.1.1991 (70,35% - 3,459 521 votos). Os candidatos
derrotados foram Basílio Horta (14,16% - 696.379 votos), Carlos
Carvalhas (12,92% - 635 373 votos),e Carlos Marques (2,57% - 26 581 votos).
Foi Presidente da República de 9.3.1986 a 11.3.1996.
OBRAS PUBLICADAS
As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, Lisboa,
1950; A Justificação Jurídica da Restauração
e a Teoria da Origem Popular do Poder, Lisboa, 1956; Escritos Políticos,
Lisboa, 1959; Le Portugal Baillonné, Paris, 1973; Portugal Amordaçado,
Lisboa, 1974; Entre Militantes PS, Amadora, 1975; Escritos do Exílio,
Amadora, 1975; Portugal's Sttrugle for Liberty, London; A Europa Connosco,
Lisboa, 1976; Crise e Clarificação, Lisboa, 1977; O Futuro
Será o Socialismo Democrático, Mem Martins, 1979.
Figura importante da oposição desde os anos 40.
Filho de João Soares, ministro das Colónias da I República,
que encorajou sempre Mário Soares no sentido do empenho político.
Por isso lhe foi possível ter demorado quase dez anos a concluir
o primeiro curso, e mais sete até se estabelecer como advogado -
actividade a que deu, também, um marcado cunho político -,
devido às suas múltiplas actividades políticas e correspondentes
prisões. A sua trajectória independente do PCP desde
1950, aliada à projecção internacional alcançada
como advogado da família Delgado após o assassínio
deste (1965), consolidada pela deportação para São
Tomé (1968-1969) e subsequente exílio em Paris (1970-1974), deu-lhe
um peso crescente no movimento socialista internacional e a atenção
de importantes jornais estrangeiros. Foi na Internacional Socialista
que encontrou os apoios indispensáveis para fundar o PS(19.4.1973, Bad-Munstercifel,
RFA).
Regressa logo a seguir ao 25 de Abril, sendo triunfalmente acolhido
em Santa Apolónia (28.4.1974). Derrotou no primeiro congresso legal
(13 a 15.12.1974) a corrente esquerdista no interior do próprio
PS, e passou a concentrar interna e externamente grande parte das forças
determinadas em evitar um triunfo do PCP ou das correntes terceiro-mundistas.
Isto num processo que teve os seus momentos centrais: na vitória
do PS nas eleições para a Assembleia Constituinte (25.4.1975)
e a 1.ª legislatura (25.4.1976), na manifestação da Fonte
Luminosa (2.5.1975), que mostraram ser o PS o maior partido, nas urnas
e nas ruas. O processo político-militar acelerara-se com o
caso República (19.5.1975); o "Documento dos Nove" (19.6.1975);
e a saída de Soares e dos restantes ministros PS (21.6.1975) do
Governo Provisório, seguidos dos do PSD (23.6.1975); com clara coordenação
entre ele e esses militares moderados (e.g. manifestação
PS na Alameda a 23.11.1975) em apoio do "Grupo dos Nove".
A normalização começa com o 25 de Novembro de 1975
e a eleição de Ramalho Eanes com o apoio de Soares e do PS;
que por sua vez nomeia Mário Soares como ministro do I (23.7.1976)
e II Governos Constitucionais (30.1.1978). Inicia-se assim uma relação
política, cada vez mais tensa, até à ruptura definitiva
de finais de 1980; levando Soares, que não conseguiu convencer o
resto da direcção do partido a retirar o apoio à recandidatura
de Eanes, a auto-suspender-se (19.10.1980 a 10.12.1980) das funções
de secretário-geral do PS. A revisão constitucional
dos poderes presidenciais (12.8.1982), pelo PS-PSD-CDS, por si promovida,
foi a sua resposta ao problema. Soares vem ainda a presidir ao governo
do "bloco central" (Junho de 1983) que termina no dia seguinte à assinatura
do tratado que concretiza aquele que desde 1976 fora o seu grande projecto
político: a adesão à CEE (12.6.1985). A impopularidade
provocada pela política de austeridade seguida durante esse período
levou:
1) O PS à sua maior derrota de sempre, nas legislativas de 6
de Outubro de 1985 - em que já tinha sido substituído, como
secretário-geral, na mesma data (27.7.1985) em que anunciara publicamente
a sua intenção de se candidatar à Presidência
da República;
2) A que as primeiras sondagens presidenciais lhe atribuíssem
apenas cerca de 8% das intenções de voto. Acabou,
no entanto, por vencer as mais disputadas eleições presidenciais
portuguesas. Na primeira volta (26.1.1986) obtém 25,4%, face
aos 46,3% de Freitas do Amaral, mas foi o suficiente para ultrapassar os
20,9% do terceiro classificado (o seu antigo braço-direito, agora
candidato eanista, Salgado Zenha), e passar à segunda volta.
Nesta vence - por uma margem de 2% - Freitas do Amaral. No discurso
da vitória, nessa mesma noite, afirma-se Presidente de "todos os
portugueses", numa estratégia de pacificação dos ânimos,
bipolarizadíssimos pela campanha, e realçou também ser o primeiro
Presidente civil, em sessenta anos.
Os seus dois mandatos foram marcados pela chamada coabitação,
i.e: um presidente socialista, um governo PSD; ou, mais concretamente, pela
relação política do Presidente Mário Soares,
com o primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva (1985-1995).
Este fora o responsável pela queda do "b1oco central" e um apoio
fundamental de Freitas do Amaral, o que pareceria pouco auspicioso para
o bom funcionamento dessa relação. No entanto, quando
(3.4.1987) o governo minoritário de Cavaco Silva cai, Soares apercebendo-se
da popularidade deste, e sem simpatia por um governo coligando o PS com
o PRD (Partido Renovador Democrático), que lhe parecia frágil
e podendo motivar acusações de falta de isenção,
convocou eleições antecipadas (28.4.1987), que dão
ao PSD (Partido Social Democrata), a primeira de duas maiorias absolutas
no Parlamento. Durante esse XI Governo Constitucional, nem Cavaco
nem Soares parecem desejar, numa conjuntura muito favorável, envolver-se
em conflitos. A estabilidade era importante na perspectiva de eleições
que quer um quer outro iriam enfrentar. O Presidente Soares, desencadeia
a iniciativa inovadora das "Presidências Abertas", transferindo simbolicamente
o poder presidencial para capitais de distrito de norte a sul, com enorme
sucesso mediático e popular e em que se destaca a sua empatia com
as populações e os media, o que leva alguns a criticá-las
como sendo uma espécie de campanha eleitoral contínua.
Esta primeira fase da coabitação - relativamente pacífica
- mereceu o apoio da maioria do eleitorado, o que foi notório, na
nova maioria absoluta do PSD nas legislativas de 1991 e na vitória
esmagadora de Soares apoiado pelo próprio PSD nas presidenciais
de Janeiro de 1991.
Inicia-se então nova fase - mais conflituosa - da coabitação.
O Presidente Soares não mais podia ser reeleito e fora-o por uma
enorme margem - e não já os 2% de 1986 - estava portanto
menos condicionado nas suas acções de "árbitro".
A conjuntura degrada-se, a economia resvala para a recessão, e as
tensões sociais crescem culminando no gigantesco protesto, na Ponte
25 de Abril, conhecido por "Buzinão" (Junho de 1994). O XII
Governo Constitcional reage com reafirmações da sua autoridade face ao que
considera como formas ilegítimas de a pôr em causa. Enquanto
o Presidente Soares afirma haver sintomas de preocupante governamentalização.
Por sua vez, quando o Presidente da República veta, ou envia ao
Tribunal Constitucional legislação sensível - e.g.
Lei dos Disponíveis (Junho de 1992); leis dos Despedimentos e do Asilo
(Agosto de 1992) - isso foi visto e denunciado pelo PSD como uma forma indevida
de bloqueio na esfera de acção própria do Governo.
Mas, a popularidade de Mário Soares nas sondagens, sofrendo uma
certa queda, manteve-se sempre elevada, ao contrário da do primeiro-ministro
e do Governo.
Acusações de interferência partiram também
do interior do próprio PS. Mário Soares foi referido por
Vítor Constâncio (Outubro de 1988) aquando da sua demissão
de secretário-geral, como tendo posto em causa a sua autoridade
no interior do partido. E o seu patrocínio, em 1995, ao congresso
"Portugal que Futuro?" levou a acusações de estar a pôr em
causa quer o Governo, quer o então secretário-geral do PS,
António Guterres, tentando alegadamente pressionar este último,
para que adoptasse uma estratégia de frentismo de esquerda.
Também mereceram críticas, o que alguns consideraram ser,
o excessivo número e aparato das suas viagens ao estrangeiro, no
entanto invariavelmente um sucesso mediático. Críticas
aliás contrabalançadas por outras ao não aproveitamento
do seu prestígio externo pelo Governo.
Terminou o seu mandato corporizando o objectivo perseguido, pelos líderes
partidários desde o 25 de Abril, uma maioria parlamentar, um governo
e um presidente homogéneos, com a vitória do PS nas legislativas
(1.8.1995). E foi sucedido por outro socialista, que assumiu muito
do seu modelo de exercício da Presidência: poder moderador,
arbitral, e supra partidário; frequentemente caracterizado como
tendencialmente "monárquico" pela sua busca de consensos e pelo
gosto pelo ritual político.
Com a saída da Presidência da República (Março de
1996), assumiu a presidência da fundação com o seu
nome, que tem certas semelhanças com as bibliotecas presidenciais
americanas.